Podcast #055 – Dieta Cetogênica E Câncer, Com Dra. Janaína Koenen
A dieta cetogênica é uma dieta segura. Se ela aumentar a sobrevida em um mês, dois meses, três meses, que seja, evitando perda de massa magra, por que não fazer?
Esta é a minha pergunta para vocês: por que não fazer? Já que tem drogas super tóxicas no mercado, que têm que ser usadas porque não tem outra coisa, e às vezes a droga nunca vai curar, vai aumentar só a sobrevida.
O paciente não tem direito de viver mais, se ele quiser?”
O assunto de hoje é bastante sensível, e toca fundo no coração de muita gente: é o câncer.
Mais especificamente, vamos falar sobre a dieta cetogênica como adjuvante no tratamento do câncer.
E trazemos aqui uma convidada mais do que especial para tratar sobre esse assunto: a endócrino Janaína Koenen.
Ouça o podcast até o final para saber exatamente:
- como surgiu o interesse da Dra. Janaína no assunto de dieta cetogênica e câncer,
- a triste história pessoal da luta entre o pai da Jana e o câncer,
- por que faz sentido (biologicamente falando) usar a dieta cetogênica para ajudar a tratar o câncer,
- a história do cientista alemão que abriu o caminho para o uso da dieta cetogênica no tratamento do câncer
- as indicações de livros para quem quer aprender mais sobre câncer e dieta cetogênica,
- os possíveis mecanismos pelos quais a dieta cetogênica pode ser uma ótima escolha para ajudar a tratar o câncer,
- a surpreendente relação entre dieta cetogênica, câncer, e obesidade,
- quais tipos de câncer respondem melhor a uma dieta cetogênica,
- por que remédios para o diabetes têm sido usados para tratar o câncer,
- mas afinal, o que causa o câncer: mutações genéticas ou alterações metabólicas?
- o uso do jejum intermitente como adjuvante no tratamento do câncer,
- a luta pelo conhecimento e pela informação do paciente,
- se a dieta cetogênica pode ajudar a prevenir o câncer,
e muito mais.
Ele está disponível no player abaixo.
E queremos aproveitar este espaço para agradecer novamente a presença da Dra. Janaína Koenen no nosso podcast.
Porque, na nossa opinião, ela personifica a seguinte recomendação de Carl Jung:
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas — mas, ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”
Obrigado, Jana — por ser essa incrível alma humana.
E, a você que nos escuta, recomendamos duas ações:
A primeira é que siga a Dra Janaína no Instagram @janainaendocrino.
E a segunda é que se inscreva no nosso podcast para receber novos episódios todas as segundas-feiras. Aqui estão alguns canais comuns:
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Segue abaixo a transcrição completa do episódio.
Transcrição Completa Do Episódio
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Guilherme: Olá, Tanquinho! Olá, Tanquinha!
Sejam bem-vindos a mais um episódio do nosso podcast. A nossa convidada de hoje é a Dra. Janaina Koenen.
Você talvez já tenha ouvido o outro episódio dela.
Então você tem que ouvir aquele episódio (depois de ouvir este daqui), se você ainda não escutou.
Foi lá que a Jana falou um pouquinho da formação dela, se apresentou, e tudo o mais.
Então vamos direto ao assunto de hoje: a questão do câncer e da dieta cetogênica.
Jana, como foi que você começou a se interessar por esse tema espinhoso e sensível para tanta gente, que é o câncer?
Câncer E Dieta Cetogênica — De Onde Surgiu O Interesse
Dra. Janaina Koenen: Olá, pessoal! Olá, Tanquinhos e Tanquinhas! Olá, meninos!
Então, não é uma história muito feliz, infelizmente.
Mas quando eu estava estudando dieta cetogênica para o tratamento de enxaqueca, para o meu tratamento, para a minha vida, para a minha síndrome.
Eu tinha cólon irritável, fadiga…
(Vocês lembram do outro episódio? Acho que realmente vale a pena ouvir aquele podcast.
Tem muito da minha história lá.)
Mas, nessa época, eu cruzei com alguns estudos no PubMed.
Esses estudos, o fórum de artigos científicos peer reviewed, que são revisados por pares, que são os melhores artigos científicos.
Então eu estava buscando informação sobre low-carb, sobre dieta cetogênica na fonte e tentando encontrar o máximo de informação possível e eu vi uns artigos de câncer, sobre dieta cetogênica.
Falei: “Ah, eu não preciso ler isso agora”, mas eu baixei alguns artigos e deixei lá, sabe?
Eu tenho Dropbox, que eu guardo 150.000 artigos lá e ficam lá para eu ler depois, eventualmente.
Não era meu foco naquele momento.
Engraçado, por infortúnio, dois meses depois o meu pai foi diagnosticado com câncer no Réveillon — acho que foi em 2016 — e no dia 31 de dezembro ele não conseguia ficar com a gente na festa.
Ele estava com uma dor torácica muito forte e eu achei estranho aquilo: “Gente, dor torácica sem tosse, sem febre? Será que ele está com uma pneumonia? Idoso – ele tinha 76 anos, fumava muito”.
Aí eu falei: “Ah, vou fazer um exame amanhã”.
Levei-o ao pronto socorro no dia seguinte, onde eu trabalhava, e aí nós fizemos um Raio-X e tinha uma massa de todo tamanho no tórax dele.
Eu falei: “Puts, isso é um câncer”. Ai imediatamente já fez a tomografia.
Eu estava na sala do tomógrafo e o radiologista não sabia que era o meu pai e disse:
Ih, esse vai morrer em menos de um mês.”
E aquilo me bateu que eu saí da sala e ele estava me esperando, me olhando.
— Você vai me falar o que é agora!
E eu olhei para a cara dele. E ele perguntou:
— É um tumor, não é?
E eu falei:
— É.
E aí começou. E eu me lembrei daqueles estudos que eu não tinha dado atenção.
E, realmente, o tumor era gigantesco.
Invadia o tórax, amassava as artérias que saem do coração, tinha na axila já metástase pelo linfonodo.
Era um estágio 4, que é o pior estágio, um tumor muito agressivo.
Quando o cirurgião olhou, ele falou assim: “Inoperável. Não dá para operar, o prognóstico é muito ruim, ele deve morrer rápido. Remédio para a dor e muito amor e carinho”.
E aí a oncologista que, na época, foi um anjo na minha vida, muito aberta e muito estudiosa, me perguntou se eu já tinha ouvido falar da dieta cetogênica. Eu falei:
“Nossa, eu trabalho com isso, sou especialista nisso já há algum tempo e eu tenho alguns artigos sobre câncer.”
E ela: “Então, o tumor dele é muito agressivo. Talvez valesse a pena tentar”.
E aí eu comecei a ler obstinadamente tudo o que eu encontrei na literatura.
Eu tinha uma pilha de um metro de artigos aqui em casa.
E foi engraçado porque pouco tempo — antes ou depois, eu não lembro exatamente quando foi isso — teve um jornalista que morreu e eles falavam que não tinha nada na literatura.
E eu falei: “Gente, mas eu achei tanta coisa na literatura” (nós vamos falar sobre isso daqui a pouco)
Eu conversei com o meu pai e falei: “Olha, tem isso, sobre câncer e tratamento metabólico…”.
Os alemães estudam muito isso, há muito mais tempo que a gente — meu pai era alemão — então ele achou algumas coisas em alemão e isso deu mais confiança a ele (ele era muito desconfiado) e ele topou fazer a dieta cetogênica.
Foi muito difícil porque ele adorava carboidrato, ele comia o dia inteiro e fumava.
Ele parou de fumar e começou a dieta.
O convênio quase não autorizou a quimioterapia porque eles falavam que não ia adiantar, mas aí a oncologista batalhou — é uma oncologista muito boa aqui em Belo Horizonte, ela se chama Helena Cuba, muito, muito boa, muito dedicada — e conseguiu a quimioterapia.
Nós fizemos as primeiras sessões de quimio, fomos pesquisar todas as mutações possíveis para saber se ele tinha alguma mutação que tivesse alguma droga específica — porque hoje tem várias linhas de tratamento.
Tem um tratamento que se chama Imunoterapia, que você estimula o seu sistema imunológico a combater o seu próprio câncer, mas você precisa ter os anticorpos.
As mutações que sejam suscetíveis a isso também.
Tem a questão de drogas que você tem que ter as mutações que respondem a outras drogas.
E ele não tinha nada.
Nada funcionava, nada podia, nada resolvia.
Então realmente o prognóstico era muito ruim.
E nós começamos a fazer, mas, desde o princípio, eu sabia que não era um tratamento curativo porque o tumor era muito, muito grande: abraçava a aorta.
Eram dois tumores, na verdade, que se encontravam no meio do pulmão. Ele já tinha um derrame pleural, que é água no pulmão, então estava muito espalhado.
Então a ideia aqui era realmente prolongar a vida, para que ele não morresse em um mês.
O médico falou que ele morreria em um mês. Ele durou cinco meses.”
Eu acho que se o tumor não estivesse em volta dessas artérias, talvez ele tivesse durado mais.
Mas ele respondeu tão bem à quimioterapia, que foi um susto.
O convênio nem acreditou, ninguém acreditou.
Teve uma necrose de 30% do tumor — morreu 30% do tumor — só que isso causou uma inflamação muito grande e essa inflamação deu edema (inchou) e aí comprimiu mais aquela artéria.
Então acabou que a resposta boa, nesse caso, foi um problema. Ele teve que internar.
Meu pai, quando viu a tomografia, se assustou.
Vários médicos viam visitá-lo diariamente porque ninguém acreditava que ele não emagrecia, porque com esse tumor era para ele estar caquético.
Caquético e cadavérico. E ele estava bem!
Aí eu explicava que era a dieta cetogênica, e ninguém entendia.
Tiveram vários médicos, vários professores que vieram vê-lo e eles permitiram no hospital que ele internou que eu fizesse a dieta, o protocolo, e tudo mais.
Na época eu conhecia pouco sobre o assunto — eu estava começando a estudar sobre isso — infelizmente. Hoje eu sei muito mais.
E ele viu as imagens. Ele pediu para ver as imagens e quando ele viu, ele viu que não era curativo e desanimou, parou de fazer a dieta, ficou deprimido e aí uma semana depois ele morreu. Então é uma história sem um final feliz.
Mas isso me estimulou a estudar bastante sobre o assunto.
Eu acho que a resposta dele foi atípica, no sentido de que não era para ele ter melhorado, não era para ele ter durado tanto tempo, não era para ter tido uma necrose no tumor…
Essa necrose surpreendeu até o convênio, e o levou a autorizar a segunda leva de quimio, porque eles não queriam também autorizar — e depois que eles viram isso eles autorizaram.
Foi interessante ter uma oncologista que estudava de tudo, que buscou de tudo para ele e que estava aberta a estudar e a discutir os artigos que eu levava para ela.
E ela viu que não fez mal a ele o tratamento, então talvez fizesse bem.
Por que não tentar? Essa era a questão.
Então foi assim que eu comecei a estudar sobre câncer e dieta cetogênica.
Câncer E Dieta Cetogênica — Faz Sentido Biologicamente?
Roney: Ah, está certo, Jana.
Infelizmente não teve final feliz, mas foi bom que o tratamento teve uma melhor resposta.
E nós lembramos que quando teve a morte do jornalista Marcelo Rezende, algumas pessoas falaram que “não havia plausibilidade biológica da dieta cetogênica para combater ou atenuar o câncer”.
O que você pode dizer a respeito disso?
Dra. Janaina Koenen: O André Sasse que é o Coordenador do Centro de Evidências em Oncologia, da UNICAMP, falou na época, e foi taxativo.
(Inclusive, isso saiu na internet, vocês podem procurar.)
“A dieta cetogênica é totalmente anticientífica, assim como as dietas para alcalinizar o organismo. Não faz sentido do ponto de vista biológico. O tumor vai continuar crescendo.”
Ele falou isso, e ainda recentemente também se posicionou contra a dieta cetogênica.
Ele não reconhece que há plausibilidade biológica.
A plausibilidade biológica, pessoal, é quando existe algum sinal, algum estudo em animais, em células, tecidos — alguma coisa que dê substância, que dê força para nós fazermos pesquisas em humanos.
Por exemplo, o cigarro e o câncer de pulmão.
De onde veio a ideia de que o cigarro causava câncer de pulmão?
Alguns estudos observacionais mostravam uma relação acima de 20 — uma associação positiva — que é altíssima.
A maior parte dos estudos que falam que carne vermelha dá câncer é tudo abaixo de 1.
(Ou seja: não servem como boa evidência de que a carne faça mal — leia mais sobre isso aqui.)
Todo mundo sabe que esses estudos associativos, esses critérios de estudos observacionais, têm que ser acima de 2, para serem levados a sério.
O de câncer era 20. Então existe plausibilidade biológica para se estudar sobre isso.
Até então, as grávidas fumavam nas propagandas de cigarro.
E aí o que a gente sabe sobre a plausibilidade da dieta cetogênica?
Eu achei esse comentário muito infeliz — falo isso abertamente — porque quando nós entramos no PubMed para procurar artigos nós encontramos uma avalanche de estudos nos quais nós podemos encontrar boas respostas da dieta cetogênica para o tratamento do câncer.
Não digo que o que foi feito com esse repórter (o jornalista Marcelo Rezende) foi feito corretamente.
Não concordo com o que foi feito.
Jamais suspenderia um tratamento quimioterápico, jamais faria apenas a dieta cetogênica para tratar nenhum tipo de tumor.
Não há estudos que respaldem isso — pelo contrário.
Na verdade, o interessante da dieta cetogênica é ser usada como adjuvante.
Para ajudar no tratamento.
Ela é muito, muito interessante nesse sentido. Nós vamos falar sobre isso!
Agora, com relação à plausibilidade biológica, desde 1931 que existe plausibilidade biológica.
Câncer E Dieta Cetogênica — A História Do Otto Warburg
Então, nós temos um camarada que se chamava Otto Warburg.
Esse não foi qualquer pessoa.
Ele ganhou um prêmio Nobel e só não ganhou o segundo porque ele era judeu e ele seguia vivo na Segunda Guerra Mundial.
Mas ele foi tão importante que o Hitler manteve ele. Ele não foi morto, não foi preso, continuou trabalhando.
Ele ganhou um prêmio Nobel em 1931 e ele trabalhava com mitocôndrias e a cadeia respiratória das mitocôndrias.
Mitocôndria, para quem não sabe, é uma organela que fica dentro de cada célula do nosso corpo.
Parece um feijãozinho e tem várias membranas dentro dela.
Depois a gente pode postar um desenho ou alguma coisa na transcrição do podcast — e eu devo colocar algumas postagens no meu Instagram sobre isso também para ajudar a visualização.
Mas todo mundo estudou isso em Biologia na escola, das mitocôndrias.
Elas são a caixa de máquinas do nosso corpo, de energia; a casa de energia de cada célula do nosso corpo.
E esse Otto Warburg estudava as mitocôndrias.
E o que ele descobriu? Em 1924 ele descobriu que as células cancerígenas — de câncer, as neoplásicas — consumiam dez vezes mais glicose do que uma célula normal e produziam 100 vezes mais ácido lático.
O que é ácido lático?
Quem faz uma corrida, quem joga futebol muito tempo e tal, pode ter aquela dor muscular. Isso é acúmulo de ácido lático. Por quê? O que acontece?
As nossas células, quando elas têm oxigênio, produzem ATP, que é a moeda de energia.
Quando elas têm pouco oxigênio, elas fermentam a glicose e produzem esse ácido. Por isso que dói o músculo.
Então nós temos isso: quando tem oxigênio nós funcionamos de um jeito.
Na falta de oxigênio nós funcionamos de outro, e fazemos o que dá. Estilo “o dinheiro só deu para isso!”
Usa a glicose e produz lactato, que é o ácido lático.
Bom, ele descobriu isso.
Então isso era muito estranho… então as células de câncer estavam fermentando a glicose na presença de oxigênio.
As nossas células não fazem isso.
Na presença de oxigênio elas não fermentam.
Essa glicose passa por um processo de produção de uma substância que se chama piruvato.
Esse piruvato vai para a mitocôndria, que é essa organela, que é esse feijãozinho de produção de energia.
E lá na mitocôndria ela vai produzir 38 moedinhas de energia, 38 ATPs.
Se ela fermentasse essa glicose, se a célula fermentasse, cada molécula de glicose daria duas moedinhas de energia.
Vocês percebem a diferença absurda? São 19 vezes menos energia.
Por que uma célula faria isso? Não é efetivo para produzir energia suficiente.
Então as nossas células só fazem isso, de fermentar a glicose, para produzir pouca energia porque falta oxigênio e não tem outro jeito.
Por isso que nós ficamos morrendo de dor muscular quando fazemos exercício em excesso, e não respiramos direito ao estarmos fazendo exercício em anaerobiose, com pouco oxigênio.
Bom, então isso parece muito esquisito, mas vejam bem, vamos recapitular.
A glicose chega e nós temos dois caminhos: um é ela ser fermentada e produzir lactato e, nisso, ela vai produzir só duas moedinhas de energia, que é o ATP.
O outro é a glicose virar piruvato e isso vai passar por um Ciclo de Krebs, que é um ciclo de produção de ATP, depois na mitocôndria também tem essa cadeia de transporte de elétrons e no final das contas esse caminho mais longo gera 38 moedinhas de energia. Isso é o que o nosso corpo faz.
Por algum motivo (que na época ele não sabia qual era), as células de câncer não levavam nada para a mitocôndria, não produzia esse tanto de ATP.
Fermentavam essa glicose e produzia menos ATP, só que muito ácido lático.
O que isso acarreta?
Vocês já viram aquele exame de Pet Scan, que é tipo uma tomografia que eles usam a glicose como meio de contraste?
Quem já teve parente com câncer já viu um exame desse.
O que acontece com o câncer que recebe esse contraste? Vocês já viram?
Guilherme: Fica tudo iluminado lá no exame, não é isso?
Dra. Janaina Koenen: Isso: acende igual a uma árvore de Natal.
É igual uma árvore de Natal. Por quê?
Porque os tumores captam 44 vezes mais glicose do que uma célula normal.
Guilherme: Justamente porque eles são ineficientes, usam esse processo ineficiente para gerar energia e usam muita energia.
Dra. Janaina Koenen: É. Eles são ineficientes e estão se multiplicando rapidamente e precisam de energia.
Então o câncer tem que se multiplicar, tem que produzir vasos sanguíneos (angiogênese) para nutrir o tumor. Ele tem que fazer isso.
Ele tem que fazer metástase para conquistar novos lugares no corpo… então ele trabalha a toque de caixa. O câncer faz isso.
Depois de um tempo descobriu-se que, na verdade, o câncer usa isso a favor dele, porque esse lactato é interessante para o câncer.
Acidificar, fazer o meio em volta do câncer ficar ácido é interessante.
Por que isso?
(E eu não estou falando do sangue não, gente.
O sangue nunca fica ácido. Então realmente, essa questão de “dieta alcalina”, não há evidência na literatura para isso porque o sangue não fica ácido.
O que nós falamos de acidez é em volta da célula, do tecido lá dentro do tumor.)
Então quando o tumor produz muito ácido lático, esse ácido lático é transportado para fora do tumor, dissolve a matriz do tecido em volta e a célula fica solta e aí ela consegue fazer metástase mais facilmente.
Então, de uma forma ou de outra, esse efeito Warburg, que a gente acha que só atrapalha, não, ele não só atrapalha. Ele é importante para o tumor.
É ruim porque ele precisa de muita glicose, mas ele vai consumir o seu corpo, se for preciso.
Ele faz seu músculo virar glicose, se for preciso. E é bom para ele porque ele precisa desse lactato.
Esse lactato é importante para o tumor, acidificar, fazer o meio ficar ácido em volta da célula.
E também porque ele usa essa via para produzir proteínas importantes para a célula dele.
Então têm várias questões.
É muito complexo esse assunto, eu sei, mas se eu não falar disso eu não consigo provar que tem plausibilidade biológica.
Não tem jeito de fazer diferente.
Vocês estão conseguindo me entender?
Guilherme: Sim, sim.
E para quem quer saber um pouco mais dessa história do efeito Warburg, quer saber um pouco mais dessa história de que ele era alemão e judeu e como se deu tudo isso e a evolução ao longo do tempo, continue nos ouvindo — porque depois eu vou falar de um livro que conta essa história da chamada Teoria Metabólica do Câncer em detalhes.
Enquanto isso, vamos deixar a Jana continuar falando. Você vai aprender mais um pouco aqui e depois você vai no livro e vê os detalhes da história toda. É bem interessante!
Dieta Cetogênica E Câncer — Duas Dicas De Livros Para Aprender Mais
Dra. Janaina Koenen: Eu vou postar esse livro para vocês.
Esse livro, na verdade, eu já postei no meu Instagram umas quatro vezes. Não sei se é do Seyfried que vocês estão falando, mas é o tratamento metabólico do câncer.
O Seyfried é o pesquisador que mais publica sobre dieta cetogênica e câncer.
Ele e o Dominic D’Agostino também publica muito. São os caras que mais entendem de câncer na atualidade.
Eles publicam juntos, e estão desenvolvendo alguns protocolos interessantes que eu vou falar aqui.
Guilherme: Então a Jana já cantou a bola de um dos livros bacanas, que é o do Seyfried (Cancer As A Metabolic Disease) — o livro dele é legal e tem um pouco dessa parte do mecanismo.
Mas a parte histórica eu queria recomendar o livro que se chama Tripping Over The Truth, do inglês “Tropeçando na Verdade”.
E esse livro conta não só um pouco da teoria do efeito Warburg em si, mas quem foram os personagens que desenvolveram essa teoria e foram contando-a ao longo do tempo, desde o Warburg até o Seyfried.
E também tem outras pessoas bem importantes que tentaram outros tratamentos — enfim, outras abordagens que não fossem a “Teoria de mutações do câncer”.
Enfim, nós vamos deixar tudo anotado na transcrição do episódio. Vale a pena ir lá e pesquisar por esses livros.
Dra. Janaina Koenen: E vocês sabem que um dos motivos de o Warburg ter sido “esquecido” pelos cientistas é que esse fato de ele não ter sido preso na guerra, de ele ter quase ganhado o segundo prêmio Nobel vários cientistas ficaram com raiva dele porque acharam que ele estava dedurando os judeus.
Ficou um clima “anti-Warburg” no meio científico, ele começou a ser isolado — isso lembra muito a história do John Yudkin (que falava mal do açúcar em plena década de 1970) — com relação ao carboidrato e às gorduras.
Mas a questão é que ele foi isolado no meio científico e nada do que ele publicava era citado, então as pessoas meio que ignoraram ele, o que é uma pena.
A gente nunca deve ignorar fatos científicos por motivos pessoais. Um bom cientista não faz isso.
Bom, mas então o que foi visto?
Que as células cancerígenas usam não só glicose, mas como a glutamina.
Então são os dois substratos que são utilizados pelas células cancerígenas.
E a glutamina é um aminoácido. Um aminoácido que está no whey protein, que é utilizado pelos nutricionistas, que cuidam de pessoas com câncer…
Porque a glutamina, teoricamente, melhora a imunidade e previne as aftas na boca dos pacientes também.
Então elas prescrevem glutamina, sistematicamente, para os pacientes com câncer.
E segundo essa teoria — e os estudos mostram isso — o Warburg mostrou que os tumores também consomem muita glicose e glutamina.
E quando eles têm as duas coisas eles crescem mais rápido ainda.
Bom, então em termos de plausibilidade biológica eu acho que nós estamos enxergando que existe.
O que mais ele achou?
Que os tumores têm problemas nas mitocôndrias,
Muita gente fala que não, que é mentira, que não tem, que o tumor respira.
Tem vários estudos na literatura contra isso, opinião de especialistas, falando que não, porque existem alguns tumores que pegam a glicose, põe para dentro da mitocôndria.
Então existem vários graus de deficiência de mitocôndria em cada tumor.
Os tumores são diferentes.
Mas o fato é que várias mitocôndrias nos tumores têm mutações também.
Mutações que alteram a estrutura das mitocôndrias. Isso não tem como eu explicar com detalhe aqui.
Mas o fato é que tem vários estudos na literatura. Não tem um só.
E não são estudos novos. São estudos de mais de 30 anos atrás.
Todos mostrando que tumores têm problemas nas mitocôndrias, que o número de mitocôndrias é menor e que elas têm problemas estruturais — problemas estruturais que atrapalham a formação de ATP, que são essas moedinhas de energia para o nosso corpo.
Então em termos de plausibilidade biológica eu acho que sobra plausibilidade biológica.
Por que, gente? O que acontece na dieta cetogênica? Agora que eu vou mostrar isso.
Quando nós tiramos o carboidrato e comemos menos de 25 gramas de carboidratos líquidos (que é o carboidrato total menos as fibras), por dia, o que acontece?
A gente entra em cetose.
O nosso corpo começa a liberar gordura do tecido adiposo, da reserva que nós temos porque a insulina abaixou — a insulina baixa propicia isso — essas gorduras no fígado são transformadas em corpos cetônicos.
Ok? Então isso aí eu acho que todo mundo já está sabendo mais ou menos pelos blogs, pelo Instagram, o que é a dieta cetogênica.
Bom, esses corpos cetônicos, o que eles fazem?
O nosso corpo consegue utilizar gordura e corpos cetônicos como forma de energia.
Onde que esses corpos cetônicos e a gordura vão ser processados? Nas mitocôndrias.
Então todas as células do nosso corpo conseguem usar a gordura, quase todas.
O cérebro tem uma parte que precisa de glicose mesmo, por isso não pode fazer só dieta cetogênica, sem ter outras coisas, então o fígado produz um pouquinho lá.
Sempre vai ter glicose. Não existe isso de não ter glicose. O fígado produz.
Mas o fato é que fora os 15% do cérebro e as células do sangue, que precisam de glicose, o resto fica muito bem com gordura e corpos cetônicos porque as mitocôndrias funcionam.
No câncer as mitocôndrias não funcionam bem e elas não conseguem usar gordura e os corpos cetônicos como fonte de energia.
Então, se você não come carboidrato suficiente para ter glicose alta, certo?
E se você faz uma dieta que aumenta os corpos cetônicos, o que o seu tumor vai comer?
O que a célula de câncer, que precisa de 44 vezes mais glicose do que uma célula comum, vai comer? Nada, né?
Então ela vai pegar o pouco de glicose que ela conseguir no sangue, a glutamina que a sua nutricionista te der, se você quiser tomar, e só.
E — se você não estiver em uma dieta cetogênica — o câncer aumenta a inflamação e quebra músculos.
Vocês já viram pacientes com câncer como eles perdem músculo?
Guilherme: Uhum.
Dra. Janaina Koenen: E o músculo, a proteína, pode ser quebrada e aí tem glutamina.
Então é por isso que as pessoas com câncer perdem massa magra.
A dieta cetogênica é boa até nisso. Ela previne a quebra de massa magra.
Então:
- a dieta cetogênica previne a perda muscular,
- fornece menos glutamina para o tumor,
- menos perda de força pelo paciente )isso é muito importante também, para o estado geral do paciente); e
- a dieta cetogênica tira substrato, tira a comida da célula de câncer, porque diminui a glicose (não tem como tirar totalmente, mas reduz muito).
Sendo assim, uma célula normal não vai sentir essa pressão — porque ela está usando a gordura, mas a célula neoplásica vai sentir.
E isso é uma pressão em cima dela. É menos comida para ela.
E é muito interessante, gente, que os corpos cetônicos entram na célula tumoral usando o mesmo transportador que a célula tumoral usa para colocar o lactato para fora.
Lembra que eu falei que quando a gente fermenta glicose produz lactato?
E que o tumor põe o lactato para fora para soltar a célula e ela fazer metástase?
Então, quando nós colocamos a dieta cetogênica, os corpos cetônicos entram um atrás do outro e competem com o receptor — então o câncer não consegue mandar o lactato para fora e isso dificulta a metástase.
Então plausibilidade biológica é isso, gente. Faz sentido fazer uma dieta cetogênica? Eu pergunto para vocês, meninos: faz sentido?
Guilherme: Faz total sentido, tendo em vista essas evidências.
Roney: Claro.
Câncer E Dieta Cetogênica — A Relação Com A Obesidade
Dra. Janaina Koenen: Outra coisa: qual é o grupo de pessoas que mais têm câncer no mundo, em termos de metabolismo? Os obesos.
Então, o obeso tem mais câncer, o diabético tem mais câncer.
Quanto mais alta a insulina, quanto pior a resistência insulínica, mais a pessoa tem câncer.
E não câncer só de mama, por exemplo. Vários tipos de tumores. Eu já postei isso.
No meu Instagram tem lá um destaque nos stories com esse mapinha: todos os tipos de cânceres que são causados pela obesidade.
Então a obesidade causa câncer, a insulina alta causa câncer, doenças de resistência insulínica aumentam o câncer, diabéticos que usam insulina em doses altíssimas têm mais câncer…
Depois que você tem um câncer diagnosticado e opera, por exemplo, um câncer de mama; a glicose alta no pós-operatório piora o prognóstico, aumenta a volta do câncer e piora a metástase.
Então a glicose alta não é boa para quem quer tratar câncer, para quem quer prevenir câncer e para quem quer evitar que o câncer volte.
Os estudos mostram isso: insulina alta estimula câncer.
É um fator de crescimento. Tem vários estudos que mostram isso.
Inclusive, insulina alta estimula uma via metabólica nas células que vai mais para a proliferação.
Então o câncer usa isso a favor dele.
Para o câncer é ótimo ter insulina alta porque quanto mais insulina alta, mais o tumor prolifera e mais agressivo ele fica.
E tem vários estudos na literatura mostrando isso.
Eu estou à disposição para mostrar esses estudos. Posso colocar todos transcritos, se vocês quiserem estudar sobre isso.
Então plausibilidade biológica, gente, é isso.
Guilherme: Excelente.
Então nós vimos que realmente existe essa plausibilidade biológica, tanto pela teórica, pela parte mecanística que nós mencionamos; quanto também pelo fator que você falou, da insulina, tanto pelo fato de que ele ajuda a preservar a massa muscular.
Então não só pode ser um adjuvante para tratar o câncer, como também para trazer um bem-estar maior para os pacientes — que é o que você acaba mencionando na história pessoal que você falou do seu pai.
Dra. Janaina Koenen: Isso!
E tem muito mais. Não tem como a gente falar de tudo aqui, mas… eu falei, por exemplo, desses tumores que são associados à obesidade — não só à obesidade, mas ao sobrepeso também — ao pré-diabetes e não só ao diabetes:
- meningioma,
- adenocarcinoma de esôfago,
- melanoma múltiplo,
- tumor renal,
- câncer de endométrio,
- câncer de ovário,
- câncer de intestino,
- câncer de pâncreas,
- câncer de estômago,
- câncer de vesícula,
- câncer no fígado,
- câncer na mama e
- câncer de tireoide.
Gente, não tem como… são órgãos completamente diferentes.
O que eles têm em comum no paciente obeso? Resistência insulínica!
E outra coisa, para nós falarmos em plausibilidade biológica, não é só um estudo em célula.
Câncer E Dieta Cetogênica — Estudos Em Animais
Será que tem estudos em animais? Gente, tem! Tem até meta-análise de estudos em animais!
E nos estudos em animais, nós não conseguimos mostrar todos os dados aqui, mas o que nós percebemos?
Que não só a dieta cetogênica, mas o jejum — que isso é um outro assunto interessantíssimo: jejum previne e trata câncer em animais.
Então, a restrição calórica do jejum intermitente, todos, 90% dos estudos mostram um efeito anticâncer positivo, tanto na prevenção de câncer em animais — e isso assim, em 59 estudos, tá?
Previne câncer, previne progressão, previne incidência de metástase…
A maior parte dos estudos mostrou benefícios com restrição calórica intermitente — 80% dos estudos — mesmo em câncer agressivo em animais tem evidências de melhorias com dieta cetogênica.
E esses estudos nem são com quimioterapia. Não. Usaram apenas a dieta cetogênica. Não precisou de mais nada.
Então, falar em plausibilidade biológica… é uma coisa muito séria um especialista chegar em uma mídia e falar isso.
Eu concordo que nós não podemos brincar com a saúde das pessoas e tirar tratamentos e prescrever outros tratamentos falando que isso vai curar.
Sou totalmente contra o que foi feito com aquele repórter.
Mas falar que não há plausibilidade biológica é, no mínimo, antiético.
E eu vou mostrar para vocês outras coisas que nós temos para falar, mas percebam que tem revisões sistemáticas de 2017, 2018, 2019 em animais, em tecidos, em células, mostrando que os efeitos da dieta cetogênica diminuem o crescimento de tumor e aumentam a sobrevida.
“Ah, mas o paciente vai morrer mesmo! Para quê fazer isso? Para quê usar uma dieta tão restritiva?”.
Gente, vocês já viram efeito colateral de droga quimioterápica? Meninos, vocês já viram os efeitos colaterais?
Guilherme: Terrível, né?
Dra. Janaina Koenen: Gente, existem drogas que causam efeitos horríveis! Não estou falando de vômito não.
Estou falando de baixa de imunidade, infecções secundárias, perda de peso. Coisas horrorosas. Neuropatias, toxicidade renal, toxicidade hepática…
Mas essas drogas estão no mercado. Por quê? Porque é o que nós temos de melhor. É o que tem.
Todas elas curam o câncer? Lógico que não. Se uma droga aumenta a sobrevida em dois meses ela vai para o mercado.
Então uma dieta que é isenta de riscos, porque tem estudos em humanos, com câncer terminal, fazendo dieta cetogênica e os escores de qualidade de vida melhoram.
“Tem estudos em humanos, meninos?”. Tem, tem muito estudo em humanos. Então nós vamos falar sobre isso.
Mas mostrando que aumenta a qualidade de vida em paciente com câncer terminal.
Então é uma dieta segura. Se ela aumentar a sobrevida em um mês, dois meses, três meses, que seja, evitando perda de massa magra, por que não fazer?
Esta é a minha pergunta para vocês: por que não fazer? Já que tem drogas super tóxicas no mercado, que têm que ser usadas porque não tem outra coisa, e às vezes a droga nunca vai curar, vai aumentar só a sobrevida.
O paciente não tem direito de viver mais, se ele quiser?
Guilherme: Com certeza!
E as drogas têm um custo altíssimo! Muitas delas custam centenas de milhares de dólares, um curso da droga toda, né?
Dra. Janaina Koenen: Muito caro!
Eu não estou dizendo aqui que não devam ser feitas. Veja bem, eu sou totalmente a favor. Pelo contrário.
A dieta cetogênica tem isso também: ela sensibiliza o tumor à radio e à quimioterapia — e ela é anti-inflamatória e protege o tecido são.
Então além de tudo, quem fez radioterapia sabe que fica tudo destruído em volta do tumor.
A dieta cetogênica protege o tecido em volta e ajuda a potencializar o efeito da radioterapia e da quimioterapia no tumor, apenas.
Então, além de tudo ela, ela ainda tem esse efeito protetor do resto do tecido são, que não é tumoral, que não é do câncer.
Então eu pergunto a vocês, meninos: faz sentido usar isso como adjuvante no câncer?
Dieta Cetogênica E Câncer — Quais Os Tumores Em Que Mais Faz Sentido Aplicar A Cetogênica
Em humanos nós temos alguns estudos… não acho que cabe falar de todos eles, tem alguns tumores que não respondem à dieta cetogênica.
O tumor renal é um que, sabidamente, não responde à dieta cetogênica.
Os tumores que mais respondem, que têm mais estudos são os tumores cerebrais.
Então neuro-oncologistas, eu espero em Deus, que vocês vão ouvir esse podcast, porque o glioblastoma vai virar standard de tratamento a dieta cetogênica adjuvante, tá?
No tratamento de glioblastoma, astrocitoma e tumores neurológicos.
Isso quer dizer que todos vão curar se nós usarmos a dieta cetogênica junto? Não.
Mas essas pessoas morrem em menos de dois anos.
E, se a dieta cetogênica aumentar a sobrevida em um ano, em seis meses — como tem estudos mostrando — isso é muito importante, percebe?
Você poder ficar com a pessoa que você gosta mais seis meses, se a pessoa puder ficar com o filho mais seis meses…
Para falar que não há, que não tem nenhuma evidência científica, que é uma coisa totalmente anticientífica?
Então eu grito aos quatro ventos: quem falou isso está errado.
Nós não podemos descartar essa ferramenta.
É só uma ferramenta a mais!
Não tem a imunoterapia? Não tem as drogas-alvo dessas mutações, que às vezes as pessoas têm, às vezes não têm?
Não tem os bloqueadores hormonais no câncer de mama para quem tem a mutação?
E quem não tem a mutação hormonal no câncer de mama? Vai deixar morrer?
E se existe um protocolo que ajuda?
Vocês sabiam que hoje nós usamos drogas para diabetes para o tratamento do câncer, meninos?
Guilherme: Não, não sabia.
Dra. Janaina Koenen: Pois a Metformina está sendo usada no tratamento de vários tumores.
Já tem vários estudos em animais e já tem ensaios clínicos em humanos.
Não são ensaios clínicos grandes — a maior parte dos estudos são relatos de caso — com um paciente só, dois pacientes; mas são dramáticos!
Então assim, tem estudos muito interessantes usando drogas para a diabetes.
Vejam bem, o que uma droga para diabetes faz?
Ou ela reduz a glicose, ou ela reduz a insulina, porque as drogas para a diabetes que aumentam a insulina não prestam para ninguém.
Eu sou contra elas e já falei várias vezes sobre isso, que a Sulfonilureia eu não usaria em ninguém.
Mas essas drogas, como a Metformina, como a Dapagliflozina que têm estudos mostrando a alteração… até em câncer de pulmão já tem estudo…
Então assim, a gente não pode jogar fora estratégias.
Então hoje fala-se em tratamento metabólico do câncer, fala-se em tratamento metabólico.
O que é isso? Não é só a dieta cetogênica.
São várias outras abordagens, que eu vou falar mais sobre isso no Instagram, vocês vão me ver falando sobre isso ainda muito esse ano.
Vou tentar falar mais sobre isso.
Eu comecei sobre diabetes, mas eu vou falar mais sobre câncer, sobre Alzheimer, sobre Parkinson… essa semana eu falei sobre enxaqueca.
Então a gente vai jogando aos quatro ventos mesmo as evidências científicas que têm. E tudo baseado em evidências, tá, gente? Não é a minha opinião não.
Tudo tem artigo, tudo tem estudos, tem meta-análise, tem ensaio clínico, tem estudos em humanos.
Então não pensem que eu estou falando aqui a minha opinião, ok?
Não é a minha opinião pessoal. Quando for a minha opinião pessoal eu vou deixar bem claro que é a minha opinião pessoal.
Guilherme: Com certeza!
E a gente vai perguntar a sua opinião pessoal também, inclusive porque nós sabemos que tem que ter esse distanciamento saudável entre o que é evidência e o que é opinião, o que é a leitura das evidências que cada profissional faz…
Porque senão a gente não tem mais discernimento, a gente não sabe mais quando está conversando de dados, fatos concretos e quando a gente está conversando de opinião de cada um.
Dra. Janaina Koenen: E você sabe que é engraçado que hoje em dia cada um cita quem quer na literatura. Então tem revisões sistemáticas que não citam nenhum estudo do Seyfried nem do Dominic e falam que não há evidência ainda da dieta cetogênica no câncer.
Eles não citam os dois pesquisadores que mais publicam sobre o assunto!
Você pega as referências e não tem nenhum estudo deles e aí saem vários editoriais criticando. Mas é uma guerra de opiniões, então as pessoas querem achar que o câncer é só genética.
Pessoal, tem genética. Lógico que tem genética.
Ninguém aqui está falando que não tem. Eu acho que uma teoria invalida a outra. Eu acho que esse é o erro do Seyfried. O Seyfried se apaixonou pela causa. Então ele só enxerga o lado dele.
Isso é ruim — porque as pessoas têm que trabalhar juntas.
Então o tratamento metabólico, que inclusive ele faz — já tem alguns estudos na literatura, quem quiser buscar pode buscar — que é a Metabolic Therapy, inclui a dieta cetogênica, inclui algumas drogas, oxigenioterapia hiperbárica…
Inclui várias coisas que eu não consigo falar aqui porque eu precisaria de slides para explicar, mas que é interessantíssimo, com resultados assustadores de cura de câncer totalmente metastático, publicado na literatura.
Isso não é blog não! Está publicado na literatura científica, com todos os dados do estudo.
E estão surgindo cada vez mais estudos — porque pessoas estão lendo esses estudos quando pegam um tumor muito agressivo que não tem o que fazer, mas eles tentam, porque aí não tem como o Comitê de Ética barrar, porque não tem o que fazer mais.
Então essa é outra crítica: os estudos são feitos só em pacientes terminais, como foi meu pai.
Tem estudos mostrando que, se você entra no início do câncer, a resposta é melhor.
Então é importante que as pessoas entendam isso e é importante vocês verem que não é uma teoria da conspiração.
O que eu estou falando é verdade. Tem uma guerra editorial, como o açúcar e gordura saturada, é a mesma coisa no câncer. É impressionante como eles brigam, abertamente, um mandado carta para o outro, tudo publicado no jornal científico: “Ah, porque essa revisão não presta, porque você não citou os dois que mais publicam”.
Como você pode fazer uma revisão de literatura escolhendo artigos?
Ou você faz uma revisão completa ou você não faz. A Cochrane, que era quem a gente mais confiava, demitiu várias pessoas, várias pessoas se demitiram.
Teve uma briga interna enorme e em 2015, quando eles soltaram uma revisão sobre gordura saturada, eles omitiram um estudo de Minnesota, que é o que justamente havia 8000 pacientes e que falava que gordura saturada não causava infarto, que quem causava era o óleo vegetal.
Então nós não devemos pegar qualquer estudo e ler achando que aquilo é uma bíblia porque é um estudo que está publicado.
Qualquer um publica o que quer, as pessoas citam os colegas, para aumentarem as citações — o estudo fica em voga, fica em evidência — e nós estamos vendo muito isso com carne vermelha e câncer, essa onda de falar que carne faz mal para tudo e ninguém leva em consideração que a força é muito fraca, das evidências e das associações.
O câncer tem essa briga dos que acham que é só genética e o Seyfried que acha que é só a mitocôndria. É tudo junto, gente! O câncer é uma doença tão diferente…
Vocês sabiam que o câncer de próstata, metastático, com dez metástases espalhadas pelo corpo, cada metástase tem mutações completamente diferentes umas das outras?
Guilherme: Uhum.
Roney: Não, eu não sabia.
Mutações Genéticas Ou Metabolismo? Provavelmente, Os Dois
Guilherme: É que tem muitas mutações e que, justamente, essa teoria das mutações, a teoria genética, se ela fosse completamente verdadeira, se fosse só ela, nós não deveríamos ver esse efeito da dieta cetogênica funcionando.
E se a cetogênica fosse a única verdade, a teoria metabólica fosse a única coisa que resolvesse para todos, deveria resolver para todos.
Então justamente, se você olha todas as evidências juntas, não dá para ser 100% para um lado e nem 100% para o outro.
Dra. Janaina Koenen: Exatamente! Essa é a questão! É o caminho do meio!
Eu leio o livro do Seyfried, eu escuto os podcasts dos outros pesquisadores, que tem vários muito interessantes, tem o podcast que chama The Drive, que é sensacional, que é do Peter Attia.
Ele tem uns quatro podcasts só sobre câncer, cada um com uma opinião diferente da outra, mas é legal ouvir!
Eu gosto de ouvir as opiniões contrárias ao que eu acredito para eu aprender e para eu aumentar o meu conhecimento.
Então, por exemplo, eles falaram: tem tumores que consomem corpos cetônicos.
Tem tumores que podem passar a consumir corpos cetônicos, da mesma forma que os tumores ficam resistentes a drogas.
Então por isso que nós não podemos fazer só uma intervenção.
Existe um conceito hoje chamado press-pulse. O que é isso?
Você pressiona constantemente aquele tumor, com uma coisa mais leve; e aí você vem e dá uma cacetada.
O que é essa cacetada? Uma radioterapia, uma imunoterapia hiperbárica de oxigênio, ou então você dá insulina para baixar a glicose em paciente em cetose — aí ele faz hipoglicemia, mas não tem sintoma e o tumor, durante a quimioterapia não consegue responder e ele acaba sofrendo mais.
Então a dieta cetogênica seria o press, seria uma coisa contínua; e o pulse seria saber a hora de dar a glutamina, saber a hora de não dar glutamina de jeito nenhum; tentar não usar corticoide de jeito nenhum…
A gente sabe que às vezes não tem como, tem que usar o corticoide e o corticoide aumenta a glicose, o corticoide ajuda o tumor a crescer e a ficar mais agressivo.
Mas quando o tumor é muito grande, se você não fizer isso, acontece o que aconteceu com o meu pai, por exemplo. Ele usou, mas não adiantou.
O edema é muito grande, então… tem lugares, como o cérebro, que se você não usar, você vai entrar em convulsão — que aliás, outra coisa boa, os tumores cerebrais dão muita convulsão e a dieta cetogênica ajuda até nisso: controla as convulsões.
Então a ideia de você ficar batendo de levinho e de vez em quando dar uma cacetada no tumor, chama press-pulse.
Tem vários artigos já na literatura, muito interessantes. Quem é neuro-oncologista tem a obrigação de ler esses estudos!
Então eu gostaria que vocês chamassem a atenção: quem conhecer um neurologista, um oncologista que trata tumores cerebrais, que ele ouça meu podcast, que ele entre em contato comigo, para nós estudarmos juntos, para nós tentarmos desenvolver um protocolo no Brasil… não existe!
No Rio de Janeiro tem um grupo fazendo já dieta cetogênica para alguns tumores, já está sendo feito no Rio de Janeiro.
Muito interessante também, já tem estudo publicado já. Mas é muito pouco, né, gente? Olha o nosso Brasil, olha como o câncer mata.
E foi o que vocês falaram: se fosse só genética, não tem como ter tanta mutação, gente, para aumentar a incidência de câncer como vem aumentando.
O câncer aumenta exponencialmente, junto com a obesidade, diabetes e as doenças cardiovasculares.
Então só um tolo para não enxergar que o nosso estilo de vida está causando câncer.
Lógico que tem as mutações! Sempre houve mutações. Mas nada explica esse crescimento assustador do câncer.
E se vocês repararem, os tumores estão ficando cada vez mais agressivos.
Então nós ficamos usando drogas o tempo inteiro, se eu tenho um tratamento que seja mais abrangente e pegue várias frentes, como no diabetes a gente faz, como na insuficiência cardíaca a gente faz; dificilmente a gente vai ganhar essa luta.
E se a gente não agir na prevenção do câncer, dificilmente a gente vai ganhar essa luta.
Jejum Intermitente No Tratamento Do Câncer
Roney: Certo, Janaina.
Nós estamos falando bastante de dieta cetogênica e talvez alguém que está nos ouvindo agora esteja se perguntando se o jejum também não poderia funcionar como um adjuvante.
Dra. Janaina Koenen: O jejum é essencial no tratamento do câncer.
O jejum antes da quimio… aí tem várias coisas que nós falamos. Não tem como falar tudo aqui.
Tem estudos até em humanos, tem estudo em câncer de mama em mulheres, que jejuar mais de 13 horas por dia diminui a recidiva do câncer do tumor de mama.
Isso em mulheres humanas. Em mulheres mesmo, não em ratinho.
Em animais o jejum comprovadamente ajuda, tanto na prevenção, quanto no tratamento, quanto na recidiva de tumores. Então em animais isso é provado.
Em humanos tem pouco estudo.
É muito difícil fazer estudos, se é uma coisa que é ruim, que é contra o que o Chefe do Centro da UNICAMP de Evidências em Oncologia fala que nem existe, que nunca viu nada publicado, não tem plausibilidade biológica…
Então é muito difícil quando aqueles que decidem as coisas não fazem estudos, os centros grandes não fazem estudos.
Então nós dependemos de estudos pequenos, que estão demonstrando resultados muito interessantes.
Eu penso que a dieta cetogênica não deva ser utilizada de forma isolada, primeiro porque o tumor pode ficar resistente, sim; pode desenvolver uma adaptação e começar a usar corpos cetônicos; segundo porque nenhum tratamento isolado tem funcionado e nós temos visto isso, que o ideal é usar três, quatro drogas, mais a radioterapia; então por que não usar as drogas, o jejum e a dieta cetogênica?
Então, sim, existem vários artigos, várias evidências na literatura e existe plausibilidade biológica.
Nós sabemos que o jejum melhora a cetose, aumenta os corpos cetônicos, o jejum promove a autofagia, que é a remoção de células mortas e melhora as mitocôndrias – então as mitocôndrias defeituosas, que talvez fossem causar um câncer, talvez fossem removidas antes de o câncer aparecer, e isso é especulação minha.
Eu não posso dizer que existem artigos provando isso em termos de humanos.
Mas é uma especulação, é a minha opinião pessoal e baseada em estudos em animais, mas nós devemos lembrar que não é em humanos e que nem tudo nós podemos transpor.
Mas sim, eu penso que o jejum é essencial nessa ajuda.
Na França eles fazem jejuns prolongados de sete dias.
Os estudos mostram também que jejum de três dias antes de começar o tratamento do câncer… na Alemanha eles também fazem muito isso.
Então não é uma coisa nova, que eu estou pensando que daria certo. É uma coisa que está sendo feita há algum tempo em alguns países.
Guilherme: Uma coisa que eu li foi de usar o jejum ao redor da quimioterapia, por exemplo, tanto porque o paciente já fica enjoado, já tem os sintomas ruins.
Eles tendem a ser diminuídos e a eficiência dela pode até aumentar, justamente porque você fez essa pressão com o jejum, que acabou baixando a insulina, baixando a glicemia, promovendo a autofagia e por aí vai.
Dra. Janaina Koenen: Exatamente.
Vejam vocês como o camarada fala isso, em rede nacional, que não há plausibilidade biológica?
É uma coisa que fica martelando na minha cabeça porque isso trava tanto as coisas…
É a falácia da autoridade, do jaleco branco, que chega lá e fala uma coisa, que eu acho que tem que haver cautela.
Não acho que tem que ser uma recomendação das pessoas fazerem sozinhas.
Nem é todo mundo que tolera uma dieta com mais gordura. Algumas pessoas não toleram gordura. Mas mesmo pacientes que tiraram o pâncreas podem fazer dieta cetogênica, então há formas de fazer a dieta cetogênica, mesmo em pacientes que não digerem bem gorduras. Mas há pacientes que não toleram.
Vejam vocês, o paciente com câncer quer doce. Não sei se vocês já repararam nisso! Se você tem um parente que já teve câncer, às vezes ele nem ligava para doce, nem ligava para carboidrato e de repente ele fica com o paladar mais para o doce.
Por quê? Porque ela precisa comer açúcar, porque o açúcar está sendo consumido rapidamente por quem? Pelo tumor.
Então o que eu queria trazer hoje para vocês, realmente, é uma reflexão de que, sim, existe uma vasta literatura; sim, é controverso; sim, alguns tumores não respondem — não é para sair fazendo a torto e à direita, sozinho — e, sim, tem várias coisas a serem feitas juntas.
O Endócrino participa disso porque são drogas para diabetes, manejo de insulina, indução de hipoglicemia.
É evitar radioterapia e invés de rádio, fazer hiperbárica.
Alguns tratamentos fazem o tumor ficar mais agressivo e a pessoa morrer antes, apesar de melhorar a curto prazo. Por que não tentar uma coisa diferente?
Então o que eu vim trazer para vocês hoje é uma reflexão.
Quem quiser me acompanhar nas redes sociais, eu vou falar mais sobre isso esse ano. Nós vamos conversar.
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Eu sei que é muito vago o que eu falei aqui e também muito específico, mas se eu tiver oportunidade de mostrar o meu trabalho, mostrar o meu estudo para vocês, eu vou mostrar; tentar explicar de uma forma didática, com figuras, desenhando… a gente pode tentar fazer isso.
Mas o que eu quero que vocês façam é que vocês sejam aquela formiguinha chata: vá no seu oncologista.
Você que tem um glioblastoma, fala: “Doutor, você já leu os estudos do Dominic D’Agostino e Seyfried. Você já ouviu falar em tratamento metabólico?”.
Porque esse tumor é muito agressivo e ele mata em menos de dois anos. Todo mundo morre. Poucas pessoas duram mais de dois anos. Mas tem um estudo publicado em que o paciente dura mais de dois anos. Depois ele morreu. Morreu porque fez radioterapia. Mas morreu. O fato é: ele durou mais de dois anos.
Então tem alguma coisa que a gente possa fazer para melhorar? Eles estão fazendo. Cada estudo que sai eles melhoram um pouco mais esse tratamento metabólico.
Se o seu oncologista nunca ouviu falar de tratamento metabólico, ele tem que estudar mais, porque eu penso que quando você está dentro da sua especialidade, assim como eu estou em Endocrinologia, antes da ADA, da American Diabetes Association publicar esse guideline agora, falando que a única dieta que realmente tem evidências é a low-carb e a very low-carb, para diabetes; eu já estou aplicando isso há muito tempo porque eu não fico parada, esperando cair no meu colo a informação. Eu vou buscar.
Então antes de falar que é picaretagem, porque às vezes foi feito de uma forma errada, às vezes feito não pela pessoa correta…
A gente sabe que nem todo mundo é correto ou totalmente ético, ou a informação nem sempre na mídia é colocada da forma que foi feita, tem isso também.
Sempre tem os dois lados da história. Eu não sei os dois lados, eu não vou criticar.
Mas o fato é que nós não podemos julgar uma informação só de uma vasta literatura que está crescendo, por preconceito, por medo, ou como alguns oncologistas me falaram: “Ah, mas a gente vai tirar o açúcar? Coitado do paciente! Ele está com câncer!”.
Então é aquela questão: “Coitada da criança que está diabética! Vai tirar o açúcar dela?”. Ninguém se preocupa se ela vai ficar cega ou amputar uma perna 20 anos depois. Tadinha, ela é só uma criança.
Então se um paciente com câncer pode viver seis meses a mais, ou curar um câncer, quem dera!
Hoje nós liberamos drogas que aumentam a sobrevida em dois, três meses.
Se uma dieta ajudar a aumentar a sobrevida em seis, um ano, dois anos, sei lá, se a dieta curar, quem dera!
A gente vai jogar isso fora porque o paciente vai comer açúcar?
Dieta Cetogênica E Câncer — Pelo Direito De Escolher
Tudo bem, se o paciente optar por comer açúcar mesmo assim, é direito dele.
Mas eu acho que ele tem o direito de saber. Essa é minha luta! O paciente tem direito ao conhecimento. O médico não pode privar o paciente dessas opções.
O diabético tem que saber que tem essa dieta, o paciente com Alzheimer tem que saber que tem essa dieta, o paciente com Parkinson, o paciente com câncer, o paciente com enxaqueca.
Então se o paciente não quiser fazer uma dieta restritiva, ok, é opção dele.
Se o paciente quiser continuar fumando enquanto ele está tratando de um câncer, não é opção dele? É.
Mas negar a informação eu acho que é antiético. Isso eu acho totalmente anticientífico.
Guilherme: Com certeza!
Um dos fundamentos da Medicina Baseada em Evidências é ter essa transparência real sobre riscos, prós e contras e tomadas de decisão compartilhadas; e não fazer uma coisa unilateral e pregar o que você acha para todas as pessoas.
Isso, realmente, é o que você falou: antiético. Na nossa opinião, especialmente como pacientes, também concordamos.
Dieta Cetogênica Pode Ajudar A Prevenir O Câncer?
Roney: Jana, quem ouviu até agora provavelmente deve estar se perguntando o mesmo que eu: será que esse tipo de dieta — dieta cetogênica ou mesmo jejum, ou os dois — podem ajudar, de alguma maneira a prevenir o câncer em quem não tem essa doença?
Dra. Janaina Koenen: Então, não existem evidências na literatura em humanos sobre isso.
Não há nenhuma evidência que prove que fazer uma dieta cetogênica vai evitar o câncer.
Nós sabemos que várias coisas causam câncer: mutação, exposição a agrotóxico, corantes, comida processada, gordura trans…
Agora, uma dieta limpa, uma dieta paleo, cetogênica, é a minha opinião pessoal, que não precisa ser cetogênica para evitar o câncer.
Se você tem um estilo de vida limpo, você já reduz câncer. Se você não é obeso, você já reduz câncer.
Então se com low-carb você reduzir a obesidade; não tem gordura visceral na barriga; a sua insulina está baixa; a sua glicose está baixa; seus marcadores de inflamação estão baixos; você tem uma vida limpa; que não é sedentária que faz muita atividade física, que também previne câncer — porque o sedentarismo é equivalente ao tabagismo — tudo isso já pode evitar o câncer.
Falar que se você fizer a dieta cetogênica você não vai ter, isso não é verdade. Eu tenho pacientes que fizeram dieta cetogênica e tiveram tumores.
Agora, esses tumores seriam mais agressivos se elas não estivessem em dieta cetogênica? A gente não sabe.
Em animais nós sabemos. Em animais a dieta cetogênica preveniu o câncer em animais com a mutação.
Então, quando eles induziram a mutação — isso foi em câncer de fígado — induziram o câncer no animal, aqueles que estavam em dieta cetogênica responderam melhor do que os que não estavam.
Então isso corrobora a questão do tempo, do timing, do quando introduzir.
Se você tem um diagnóstico de câncer, comece imediatamente. Procure um profissional que seja habilitado e comece imediatamente.
Se o seu tumor foi sabidamente renal, não vá fazer dieta cetogênica, porque tem estudo mostrando que câncer de rim processa corpos cetônicos.
Então, que fique bem claro isso: tem alguns tumores que processam.
Não faça sozinho, não faça só dieta cetogênica, não jogue um cartucho fora.
Faça um tratamento metabólico, converse com o seu médico, não tome glutamina o tempo inteiro — tem alguns momentos que dá para tomar, nos protocolos de tratamento metabólico ela é utilizada, com parcimônia, em alguns momentos — porque ela realmente ajuda na imunidade, na hora que isso é necessário, mas não na hora que você quer bater no tumor. Você tira a glicose e dá glutamina não adianta.
Então, sim, em animais existe evidência para isso, tanto para jejum, quanto para a dieta cetogênica.
Eu acredito, na minha opinião pessoal, que se a gente tiver um estilo de vida saudável, que é o que nós falamos na Tribo Forte também, o estilo de vida saudável, não só a comida: é atividade física, um sono reparador, atividade de lazer, alegria, felicidade — porque angústia e depressão aumenta o risco de câncer — não for obeso…
Se você está obeso, mude imediatamente, faça low-carb.
Se você tem insulina alta, resolva isso.
É diabético tipo 1, está gordo e usando muita insulina, faça low-carb.
Reduza a quantidade de insulina que você usa no seu dia-a-dia, dentro do possível, sem piorar o seu controle. Por isso que é low-carb.
Se você tem uma história familiar muito grande de câncer, eu acho que vale muito a pena você olhar seu metabolismo, seus hormônios, seu estilo de vida, sua insulina… e aí eu acho que vale a pena o estilo de vida cetogênico, sim.
É a minha opinião. É o que eu faria. É o que eu faço, na verdade. Eu faço dieta cetogênica.
Lógico, meu pai fumou, comia açúcar o tempo inteiro, não era gordo, mas já tinha sido.
Então eu não fumo, bebo só vinho de vez em quando, faço uma dieta cetogênica a maior parte do meu tempo — por outros motivos — mas esse motivo, o fato de existir esse câncer na família, teve câncer de mama também, me dá uma certa tranquilidade.
Eu busco um estilo de vida mais saudável.
Essa é a minha opinião pessoal, tá, gente?
Então cada um tem que ter a sua, tem que pegar o que eu estou falando aqui.
Me acompanhe, vamos conversar mais. Eu não consigo responder direct todo dia, mas o que eu puder falar sobre esse assunto eu vou falar.
Mas o que eu queria mesmo é que esse podcast chegasse nos oncologistas, especialmente os neuro-oncologistas porque é onde tem mais evidência em humanos publicada.
Mas todos os oncologistas deveriam, pelo menos, levantar as anteninhas para o que eu estou falando aqui.
Guilherme: Com certeza, Jana.
Acho que ficou um episódio bem rico!
Quem começou o episódio e não tem uma base muito clara de fisiologia, não sabia nada dessa história, deve estar até com a cabeça girando agora.
Então, pessoal, se você não entendeu alguma coisa, fique tranquilo.
Escuta de novo o episódio, ele está disponível para você gratuitamente, tem a transcrição no nosso site também — e você vai poder, lá, ler exatamente tudo o que a Jana falou — pode ler com calma, grifar, fazer suas anotações…
Vai ter um link dos livros que nós mencionamos também, a questão do livro do Thomas Seyfried, vai ter o livro que eu mencionei, Tripping Over The Truth, que conta a história dessa teoria do câncer…
Vai ter o link para as mídias sociais da Jana, que é @janainaendocrino no Instagram.
Então, pessoal, sigam a Jana no Instagram, leiam de novo, releiam, porque isso aqui é um conhecimento que pode salvar vidas.
Isso aqui é uma coisa que é uma das doenças que mais mata a humanidade — já foi chamada, inclusive, de O Imperador de Todos os Males, o câncer (aliás, esse é outro livro que está na minha lista para ler.
Porque é realmente um assunto fascinante, que faz a diferença na vida das pessoas.
Meu pai faleceu também por conta de um câncer, isso há mais de 24 anos, então também é um assunto que me toca e eu acho que todo mundo que se importa com essa questão do câncer, ou que conhece alguém que já sofreu com isso, seja familiar, amigo, enfim, deveria escutar esse podcast e compartilhar também para essa mensagem chegar a mais pessoas.
Então, Jana, muito obrigado novamente, por ter comparecido e cedido um pouco do seu tempo.
Com certeza é um episódio revolucionário aqui para nós no podcast do Senhor Tanquinho.
Obrigadão!
Dra. Janaina Koenen: Eu que agradeço!
É um prazer sempre estar com vocês.
Vamos marcar a próxima e tamo junto nos termos da verdade — da verdade mesmo — científica, e saber ter ética para transmitir como vocês sempre têm feito.
Eu agradeço a oportunidade. É uma honra, para mim, participar aqui com vocês!
Roney: Nós ficamos muito felizes em ouvir isso, Jana.
Muito obrigado novamente.
Nós queríamos também agradecer a quem nos ouviu até aqui: muito obrigado por sua audiência, esperamos que vocês tenham gostado tanto quanto nós deste episódio.
E se gostou, se inscrevam lá para acompanhar a gente todas as semanas!
Afinal, nós soltamos podcasts como esses todas as segundas-feiras.
Guilherme: É isso mesmo!
A nossa missão é dar mais um canal para profissionais incríveis, como a Jana, poderem se expressar e atingirem mais pessoas e divulgar essas verdades.
Então, obrigado, Jana; obrigado todo mundo que ouviu.
E segunda-feira nós nos falamos novamente!
Dra. Janaina Koenen: Um abraço!
Roney: Um forte abraço
Roney e Guilherme: Do Senhor Tanquinho.
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