Podcast #49 – Dra. Ana Martha Fala Tudo Sobre A Saúde Intestinal: Água, Adoçantes, Frequência De Evacuações, Fibras, Prebióticos, Probióticos, E Muito Mais
Existe um pensamento corrente de que a constipação intestinal se resolve comendo fibra — mas, na maioria das vezes não, não é assim.”
No podcast de hoje, contamos com a Dra. Ana Martha Moreira — uma médica apaixonada por saúde intestinal, e que sempre respeita e trata o paciente como um todo.
E vale a pena prestar atenção a cada palavra que ela diz nesta preciosa entrevista.
Porque, ouvindo o podcast atentamente até o final, você vai saber exatamente:
- qual é a maior queixa sobre saúde intestinal que a Dra Ana Martha vivencia todos os dias,
- por que a ideia de que “comer mais fibras resolve a constipação” está errada,
- qual a frequência certa (saudável) de idas ao banheiro,
- o que você deveria sentir ao evacuar,
- como solucionar o intestino preso,
- quanta água você deveria beber por dia,
- como usar o magnésio para soltar o intestino,
- por que você pode ter prisão de ventre (ou diarreia) ao mudar a alimentação,
- qual a relação entre quantidade de alimento ingerido e suas idas ao banheiro,
- os perigos dos adoçantes artificiais para o seu intestino,
- xilitol, eritritol, e qual adoçante é melhor para você utilizar,
- as diferenças e semelhanças entre probióticos, prebióticos, e saúde intestinal,
- se amido resistente é positivo para o intestino,
- toda a verdade sobre o kefir,
- quais são outras opções de alimentos amigos do intestino,
- a receita pessoal de vinagre fermentado da Dra. Ana Martha,
- azia, gases, queimação… o que pode estar causando, e como resolver tudo isso,
- como o horário em que você faz as refeições pode influenciar no seu bem estar,
- a verdade sobre câncer de intestino e alimentação (e o que a carne vermelha tem a ver com tudo isso),
- por que comer carne vermelha é mais saudável que comer frango no Brasil,
- quais são os 5 hábitos saudáveis que você precisa inserir no seu dia a dia,
- a mensagem final da Dra. Ana Martha para você,
e muito, muito mais!
Então não encare este episódio apenas como entretenimento — e sim como um investimento na sua educação.
Escute, anote, leia, pesquise — porque aqui trazemos os melhores profissionais para ensinar diretamente a você.
Depois de ouvir, fale com a Dra Ana Martha no Instagram @anamarthamoreira — contando que escutou o episódio. Ela vai ficar super feliz!
Você pode ouvir a entrevista completa no player abaixo.
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Dra. Ana Martha Moreira — Transcrição Completa Do Episódio
Antes de mais nada, gostaríamos de registrar nossos agradecimentos à loja Tudo Low-Carb.
A Tudo Low-Carb é um ecommerce de produtos baixos em carboidratos.
E ela ajuda a pagar parte dos custos de edição, transcrição, hospedagem e outros que temos — tudo para conseguir manter o podcast gratuito para você.
Graças à Eliana, dona da loja. Que é uma pessoa super simpática, e adora nosso podcast — tanto que até já participou dele!
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Tendo dito tudo isso, hora do show!
Guilherme: Olá, Tanquinho! Olá, Tanquinha!
Bem-vindos a mais um podcast do Senhor Tanquinho.
Hoje nós temos conosco a Dra. Ana Martha. Tudo bem, Ana?
Dra. Ana Martha: Olá! Tudo bem!
Posso falar “olá, Tanquinho; olá, Tanquinha”?
Guilherme: Claro que pode! O espaço é aqui seu!
Dra. Ana Martha: Olá, Tanquinhos! É muito bom estar aqui com vocês!
Roney: Que legal, Ana.
Seja muito bem-vinda ao nosso podcast.
E também sejam muito bem-vindos todos que estão nos escutando agora.
Para quem não sabe, a Dra. Ana Martha é especialista em intestino e, por isso, nós fizemos questão de chamá-la aqui para falar sobre isso para vocês.
Ana, como você pode começar a se apresentar para quem ainda não te conhece?
Dra. Ana Martha: Ah, muito bem!
Eu sou Ana Martha Moreira e apesar do meu peculiar interesse em intestino, eu tenho gostos bem comuns. Só o intestino é peculiar!
Eu sou médica, formada pela Universidade Severino Sombra, em 2007. Fiz residência em Cirurgia Geral, em São Paulo; e depois eu fiz no Santa Marcelina, Endoscopia Digestiva.
Eu trabalho com doenças do aparelho digestivo desde 2007.
Porém eu só fui entender melhor e desenvolver esse gosto peculiar pelo intestino em 2015, que foi quando eu conheci o mundo da Gastrenterologia Funcional, que procura resgatar o funcionamento normal do órgão, e não apenas tratar o sintoma que está ocorrendo.
Com isso eu conheci os conceitos da Medicina Integrativa e desde então é o que eu venho aplicando na minha prática clínica diária.
Guilherme: É fascinante nós podermos falar um pouquinho sobre saúde intestinal — porque as pessoas têm muitas e muitas dúvidas sobre isso.
Então vamos deixar você responder primeiro qual é a pergunta que você mais escuta no seu dia a dia a respeito de saúde do intestino.
Intestino Preso — A Dúvida Mais Comum
Dra. Ana Martha: Com certeza, a queixa que eu mais tenho no consultório é constipação intestinal, que é o intestino preso.
É interessante porque muitas pessoas, às vezes, vêm com outras queixas e não percebem que tudo começou por conta do intestino preso…
Como elas sempre tiveram o intestino preso, então elas sempre acham que é normal irem ao banheiro duas ou três vezes por semana.
Então, a constipação intestinal é a rainha das queixas no consultório.
E há muito o que fazer para melhorar a constipação.
A maioria das pessoas já vem falando: “Ah, doutora, eu já estou tomando fibra. Mas eu estou comendo muito, fazendo suplementação com fibra e tudo, e não está melhorando”.
Então aí começa, eu acho, o primeiro grande mito.
Não é nem mito, mas sim um pensamento corrente de que constipação intestinal se resolve comendo fibra.
E na maioria das vezes não, não é assim.
Quantas Vezes Devemos Ir Ao Banheiro
Guilherme: Nesse contexto, qual é a frequência certa de evacuação?
Porque isso é uma coisa que nós sempre escutamos as pessoas discutirem.
Elas se perguntam se teriam de ir todos os dias…
Ou se ir ao banheiro a cada três dias está bom…
Ou se o certo mesmo é ir todos os dias, várias vezes ao dia.
Existe uma frequência certa? Ou algum intervalo de frequências dentro do qual estamos saudáveis? Como funciona isso?
Dra. Ana Martha: Se você for olhar a literatura médica, ela fala que o correto seria algo entre duas vezes ao dia, até três dias sem ir.
Isto é, desde ir todos os dias (duas vezes ao dia,) passando por ir uma vez ao dia… até ir uma vez a cada 3 dias.
Só que, quando você conversa com as pessoas, normalmente, se elas ficam três dias sem evacuar; elas já sentem um pouco de desconforto.
Então, o ideal é a evacuação sem força — aquela que você sente a vontade e faz, de forma natural, sem precisar de um esforço demasiado.
É uma evacuação que não dói, que acontece de forma suave e que você, ao terminar, tem a sensação do esvaziamento completo.
Então, às vezes as pessoas vão, por exemplo, todo dia.
Porém, sempre fica a sensação de que sobrou alguma coisa — de que, se elas espremessem, poderia sair mais.
Então você precisa ter a sensação de esvaziamento completo do intestino e, principalmente, não precisar de força.
Não tem que ser algo muito suado ou demorado.
É bater a vontade, bater o reflexo, vai ao banheiro e o cocô sai.
Penso que o ideal, se possível, seria ir todo dia.
Porém, algumas pessoas que têm uma ingesta pouco volumosa podem apresentar uma diminuição do resíduo fecal — e, com isso, ter menos para sair.
E existem as exceções: por exemplo, bebês lactentes.
(Aqueles que são alimentados apenas no seio materno.)
Eles podem ficar até 15 dias sem evacuar e ser normal.
Embora, com certeza, lá pelo décimo dia, ele vai ter desconforto.
Mas, quando nós falamos de crianças que já comem comida, e adultos…
Com certeza o ideal seria uma vez por dia — ou, no máximo, a cada dois dias.
Roney: Perfeito, Ana.
Acho que isso esclarece bastante esse tipo de dúvida que nós costumamos receber. O pessoal ou achando que precisa ir todo dia, e às vezes o normal para essa pessoa pode ser um pouquinho mais.
Mas no geral é uma vez ao dia mesmo e também não o outro extremo, que seria evacuar várias vezes ao dia, né?
Dra. Ana Martha: Várias vezes ao dia também é errado, também é indicativo de um processo digestivo deficiente.
Você Vai Ao Banheiro Com Prazer?
Guilherme: E é interessante notar que é importante a pessoa perceber também como ela se sente.
Não é uma questão apenas numérica — de quantas vezes eu vou ao banheiro.
Mas sim se está sendo um processo agradável ou, no mínimo, indolor, sem esforço.
Dra. Ana Martha: O processo fisiológico tem que ser agradável.
Você não pode sentir desconforto para fazer cocô — assim como você não pode sentir desconforto para comer, assim como você não pode sentir desconforto para respirar.
Então, se há desconforto, é preciso rever alguma coisa.
Tem alguma coisa que não está dentro desse quadro.
Guilherme: Perfeito! Muito importante pontuar isso!
Como Solucionar O Intestino Preso
Roney: Nesse ponto, quem tem problemas para ir ao banheiro, quais são algumas medidas que podem ajudar?
Por exemplo, você já tocou no ponto das fibras.
E essa é, como você falou, uma das grandes questões que chegam para a gente.
“Fibra ajuda mesmo? Eu tenho que comer mais fibras se eu estou com prisão de ventre?”
Então fala um pouquinho, por favor se as fibras realmente ajudam, e quais são as outras medidas.
Dra. Ana Martha: Eu acho que o fator principal é o seguinte.
A maior parte da matéria fecal é água.
Então, se você não tiver uma ingesta adequada de água, a chance de prender é muito maior.
Também existem outros fatores, do tipo hábitos saudáveis, que seriam a questão do movimento.
Hoje é muito comum a gente pegar uma pessoa média que passa 10 horas, 12 horas por dia sentada; que trabalha no escritório, no computador, ou na rotina do dia a dia.
E, na verdade, elas não foram feitas para a inatividade.
Quanto mais inativos nós somos, mais inativos os nossos movimentos intestinais vão ser.
Então, nós temos uma questão de uma ingesta hídrica adequada, pelo menos 35ml por quilo.
(Para uma pessoa de 60kg, daria aquele número mágico de dois litros… mas, se vocês quiserem ser mais precisos, 35ml de água por quilo de peso.)
E, com certeza, atividade física. Nós precisamos nos mover para o intestino se mover também.
E aí entram os fatores dietéticos.
A maior causa de constipação são os alimentos ultraprocessados — são os lixos que nós comemos.
Não tem como querer ter um jardim todo florido dentro do intestino, se nós só despejamos lixo dentro dele.”
Então, uma dieta rica em ultraprocessados, que é a dieta padrão, com certeza não combina com o intestino funcionando bem.
E aí entra a remover… interessante isso porque é um tema até polêmico a questão, por exemplo, do leite e do glúten.
Porém, nós sabemos que a casomorfina e a casoglutenina são derivadas do leite e do glúten, elas são opióides; elas podem sim, acionar os receptores opióides.
E isso também contribui para a constipação intestinal.
Outra coisa que contribui é o uso de medicamentos.
Hoje em dia é muito difícil encontrar um adulto médio, nos seus 30, 35 anos, que não toma nenhum medicamento.
Às vezes usa um antiácido, anti-hipertensivo, algum psicotrópico… e a maioria deles também causa constipação intestinal.
Outra coisa relacionada ao nosso hábito seria a questão do sono.
Também é super difícil encontrar.
A cada dez adultos, se você pergunta se a pessoa dorme bem, não é a maioria que dorme bem.
Então, um sono inadequado também prende o intestino.
Então, são inúmeros fatores que se relacionam com a saúde intestinal e que não estão diretamente relacionados ao intestino em si.
Eu acho que uma das coisas que a Medicina Moderna fez foi fatiar o ser humano em pedaços.
Ortopedista mexe osso; Neurologista mexe com a cabeça; Oftalmo mexe com olho; Otorrino com o nariz, ouvido e boca…
E se perdeu essa visão que todos os órgãos se relacionam entre si e que estão localizados no mesmo corpo — e que, portanto, a função de um afeta a função do outro.
Então eu acho que nós temos que entender, que olhar, que o que acontece no intestino reflete em todo o nosso corpo.
E o que acontece no nosso corpo também se reflete no intestino.
Quando nós falamos de constipação intestinal, ela é multifatorial.
Tem várias causas — e a fibra é sim um conceito delas.
Porém, não é adicionando fibra ao seu alimento que você vai resolver um problema.
Principalmente se o intestino já estiver congestionado.
Se você tem dificuldade de evacuar, aumentar o volume do bolo fecal só vai intensificar o volume que tem que sair, mas ele não vai facilitar a saída.
Às vezes você precisa remover as causas primeiro, seja aumentando a ingesta hídrica, fazendo exercício físico, avaliando a dieta (pois existem algumas coisas, dentro de uma dieta que podem auxiliar)…
E, quando o intestino começar a se movimentar de forma adequada, você avalia a necessidade ou a possibilidade de aumentar a ingesta de fibra.
Então, a fibra não entra na primeira prioridade.
Guilherme: Ela, com certeza, não é o remédio mágico que as pessoas esperam, né?
E pior: muitas vezes, a pessoa não quer nem consertar a alimentação dela.
Quer tomar suplemento de fibra e continuar comendo comida processada, sendo sedentária e tendo os hábitos ruins que estão ocasionando essa situação.
Dra. Ana Martha: Perfeito! E uma coisa que não tem na nossa vida é a pílula mágica. Nós ainda não temos isso.
E aí acontece o abuso de laxativo — porque o laxativo pode ter a ação de aumentar a entrada abrupta de água na luz intestinal e, com isso, expulsar esse bolo.
Só que alguns laxativos promovem uma desnervação intestinal, tem um processo de quimiotaxia e, com isso, vai piorando o quadro.
Então a pessoa que começa a tomar Almeida 46 e acha que aquilo é a melhor coisa do mundo, ou chá de sene ou Cáscara Sagrada, e quando vai ver, está totalmente dependente de remédio para fazer cocô.
Não consegue fazer cocô se não tomar remédio.
Difícil não? É um grande problema.
Como Usar O Magnésio Para Ir Ao Banheiro
Roney: Aproveitando que você tocou no assunto de laxativos, Ana, nós gostaríamos de saber se o Magnésio, principalmente na forma de Cloreto de Magnésio — mas existem outras formas também — ajuda na função intestinal.
Dra. Ana Martha: Olha, o Magnésio é um dos meus auxiliares.
O Cloreto de Magnésio é o mais fácil e acessível para a maioria da população, porque é o que tem disponível na farmácia, já em preparações prontas, e também é o mais barato. E ele tem uma boa ação intestinal.
Quando se fala de intestino, eu gosto muito da forma de Citrato de Magnésio.
Porém, às vezes tem mais dificuldade de achá-lo. Normalmente se encontra em farmácia de manipulação…
Mas o Magnésio, com certeza, tem um efeito fantástico quando se fala em saúde intestinal.
Para quem tem problema de excesso de diarreia e precisa fazer suplementação de Magnésio, às vezes o Magnésio pode piorar esse trânsito e aí o ideal é fazer uma outra via.
Por exemplo: você pode esfregar o Magnésio na pele, que faz a absorção.
Para quem tem intolerância, fazer um escalda pé com Cloreto de Magnésio, por exemplo, também já ajuda a movimentar um pouco o intestino.
Às vezes a pessoa não consegue tomar por algum motivo.
Aí, é só você fazer um banho de imersão, pegar uma bucha, colocar o Cloreto de Magnésio e fazer uma massagem.
Eu gosto muito do Magnésio. Gosto muito mesmo.
E o Cloreto, com certeza, é a forma mais viável para a maioria da população, apesar de não ser a melhor.
Magnésio — As Melhores Formas De Consumir
Guilherme: Qual forma você julgaria a melhor?
Dra. Ana Martha: Para o trato gastrointestinal eu gosto muito do Citrato, o Citrato de Magnésio. E aí entra os que estão quelatos, com algum tipo de aminoácidos…
E para esses, é claro que aumenta o custo.
Eles têm uma ação mais sistêmica e não visando para o trato gastrointestinal — seria o caso do Magnésio treonato, do Magnésio dimalato…
Aí a função deles não seria tanto intestinal. Para intestinal seria, com certeza, o Citrato e o Cloreto.
Guilherme: Ah, excelente!
Recentemente eu vi vendendo também, bastante, o Óxido de Magnésio — e é uma coisa que eu não via muito aparece antigamente.
Ele também tem alguma função intestinal ou ele é mais próximo dos outros compostos?
Dra. Ana Martha: Então, o Óxido de Magnésio também é um tipo de Magnésio, claro. A função dele não é tanto intestinal.
Então, para intestino ele é possível, porém, a disponibilidade dele também é menor. Não é tão liberado no intestino.
E o grande problema dele, é que na verdade, junto com o Hidróxido de Magnésio, o Óxido de Magnésio tem um certo efeito antiácido.
Então eu não gosto muito nem da forma de Hidróxido de Magnésio, nem da forma de Óxido de Magnésio — a não ser que sejam em cápsulas gastrorresistentes.
Mas, se ele for liberado no estômago, ele diminui um pouco a acidez gástrica, o que nem sempre é uma boa coisa.
Então, Leite de Magnésio, não são fórmulas que eu gosto de orientar o consumo.
Prisão E “Soltura” De Ventre Na Dieta Low-Carb
Guilherme: Entendi. Caramba, que legal! Foi uma mini-aula sobre alguns compostos do Magnésio!
Um relato que nós sempre recebemos é o seguinte.
Várias pessoas que começam a fazer uma dieta mais baixa em carboidratos e mais rica em gorduras muitas vezes têm ou prisão de ventre, ou uma certa “soltura” de ventre, digamos assim — isto é, o intestino funciona mais.
E elas muitas vezes perguntam se é pelo excesso de gordura.
O que pode estar acontecendo nesses casos?
Dra. Ana Martha: Sempre que você muda uma dieta, você passa por um período adaptativo. Isso é normal.
Quando normalmente a pessoa fala que constipa, quando está entrando em uma dieta low-carb, na maioria das vezes não está havendo um consumo adequado da gordura. A gordura ajuda esse bolo a descer.
Você imagina que uma pessoa que está vindo de uma dieta lixo padrão e vai fazer uma dieta para emagrecer, entra na low-carb visando emagrecimento, essa pessoa é extremamente resistente em adicionar gorduras, não é?
Ela não vai… a maioria das vezes, porque nós temos toda aquela “gordura engorda, gordura engorda” — o que, claro, não entra no caso.
Pois é claro que calorias importam e a gordura é um alimento imensamente calórico — porém, é um alimento fundamental.
Quando você muda a dieta para lixo padrão, que seu intestino funcionava de uma certa maneira e entra na low-carb, normalmente você vai ter o aumento do consumo de fibras — se você estiver fazendo uma dieta low-carb adequada.
E se você não colocar o consumo de gorduras adequado, o que acontece é que você vai ter o efeito de prender esse intestino.
Agora, se acontece justamente o contrário, a pessoa entra na low-carb para comer bacon, torresmo e tem um excesso de gordura…
Você imagina também que ela não estava acostumada porque a dieta padrão é low fat, ela não estava acostumada com aquela gordura e, com isso, vai ter diarreia adaptativa.
Então pode acontecer essas duas situações.
Porque uma dieta low-carb adequada é mais rica em fibras do que uma dieta lixo padrão, a dieta ocidental.”
Quantidade De Comida E Quantidade De Evacuações
Roney: Perfeito.
Inclusive, eu estava pensando aqui enquanto você falava, que o que pode haver também é que algumas pessoas poderiam ter uma dieta ruim, mas com bastante volume de comida.
E que, quando passam para a low-carb, por ter uma maior saciedade, por ter alimentos mais nutricionalmente densos, passam a ingerir um menor volume de comida.
E talvez isso reflita também, em um primeiro momento, na quantidade de evacuações, né? Ou, pelo menos, no volume.
Dra. Ana Martha: Ah, com certeza o volume de comida influencia: se você comer pouco, vai sair pouco.
Ele não se multiplica dentro do intestino. Vai sair proporcional.
A mesma coisa para a pessoa que começa a fazer jejum intermitente e, com isso, diminui muito o volume de comida que come.
Com certeza, vai fazer menos cocô, com menor volume.
Guilherme: Ah, sim. Isso faz total sentido.
E é uma coisa que às vezes as pessoas têm que ouvir, para finalmente perceberem o que está acontecendo.
Não vai, como você mesma falou, se multiplicar a comida.
Se está entrando menos, vai sair menos.
Dra. Ana Martha: E essa fase da adaptação, o que vai te auxiliar, o que vai ajudar muito, é a ingesta de gordura adequada.
Algumas pessoas gostam, por exemplo, de óleo mineral. Eu não gosto. Porque o óleo mineral é derivado de petróleo.
Eu não passo petróleo na minha cara, então eu não vou engolir petróleo!
Eu não uso óleo mineral nem para maquiagem, nada que tenha óleo mineral.
Imagina comer aquilo!
Então eu gosto do óleo, da boa gordura: gordura animal, azeite de oliva…
Então, a gordura é uma boa aliada intestinal, com certeza, ela é uma boa aliada intestinal; bem como aumentar a ingesta hídrica nesse período de adaptação.
Xilitol E Função Intestinal
Guilherme: Ah, entendi. Bons pontos também.
Continuando nesse assunto alimentar, de funcionamento intestinal, um composto que sempre causa polêmica com o pessoal que está começando, especialmente quem é bem formiga, é o xilitol.
Você pode falar um pouquinho sobre o xilitol?
Dra. Ana Martha: Com certeza!
Na verdade, eu posso falar de todos edulcorantes porque isso é uma coisa que eu pego muito no pé dos meus pacientes.
Sem entrar no mérito de se você tem que tirar o sabor doce ou não… Nós temos dois tipos de edulcorantes: os naturais e os artificiais.
O edulcorante artificial, como a sucralose, que é presente na maioria dos produtos ditos lights, diets e sem açúcar pode induzir a disbiose.
Ela altera a sua flora bacteriana intestinal.
Então, você está comendo tudo certinho, só que todo cafezinho do dia a dia você usa a sucralose, que é o adoçante mais vendido.
Essa sucralose vai, a longo prazo, alterar a sua microbiota e, com isso, levar a uma disbiose intestinal.
Um outro, que é o acessulfame, também presente em produtos sem açúcar, está associado ao leaky gut O acessulfame causa o leaky gut (intestino permeável).
Ele altera a junção das células intestinais.
E aí vem os naturais que são o xilitol, o eritritol, que são os polióis.
Esses polióis, na verdade, não são absorvidos. O eritritol é absorvido, é um pouco mais absorvido.
Falando em termos de microbiota, o xilitol é bem amigo da microbiota.
Ele não é absorvido pelo intestino, pelas células intestinais.
E, por não ser absorvido, ele pode causar uma diarreia osmótica, ou seja, como ele fica dentro da luz intestinal, ele puxa a água para perto dele.
Quando ele puxa a água, ele pode causar uma diarreia osmótica, que é de puxar a água.
Claro que isso é relacionado à dose.
Se você comer um bolo adoçado com xilitol, o bolo inteiro, muito provavelmente você pode ter uma diarreia. E pode levar a um pouco de flatulência.
O poliol é uma cadeia fermentada, tanto que ele faz parte dos FODMAPs, que são Fermentable Oligosaccharides, Disaccharides, Monosaccharides And Polyols, que são os sacarídeos fermentados.
Então, ele pode causar em algumas pessoas distensão abdominal e gases.
O eritritol, por outro lado, tem uma absorção, então ele não fica 100% na luz intestinal e os efeitos gastrointestinais dele tendem a ser menores, tendem a ser mais bem tolerados.
Só que, entre o xilitol e o eritritol, falando em microbiota, o xilitol ganha um pouquinho.
Falando em aceitação gastrointestinal, o eritritol ganha um pouquinho.
Adoçantes Artificiais E Intestino Permeável
Guilherme: Ah, entendi.
Isso é uma coisa que nós já tínhamos descoberto nas nossas pesquisas e depois comprovamos na prática também — nós que gostamos de fazer algumas receitinhas low-carb de vez em quando.
Mas realmente é uma coisa que nós falamos também para o pessoal: a dieta low-carb não é feita para você continuar comendo um monte de doce, apenas trocando o açúcar por adoçante.
É para você reduzir a frequência, a quantidade também.
Não é para comer o bolo todo de xilitol, senão… não vai ser agradável.
Dra. Ana Martha: Não vai ser!
E assim, dentro dos edulcorantes, com certeza, o xilitol, o eritritol — os polióis — ganham de lavada dos edulcorantes artificiais.
Guilherme: Ah, com certeza.
Eu achei muito curioso o que você falou do acessulfame e do intestino permeável porque eu sempre tive um pé atrás com esses adoçantes artificiais — mas mais por um princípio de precaução, um princípio evolutivo.
Eu não sabia que tinha já essa evidência causal entre eles. Mas é legal saber! Mais um motivo para evitar esse tipo de edulcorante.
Dra. Ana Martha: Exatamente!
A sucralose, os estudos mostrando os efeitos de disbiose foram feitos em ratos…
Guilherme: Esse eu vi!
Dra. Ana Martha: Foi modelo animal. Não foi modelo humano. Mas é uma coisa a se pensar.
Agora, o do acessulfame foi feito em modelo de intestino humano. O acessulfame causa sim o leaky gut.
Probióticos, Prebióticos, E Saúde Intestinal
Roney: Ah, caramba, interessante, Ana.
Ana, falando em prebiótico, você poderia falar um pouco mais para a gente sobre prebiótico e probiótico?
Também é uma questão que gera bastante dúvida entre os nossos leitores.
Dra. Ana Martha: Perfeito!
Os probióticos são as bactérias.
Na verdade, são os micro-organismos — porque alguns fungos vão servir também como probióticos.
São micro-organismos que podem tanto estar vivos, quanto até mortos.
Antigamente se achava que a bactéria, para ter um efeito benéfico, tinha que chegar viva no intestino.
Hoje já se sabe que, mesmo morta, mesmo em fragmento, ela já tem esse efeito benéfico na saúde da pessoa que está se alimentando com aquele alimento ou com aquele suplemento probiótico.
Então, para ser considerado probiótico, a bactéria tem que mostrar um efeito benéfico, em uma determinada dose, para a saúde da pessoa que está tomando.
O prebiótico é o alimento que alimenta essa bactéria que mora no intestino.
Hoje nós sabemos que o prebiótico não necessariamente é fibra, que antigamente nós falávamos que prebióticos eram as fibras que alimentavam as bactérias.
Hoje nós já sabemos que existem alguns fitoquímicos, alguns produtos derivados de algumas frutas, vegetais, que podem agir como prebióticos.
Então não necessariamente é uma fibra.
Isso já é uma mudança de paradigma.
Porque antes acreditava-se que a única coisa que ia fazer bem ao intestino era a fibra.
Guilherme: Ah, entendi.
E nesse caso dos prebióticos nós podemos incluir novamente esses FODMAPs que nós tínhamos mencionado — tipo, os frutanos, polióis, e afins?
Dra. Ana Martha: Os FODMAPs são alimentos pró-bactérias, só que não necessariamente prebióticos.
Porque, por exemplo, existem coisas que entram nessa alimentação das bactérias como, por exemplo, a lactose.
A lactose é um FODMAP. Outra coisa… a frutose.
A frutose também é um FODMAP. E eles não são necessariamente prebióticos.
Guilherme: Ah, entendi. Boa essa distinção.
Dra. Ana Martha: Porque assim, quando você vai pegar o conceito literal de prebiótico, ele tem que ser uma algo que você coma (que normalmente antes se achava que era fibra — mas hoje nós já consideramos os flavobióticos, que não são necessariamente fibras); que não é digerível, mas que tem que ter efeitos positivos na saúde do hospedeiro, para as bactérias que habitam esse hospedeiro.
Então, quando você pega, por exemplo, uma frutose, ou que ela foi adicionada artificialmente — os xaropes — ou você pega uma lactose, você pega os frutanos do trigo; eles não têm um efeito positivo, entendeu?
Então, apesar de alimentarem as bactérias, o que falta para eles serem prebióticos é esse efeito positivo.
Então, semanticamente, é isso que diferencia.
Guilherme: Entendi.
Então, talvez, uma frutose ou lactose, uma coisa adicionada, o frutano do trigo, não poderiam ser prebiótico…
Enquanto, por exemplo, talvez uma cebola crua poderia ter um efeito mais positivo, por causa do contexto da alimentação também?
Dra. Ana Martha: Sim. Depende do fato de ele ter um efeito benéfico, positivo, para a saúde do hospedeiro.
Então, com certeza, o frutano alimenta a bactéria, não de uma forma positiva.
E entra aí até o conceito dos flavobióticos, que eu te falei, que antes se achava que quem tinha esse efeito positivo eram as fibras.
Hoje nós já temos uma classe de ativos que são os flavobióticos, que são derivados, principalmente, de cascas de frutas cítricas; que têm esse efeito positivo na microbiota. E não são fibras!
Amido Resistente E Saúde Intestinal
Guilherme: Então, eu acho que uma última pergunta aí sobre prebióticos — porque é uma também que a gente recebe de monte — é sobre o amido resistente: fécula de batata, banana verde e tudo isso. São prebióticos? Eles são positivos para a saúde do hospedeiro?
Dra. Ana Martha: Eles são sim, são considerados prebióticos.
A chamada biomassa de banana verde é um excelente prebiótico.
Então, esses amidos resistentes têm um efeito positivo na microbiota intestinal, com certeza. É diferente do frutano. Não tem como dizer que é a mesma coisa.
Kefir — Toda A Verdade Sobre Ele
Guilherme: Está certo então.
Então agora, nos probióticos, o que o pessoal gosta de consumir mesmo é o kefir — gostam de bater com fruta e tudo mais — e, ele é benéfico para a saúde?
Tem que ter algum cuidado especial quando você vai consumir kefir? Tem alguém que, por exemplo, não deveria consumir? Qual é a verdade sobre o kefir, Ana?
Dra. Ana Martha: Olha, eu sou muito a favor do kefir, gosto do kefir.
Há coisas que, assim, a gente ouve falar, os efeitos negativos do kefir…
Mas eu acho que tem muita bronca da indústria farmacêutica — porque você consegue controlar um probiótico em cápsula, entendeu?
Você tem esse controle, você vende e você lucra.
O kefir, ao contrário, você não tem controle nenhum sobre ele.
Então a maioria das coisas que eu vejo falando mal, digamos assim, sobre o kefir, na verdade são objeções que, para mim, vem da indústria farmacêutica; já que eles não podem ter controle e não lucram com isso.
A única ressalva que eu realmente faço é que você não tem controle mesmo sobre o que está crescendo naquela solução, na colônia que você está fermentando.
Fermentações muito prolongadas, mais de 24, 48h…
Em que a colônia fica sem trocar o líquido por mais de 48 horas, podem favorecer a contaminação da colônia com fungos patogênicos.
Então, essa é a única ressalva que eu faço.
E também, claro, você não consegue controlar, se todo o açúcar que você colocou naquela fermentação, naquele processo de fermentação, foi fermentado.
Mas eu não vejo como isso pode ser um grande problema, a não ser que você seja um diabético de difícil controle. Entendeu?
Mas para a população normal, em geral, não vai ter problema — porque 99% do açúcar vai ser consumido pela colônia.
Então assim, eu gosto muito do kefir, eu gosto muito do kefir de água.
O kefir de leite existe o problema de que você tem uma quebra parcial da caseína, então para quem não tem problema com a caseína, vai ser mais fácil a digestão.
Para quem tem problema com caseína, vai continuar tendo a caseína.
E dependendo, para os intolerantes à lactose, você pode ou não, ter intolerância.
Algumas pessoas não vão ter porque a lactose vai ser consumida.
Os mais sensíveis podem sim vir a ter problema, e isso levar a mais gases, a um desconforto intestinal um pouco maior porque o resíduo de lactose pode reagir.
Mas o kefir de leite para a grande maioria da população não vai ter problema.
(Todos estes pontos se aplicam no caso dos queijos e outros laticínios na dieta low-carb.)
E o kombuchá também é muito bom. Eu acho até que ele é mais prático de fazer do que os outros. Eu gosto muito dele.
E também tem outros. Os outros eu não conheço. Mas tem um que é — eu esqueci o nome — que é não sei o quê do Mar Cáspio.
Esse eu nunca vi, nunca comi e não tenho muito acesso a estudos sobre ele.
Guilherme: Aqui na Europa tem o skyr, que é um probiótico que vem da Islândia…
Dra. Ana Martha: É isso!
Guilherme: Eu acho bem saboroso.
Dra. Ana Martha: Aqui a gente não tem acesso a esse, mas todo mundo fala muito bem.
Roney: Aqui em São Paulo começou a vender agora a kombuchá já pronto.
Dra. Ana Martha: Então, eu já vi, só que o custo benefício desse kombuchá é de R$16 uma garrafinha de 200ml.
Roney: É verdade.
Dra. Ana Martha: Eu acho que para consumo, eu acho que é pouco… a não ser que você queira consumir de modo recreativo, de vez em quando, uma bebida diferente.
Para quem só bebe água, chá, café, o kombuchá, pagando R$16 em uma garrafinha, pode ser.
Agora, para quem visa o consumo diário para a saúde, acho que já fica inviável.
Roney: Nossa, realmente é melhor procurar outras opções por esse valor. Eu não sabia que esse era o preço.
Dra. Ana Martha: Eu já experimentei alguns prontos e são uma delícia.
Guilherme: Eu também já provei prontos em uma feira low-carb. E é bem gostoso!
É tipo um refrigerantezinho, bem saboroso.
Mas é o que você falou: jamais consumiria diariamente por essa faixa de preço.
Alimentos Fermentados — Outras Opções De Comidas Amigas Do Intestino
Dra. Ana Martha: Pois é!
E existem as comidas fermentadas!
As conservas, que antes nós fazíamos mais e hoje nem fazemos. O próprio iogurte!
Não aqueles petit suisses coloridos, com saborizante e corante, de supermercado.
Mas o iogurte mesmo, que é leite e fermento lácteo, também é uma comida probiótica. Faz bem para o intestino.
E fermentados: vinagre, conservas, chucrute, picles — você pode fazer picles de diversos tipos de vegetais, não necessariamente pepino.
Então eu acho que existe muita coisa para você variar na dieta gut friendly, digamos assim. Existe muita coisa legal.
Roney: Ah, com certeza, Ana! Muito legal!
Às vezes esses fermentados ficam um pouco esquecidos, mas é sempre bom lembrar que eles também são muito favoráveis à saúde intestinal, como você lembrou muito bem.
Dra. Ana Martha: Depois eu vou passar para os Tanquinhos a minha receita de vinagre, que é amigo do intestino.
A Exclusiva Receita De “Vinagre Amigo Do Intestino” Da Dra. Ana Martha
A receita do vinagre é bem fácil.
- Pego de 500 ml de caldo de cana fresco, não pode ser pasteurizado.
- Coloco em uma garrafa de vidro, tipo aquelas de suco de uva.
- E então cubro a boca do recipiente com um voal, ou um tecido fino, e amarro com um um barbante para que não entre nenhum tipo de sujeira.
- Aí esqueço ela em um canto escuro por uns 20 dias (se estiver um clima frio, pode levar até uns 40 dias para dar certo).
- Então vai começar a “nascer” uma colônia de bactérias, parecidas com o scooby do kombucha, a chamada “mãe do vinagre”. Ela pode ser separada e colocada em sucos pasteurizados para iniciar o processo em outros vinagres.
- Com essa “mãe” o processo de fermentação é muito mais rápido, e seu tempo cai pela metade.
- Aí é só separar o conteúdo em um outro frasco limpo, de preferência de vidro e utilizar quando desejar.
- Eu, por exemplo, colocava um pouco em frascos de spray, e usava para espirrar na comida.
Dra. Ana Martha: E eu vou te falar: comida fermentada é uma coisa que nós perdemos a cultura.
Você vê que isso porque nós não gostamos mais do sabor fermentado da comida.
As pessoas não comem mais iogurte.
Elas acham azedo porque elas comem aquelas bebidas lácteas e extremamente adocicadas.
Mas a comida fermentada tem esse gosto fermentado, esse gosto azedo, que é bom, é saudável e a gente precisa passar a se acostumar.
Roney: É verdade. E quando você se acostuma, passa até a ser gostoso.
Eu mesmo, quando vou tomar algum iogurte, pego sempre aquele integral, só de dois ingredientes e eu acho, particularmente, gostoso de consumir.
Dra. Ana Martha: Eu também!
Azia, Gases, E Dieta Low-Carb
Roney: E mudando um pouquinho agora de assunto, Ana, a gente vê muitas pessoas, às vezes, se queixarem de azia ou de gases, principalmente por mudarem de uma dieta que elas vinham, para uma dieta low-carb.
E elas sempre acabam perguntando se é culpa da dieta.
Mas também tem gente que se queixa de azia e de gases, mesmo sem ter mudado para uma dieta low-carb, fazendo uma dieta padrão.
Então, o que nós queríamos perguntar é se geralmente azia e gases estão relacionados à alimentação e o que pode estar causando isso, na alimentação.
Ou se também tem outros fatores que precisam ser investigados quando a pessoa tem azia e gases.
Dra. Ana Martha: Perfeito. Eu vou dividir isso no tópico azia e no tópico gases.
Normalmente, as comidas que dão azia são as comidas industrializadas.
Então a maioria das pessoas relatam melhora de até 100%, 80%, 90% dos sintomas de azia com uma dieta de comida de verdade.
Agora, se você estiver fazendo uma low-carb em que come só receitinha, só pão low-carb…
Aí pode ser que continue com a azia — porque não deixa de ser um alimento processado.
Mas as grandes coisas relacionadas à azia são o trigo, o leite, o milho, a soja, o amendoim…
Então na dieta low-carb você praticamente não come esse tipo de alimentos — tirando o amendoim, que é low-carb, você não come esses alimentos.
Então, se você está fazendo uma dieta low-carb e continua sentindo azia, aí pode ser ou a gordura da comida, que está abrindo um pouco o esfíncter do esôfago (que é o que impede a comida de voltar).
A gordura tem esse efeito de relaxar o esfíncter e, como você não estava acostumado a comer — porque normalmente a dieta padrão é low fat — pode estar tendo esse problema na adequação.
Então, são coisas que se relacionam com a azia: gordura, pimenta, café… você aumentou o volume de café, está comendo mais gordura, pode sim vir acompanhado de azia.
Mas o que eu vejo é justamente o contrário: a diminuição da azia quando a pessoa corta os farináceos. Elas realmente melhoram da azia.
Agora, com relação a gases, os gases necessariamente são produzidos pela nossa microbiota.
Nós não produzimos gases no nosso processo digestivo normal. Então, se está tendo um excesso de gases, isso se relaciona à fermentação da comida relacionada à microbiota. E aí pode ser por conta da mudança.
Normalmente a dieta padrão é baixa em fibras e quando você migra para a low-carb, que é alta em fibras, as bactérias podem reclamar um pouco e começam a fermentar mais. E isso dá essa sensação de gases.
E também tem uma questão de que quando normalmente você consome low-carb, você aumenta o consumo da proteína.
Se você não tiver com o processo digestivo em dia, sem ácidos no estômago, você não consegue digerir de forma eficaz e eficiente as proteínas.
Se sobrar proteína no intestino, pode vir a fermentar e dar gases também.
Então assim, eu consigo imaginar esses dois cenários. Se vocês quiserem complementar alguma coisa…
Roney: Perfeito, Ana! Acho que ficou muito bem elucidado esse ponto. Nós também concordamos com esses cenários.
Guilherme: Eu já senti um pouco de queimação num cenário específico, mesmo com uma dieta mais limpa.
Foram algumas vezes em que eu comi com “muita sede ao pote”.
Se, por exemplo, tinha uma restrição de horário para almoçar, e eu acabei comendo muita comida, muito rápido.
Especialmente muita proteína, como você mencionou — e aí eu fiquei com um certo desconforto depois.
Mas, de resto, ao retirar o lixo processado da alimentação, essa azia e queimação é algo que nunca mais aconteceu — pelo menos na minha experiência pessoal.
Horários Das Refeições E Seu Bem Estar
Dra. Ana Martha: Uma coisa também é, justamente, que na low-carb você acaba comendo menos vezes ao dia… na dieta normal você come de três em três horas.
Na low-carb normalmente você almoça, janta e faz alguma refeição menor.
Às vezes o volume de comida maior à noite pode favorecer o refluxo e dar azia.
Então, uma estratégia inteligente seria você comer comida mesmo, até umas 18h, 20h.
E não jantar muita comida depois disso, principalmente se já estiver muito perto do horário de deitar — pelo menos quatro horas antes de deitar.
Então assim, eu gosto muito de, na estratégia do jejum intermitente, você comer cedo.
Em vez de você comer tarde e pular o café da manhã.
Para quem tem refluxo, isso faz muita diferença.
Guilherme: Ah, com certeza.
É uma estratégia que eu comecei a adotar quando eu fiz o desafio da dieta carnívora.
Eu experimentei com um modelo de ETRF — early time restricted feeding.
Eu comia mais ou menos das 12h às 18h, algo coisa assim.
E eu gostei tanto disso que eu acabo mantendo hoje em dia também.
Não como mais a dieta puramente carnívora (voltei com os vegetais, além das carnes) — mas esse padrão alimentar funcionou muito bem para mim.
Dra. Ana Martha: Esse padrão é perfeito.
É extremamente amigável do intestino e do estômago porque, assim, do processo digestivo e do seu sono.
Roney: Exatamente. A gente, inclusive, entrevistou o Dr. João Gallinaro recentemente e ele falou a mesma coisa: que esse padrão alimentar seria bom para o sono.
Então nós vemos que as coisas não são por acaso.
Como você falou no começo da entrevista, nós não podemos olhar só o intestino, ou só o sono, ou só os rins.
A gente tem que olhar o corpo como um todo.
Nessas horas nós vemos que tudo faz sentido, realmente uma coisa está conversando com a outra.
Dra. Ana Martha: Exato.
E quando você conversa entre os órgãos, entre si, as estratégias, você vai ver que as estratégias saudáveis fazem sentido para o corpo inteiro.
Não é só para uma coisa. Uma estratégia saudável tem que beneficiar toda a saúde da pessoa.
Câncer De Intestino: Alimentação, Carne Vermelha, E Muito Mais
Roney: E agora, Ana, uma das últimas questões que nós queríamos abordar agora — até porque o Guilherme falou em dieta carnívora — é uma coisa que muita gente se pergunta.
Especialmente quando nós falamos em intestino e em carne.
É a questão de se a carne causa câncer de intestino, e se o câncer de intestino está relacionado à alimentação, à questão de histórico familiar e tudo isso.
Então, essa é uma coisa que nós gostaríamos que você elucidasse — afinal, você é a especialista nessa questão do intestino.
Dra. Ana Martha: Com certeza o câncer de intestino está relacionado à alimentação.
É aquela analogia: você não pode querer que o seu jardim floresça se você está com um lixão no seu intestino.
Se você tem uma dieta rica em lixo industrializado, você vai ter maior predisposição ao câncer no intestino.
Agora nós temos um viés nas pesquisas, principalmente quando se relaciona à carne e câncer no intestino, que as pessoas esquecem do fator comportamental, que é um fator confudidor.
Por quê?
Porque quando se fala “carne faz mal à saúde” e você vai ver os artigos que se relacionam a isso, normalmente tem a pessoa que “come muita carne” na verdade é a pessoa que “sabe” que comer carne faz mal.
Então o que isso diz sobre ela?
Que é o tipo de pessoa que está pouco se importando com a saúde dela.
É a mesma pessoa que fuma mais, é a mesma pessoa que bebe mais bebidas alcóolicas, é a mesma pessoa que come mais industrializados.
Não existe uma pesquisa séria falando de pessoas que tenham uma dieta low-carb ou high protein, na verdade, e pessoas que tenham estilo de vida saudável.
E, por exemplo, uma das coisas que o pessoal fala que favorece o câncer seria a presença do ferro na carne.
Porque a carne é rica em ferro, e o ferro causaria câncer — porque seria alimento para as bactérias intestinais.
As pessoas esquecem de falar que, na verdade, a maior causa desse ferro não digerido no intestino é o ferro adicionado às farinhas refinadas.
Este é o chamado ferro não-heme, que é muito ruim de ser absorvido e fica sobrando dentro do seu intestino.
E nós temos uma adição compulsória de ferro na maioria das farinhas refinadas — seja na farinha de trigo, farinha de milho, farinha de arroz… a maioria tem ferro.
Ferro e ácido fólico.
Então assim, o pessoal fala muito do ferro da carne, mas ninguém fala do ferro do biscoito.
Outra coisa é que, quando você fala de carne e câncer, você fala de disbiose, que é a alteração das bactérias.
Só que o que leva a essa alteração bacteriana não é a carne — e sim a comida lixo que vem junto quando a pessoa está comendo teoricamente “muita carne”.
Porque quando se faz esses estudos e pergunta se você comeu carne, o cara vai no churrasco e fala: “Ah, eu como muita carne, eu fui em um churrasco nesse final de semana”.
Só que o cara come 100 gramas de carne, 200 gramas de pão de alho e um litro de cerveja.
E a culpada da situação é a carne!
Uma das coisas que acabam com o intestino é o álcool, é o consumo de álcool!
E as pessoas estão bebendo cada vez mais.
Então a pobre da carne leva uma culpa por todas as outras coisas que estão fazendo. Chega a ser até injusto.
A pessoa vai no churrasco, só toma cerveja, come uns 100 gramas de picanha: “Ai, meu Deus, a picanha caiu mal na minha digestão”.
A pessoa não acha que foi o litro de cerveja que ela bebeu.
Então o perfil de pessoas que “come muita carne” é de quem come hambúrguer todo dia.
Aí você vai ver o que é o hambúrguer: são 100 gramas de carne, 200g de pão, 300g de batata, e um litro de Coca-Cola.
O Big Mac da vida não tem “muita carne” — é muito mais carboidrato mega processado do que carne.
Assim, não existe um estudo sério relacionado só ao consumo de carne, considerando essas outras variáveis.
E isso é uma coisa que as pessoas não levam em conta.
O problema não é a carne, o problema não é a gordura saturada de origem animal.
O problema é a disbiose intestinal causada por inúmeros fatores.
Guilherme: Excelente!
Dra. Ana Martha: Eu não sei se eu consegui responder…
Guilherme: Era isso mesmo! Porque essa variável de confusão realmente atrapalha.
E até mesmo o fato até de muitos estudos não separarem a carne processada (hambúrguer do McDonald’s) da carne não processada (picanha grass-fed) também é mais um fator de confusão, que acaba misturando as coisas.
A pessoa fala: “Ah, eu como muita carne! Eu vou ao Mc Donalds todo dia”.
Mas aquele hambúrguer tem 100 gramas de carne, se tanto.
Enquanto, como você disse, tem junto um monte de pão, refrigerante, batata e sobremesa — e tudo isso, com certeza, atrapalha mais.
Assim como o pão de alho, o pão francês, a maionese com óleo vegetal e os litros de cerveja estão juntos da coitada da picanha no churrasco.
Dra. Ana Martha: Então, quando você pega e faz o diário alimentar, a maioria da população não come muita carne! Não come!
Essa ideia de que todo mundo come muita carne não é tão verdadeira assim.
Guilherme: E é engraçado que existe essa percepção pública de que a carne faz mal.
Quando eu falei para as pessoas que eu estava fazendo o meu desafio vegetariano por uma semana, muita gente me incentivou.
Quando eu falei que ia fazer o desafio carnívoro por uma semana, as pessoas acharam que eu ia morrer.
Existe um medo bem generalizado da carne — é uma coisa que está bastante no imaginário das pessoas.
Dra. Ana Martha: E isso é uma coisa, que se você pega todos os documentários, os CowsPiracy da vida…
Eles mostram a carne como sendo um alimento ultraprocessado, por conta das condições de abate e tudo — enquanto que a realidade no Brasil é completamente diferente.
Enquanto o nosso frango que — teoricamente, o peito de frango é uma coisa extremamente saudável — o nosso frango de granja come ração que é à base de milho, à base de trigo.
E o boi brasileiro, pelo menos a maior parte dos bois brasileiros, é alimentado a pasto.
Ou seja, é completamente contrário. O nosso boi é saudável. Ele é muito mais saudável do que o nosso frango.
Guilherme: E muito mais saudável do que a nossa soja, milho e trigo.
Dra. Ana Martha: Com certeza, com certeza.
Eu moro no Nordeste, e a gente está no paraíso: porque praticamente todos os nossos carneiros, os nossos bodes, os nossos bois são vindos de pasto.
Então o que não faltam são opções boas e saudáveis de carne.
Hábitos Saudáveis Para O Seu Dia A Dia
Guilherme: Com certeza.
Ana, a gente conseguiu falar de muita coisa boa.
E estamos chegando agora na parte final da entrevista.
Uma pergunta que nós sempre gostamos de fazer é: quais são outros hábitos saudáveis que você tem no seu dia a dia?
Claramente, no seu caso, eles envolvem comer comida de verdade, pouco processada, e com algumas coisinhas fermentadas aqui e ali.
Mas o que mais você faz no seu dia a dia em termos de hábitos para ter uma boa saúde?
Dra. Ana Martha: Eu acho que existem cinco hábitos absurdamente saudáveis que todo mundo tinha que ter.
O primeiro é o sono.
Uma noite de sono adequada e reparadora é fundamental tanto para a saúde intestinal, quanto para a saúde geral.
O segundo é o exercício físico.
Sem exercício físico não há uma vida saudável.
E não necessariamente, é claro, uma musculação — que é o exercício perfeito.
O importante é você se mover, ter uma vida ativa. Se você não consegue ir para a musculação, você deve caminhar mais, subir escada, procurar fazer as coisas de forma fisicamente ativa.
Se você trabalha no computador, a cada uma hora dê um tempo para você se esticar, alongar, mover a sua face… isso é saudável.
O terceiro é a alimentação. Nós falamos bastante sobre ela hoje.
O quarto é o controle do estresse.
Nós vivemos em uma sociedade extremamente tóxica no sentido de estresse.
Então esse controle de estresse é fundamental, até para o seu processo digestivo — a gente vive em uma adrenalina, corre, corre, corre, luta ou fuga.
Então, precisamos do parassimpático, que é o comer e descansar.
Se você não consegue se concentrar e melhorar esse parassimpático, você vai ter um péssimo processo digestivo.
Então, precisamos do controle do estresse (que pode vir praticando técnicas de mindfulness, por exemplo), principalmente durante o ato da alimentação.
Você estar presente para se alimentar é fundamental — e não comer olhando o noticiário ou o celular, ou respondendo e-mail.
E o quinto seria, com certeza, as nossas conexões pessoais.
No mundo em que nós vivemos conectados virtualmente, a falta do contato humano é algo extremamente solitário.
Então, ter essa comunidade, você ter um senso de comunidade — seja uma comunidade de igreja; seja uma comunidade low-carb, que você faz parte…
Eu tenho uns pacientes que são celíacos, e eles fazem parte de uma comunidade celíaca.
Esse senso de comunidade é fundamental para a nossa saúde.
E isso é engraçado, porque tem um artigo que fala que a solidão mata mais do que o cigarro.
Então, a gente precisa se conectar com outras pessoas — e, claro, se conectar com uma ligação superior, seja qual for a sua religião.
No meu caso, eu sou cristã. Então, você ter uma conexão com o divino, essa figura de que há algo um pouco além do que nós somos…
Eu acho que isso dá um senso de pertencimento, que é fundamental para a boa saúde.
Siga A Dra. Ana Martha
Roney: Ah, que legal, Ana! Com certeza esses são hábitos muito importantes e saudáveis e que as pessoas só têm a se beneficiarem ao adotarem.
E, por fim, nós gostaríamos de mais duas coisas antes de finalizarmos: que você deixasse as suas redes sociais, os seus contatos, para quem quiser te acompanhar e saber mais sobre a saúde intestinal.
E também que você deixasse uma mensagem final — pode ser qualquer coisa — para quem nos ouviu até aqui.
Dra. Ana Martha: Então, vocês conseguem me encontrar no Instagram: é @anamarthamoreira.
Eu acho que é a maneira mais fácil de entrar em contato comigo, eu estou sempre por lá.
A Mensagem Final Da Dra. Ana Martha Para Você
E o recado que eu quero deixar é que, por mais que as especialidades médicas tenham loteado o ser humano em subespecialidades, nós não somos várias partes ou vários órgãos. Nós somos um só.
E o que acontece no intestino não fica restrito ao intestino.
O caminho mais fácil para uma saúde ideal é a correção das doenças intestinais.
Então, a busca da saúde começa com a recuperação intestinal.
E muito obrigada a todos que ficaram nos ouvindo até o final.
Guilherme: Com certeza!
Muito obrigado, Ana, pela sua presença aqui.
Muito obrigado a todo mundo que ouviu.
Eu acho que quem ouviu até o final e estava fazendo atividade física, ou estava limpando a casa, ou estava cozinhando, ou estava dirigindo…
Vai querer ouvir de novo e anotar as informações boas que você compartilhou aqui — porque foi uma verdadeira aula.
Então nós só temos a agradecer por você ter vindo aqui compartilhar um pouco dos seus conhecimentos com a gente.
Obrigadão.
Dra. Ana Martha: Olha, muito obrigada pelo convite. Obrigada mesmo!
Vocês realizaram um sonho — porque agora eu finalmente estou em um podcast!
Roney: Que legal, Ana!
Nós ficamos contentes que você tenha gostado de participar e também contentes por esse monte de valor que você entregou nessa uma hora de podcast.
Guilherme: Com certeza, o pessoal vai gostar; vai, talvez, ter dúvidas — e, se tiverem mais perguntas, nós iremos adorar receber você novamente.
Esperamos que você tope realizar o sonho uma segunda vez.
Dra. Ana Martha: Com certeza!
Guilherme: E para quem nos ouviu até aqui, se inscreva no podcast para ouvir mais episódios bons.
Toda segunda-feira nós temos especialistas, como a Dra. Ana Martha; o Dr. João Gallinaro, que nós falamos sobre sono…
Nós temos muita, muita gente boa, que nós estamos trazendo, e se você se inscrever, vai receber todos os episódios de graça no seu celular.
Roney: Então é isso aí, gente.
Muito obrigado a quem nos escutou até agora.
Muito obrigado, novamente, à Ana.
E se você gostou do episódio, faça como o Guilherme falou: se inscreva, deixe o seu comentário, deixe a sua avaliação cinco estrelas.
Isso vai ser muito importante para esse podcast chegar a cada vez mais gente.
Guilherme: Então, Ana, obrigado novamente.
Obrigado a você, Tanquinho e Tanquinha, que nos ouviu até aqui.
E a gente se vê na segunda-feira que vem.
Um forte abraço, do Senhor Tanquinho.
O post Podcast #49 – Dra. Ana Martha Fala Tudo Sobre A Saúde Intestinal: Água, Adoçantes, Frequência De Evacuações, Fibras, Prebióticos, Probióticos, E Muito Mais apareceu primeiro em Senhor Tanquinho.
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