Podcast #052 — Dr Victor Miranda Fala Tudo Sobre Diabetes, Obesidade, E Qualidade De Vida
Quando nós promovemos saúde, quando nós corrigimos a base do metabolismo, a base fisiológica que está errada naquela pessoa, nós conseguimos mandar a doença embora.
No episódio de hoje, trazemos o Dr. Victor Miranda.
O Victor é médico do esporte, por formação.
Mas sua grande paixão é por promover a saúde de uma forma mais completa, especialmente ajudando seus pacientes por meio de intervenções de estilo de vida.
Escute este episódio atentamente para ouvir o Victor falar tudo sobre:
- sua visão sobre saúde e estilo de vida,
- quais os 4 hábitos terríveis que mais trazem a morte,
- o que precisamos fazer para “mandar a doença embora”,
- o cuidado com o curto, o médio, e o longo prazo,
- a importância da adesão no seu plano de dieta e exercícios,
- como equilibrar a necessidade do paciente com seus gostos pessoais,
- a negociação para fazer mudanças importantes e a relação médico-paciente,
- diabetes: o que causa (e como prevenir),
- os 4 passos para avaliar sua tendência ao diabetes,
- qual é a relação entre diabetes e obesidade,
- os fatores que estão na base da epidemia de obesidade,
- o que é densidade nutricional e como ela pode te ajudar a emagrecer.
- como pensar nos seus alimentos (e por que não comprar alimentos que fazem propaganda de seus benefícios),
- os hábitos saudáveis do Victor (leitura, meditação, amigos e mais),
- a mensagem final que o Victor deixou para você,
e muito, muito mais!
Então não encare este episódio apenas como entretenimento — e sim como um investimento na sua educação.
Escute, anote, leia, pesquise — porque aqui trazemos os melhores profissionais para ensinar diretamente a você.
Escute o episódio no player abaixo.
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E, depois, siga o Victor no Instagram ( https://www.instagram.com/drvictormiranda/ ) e manda um direct para ele contando que ouviu o podcast. Ele vai amar saber disso!
Você também pode acessar o site do Victor: https://www.drvictormiranda.com.br/
Mas, antes de mais nada, escute (ou leia) esta entrevista espetacular.
E perceba como, nas palavras do Victor: “A vida foi feita para que a gente seja feliz, para que a gente tenha proveito, para que a gente tenha alegria, para que a gente tenha saúde, disposição, todos os dias.”
Transcrição Completa Do Episódio
Aviso: Este podcast está sendo oferecido a você pela loja Tudo Low-Carb.
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Guilherme: Olá, Tanquinho! Olá, Tanquinha!
Sejam bem-vindos e bem-vindas a mais um episódio do nosso podcast.
E hoje nós contamos com o Dr. Victor Miranda. Tudo bem, Victor?
Dr. Victor Miranda: Olá, gente! Tudo bem? Boa tarde! Como é que vocês estão?
Roney: Opa, Victor! Tudo bem por aqui.
E para quem não conhece, o Victor é médico, por isso que nós o trouxemos aqui.
E, Victor, como você pode começar se apresentando para quem está nos ouvindo, mas ainda não te conhece?
Dr. Victor Miranda: Vamos lá!
Meu nome é Victor, eu sou médico do esporte, de formação, minha residência foi em Medicina Esportiva, e atualmente eu estou em São Paulo.
Eu me interessei muito por essa ciência — dos bons hábitos, da alimentação, do esporte e da saúde como um todo — já na minha faculdade, que foi quando eu comecei a descobrir todo esse processo, o poder que a saúde tem sobre a doença.
E eu comecei a dividir um pouco o meu estudo focando mais em promoção de saúde, por isso que eu escolhi essa residência em Medicina Esportiva.
Então, de maneira bem resumida mesmo para a gente começar: sou Victor, sou médico do esporte, tenho uma pós-graduação aí na área de Nutrologia, uma pós-graduação em Medicina Integrativa também, e atuo como promotor de saúde.
Guilherme: Bom, muito bom!
E sobre essa sua formação, o que você acha que ela forneceu a você de diferente — com a sua experiência fora, por exemplo?
Quais perspectivas novas relacionado à visão tradicional que você acha que talvez a maioria dos estudantes tenham na graduação?
A Visão Do Victor Sobre Saúde E Doença
Dr. Victor Miranda: O que aconteceu foi o seguinte: a nossa faculdade é muito boa em tratar doenças.
Nós somos excelentes médicos, prescritores de remédios para tratar determinadas doenças.
Porém, o padrão de adoecimento da população mudou muito e as doenças agudas, que necessitam de remédios imediatos e certeiros não são as que mais nos matam atualmente.
O que mais nos mata atualmente são as doenças crônicas não transmissíveis.
E aí existe um grande número de doenças nesse grupo: a hipertensão é uma, a obesidade é outra, o diabetes, a doença renal crônica, a depressão, enfim, as doenças pulmonares devido ao cigarro e outras complicações…
Esse é o grupo de doença que mais causa peso no sistema de saúde hoje.
E quando eu entrei na residência médica em Medicina Esportiva, no nosso ambulatório, a gente se depara com o pessoal, com o paciente que já tem diversos médicos cuidando de diversos setores da sua saúde.
Então ele já tem o Cardiologista; ele já tem o Endocrinologista; ele já tem, talvez, até o Pneumologista; o Clínico; o Geriatra…
Só que o que eu percebi é que é muito fragmentado esse cuidado com o paciente.
Raramente os médicos conversam entre si.
A grande maioria deles está focada em corrigir os sintomas e os marcadores de doença através de medicação.
Alguns orientam hábitos, mas o foco quase nunca é mudança de hábito para correção das doenças crônicas.
Por que eu falo isso?
Porque, de acordo com a OMS, se a gente corrigir quatro grandes hábitos, a gente consegue controlar muitas dessas doenças crônicas.
Esses hábitos são:
- o alcoolismo,
- o tabagismo,
- a dieta inadequada, e
- o sedentarismo.
Então, na minha prática eu comecei a focar em como ajudar a pessoa a corrigir os seus hábitos.
Para que ela consiga, assim, o melhor controle sobre as suas doenças.
E foi aí que eu comecei, dentro da Medicina Esportiva, a me aprofundar muito na prevenção de doenças.
Foi aí que eu comecei a estudar muito sobre dieta, sobre nutrição; e foi aí que eu comecei a entender o poder de uma dieta cetogênica, por exemplo, para alguns pacientes.
O poder da dieta low-carb para outros pacientes.
O poder do jejum intermitente para alguns problemas de saúde.
O poder do aeróbico, do treino de força…
E eu fui construindo assim ferramentas que visam a promoção de saúde.
Para quando a pessoa me procurar, já com seus quatro, cinco médicos e suas seis, sete medicações, para que eu não seja mais um médico a dar mais um remédio que, teoricamente não vai trazer um benefício bem consolidado para esse paciente.
A minha intenção foi inverter um pouco o processo, focando na promoção de saúde e não no tratamento da doença específica.
Porque eu acredito o seguinte: quando nós promovemos saúde, quando nós corrigimos a base do metabolismo, a base fisiológica que está errada naquela pessoa, nós conseguimos “mandar a doença embora”.
Nós conseguimos resultados, às vezes, que não são tão usuais — porque nós investimos a causa e não somente na consequência.
E nesse meu processo de formação eu tive uma experiência muito boa, que foi com o doutor Erik Westman, que é um grande pesquisador aí da linha low-carb, da dieta restrita em carboidratos.
Eu fiquei com ele 15 dias na Universidade de Duke, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos; e ali eu vi coisas que eu nunca tinha visto antes.
Alguns exemplos… a gente fala que nunca é uma promessa de resultados, mas coisas que para mim antes não eram possíveis, mas que eu vi acontecer.
Por exemplo, um obeso emagrecer 90 quilos sem medicação; o hipertenso deixar de usar as medicações para a hipertensão depois de ter perdido seus 30 quilos e ter mudado seus hábitos; ou o diabético deixar de usar a insulina e agora controlar seus níveis de glicemia somente por meio de alimentação.
Então quando eu vi isso acontecendo a minha cabeça abriu muito.
Já era aberta — porque eu via a necessidade desse tipo de cuidado no dia-a-dia, e quando eu conciliei a minha formação médica com a experiência que eu tive lá fora, eu falei: “Bom, é com isso que eu vou trabalhar”.
E foi aí que eu me aprofundei mesmo nessa ciência de promoção de saúde.
Quando Aplicar Low-Carb E Jejum Nos Pacientes
Roney: Caramba, que bacana, Victor! Legal que você abordou vários temas que nós falamos um pouco, e muito legal que você foi se aprofundando nessas áreas.
E você citou o aeróbico, o treino, os exercícios, dieta low-carb, dieta cetogênica, jejum intermitente… quando você acha que você tem que dar uma recomendação para cada um desses casos?
Quando um paciente se enquadra em cada um desses casos? Você tem alguma coisa por cima para falar para a gente?
Dr. Victor Miranda: Claro! Esse é o grande desafio, essa é a grande arte da Medicina!
Porque assim, talvez o que seja bom para todo mundo, talvez não seja bom para você.
Então, quando você pega, por exemplo, uma dieta cetogênica, ela tem um potencial muito grande de reversão de diabetes. Tem. Isso é verdade. Mas talvez a dieta cetogênica mais você, não dê o mesmo resultado.
E aí que está o grande papel do médico ou o papel do nutricionista no cuidado da saúde desse paciente: é entender quem ele é, de onde ele veio, quais são os hábitos ali que estão presentes e dominantes na vida dele, e onde ele quer chegar.
Baseado nisso, a gente consegue traçar um plano que melhor se adeque àquele paciente.
Por exemplo, existem homens — eu falo homem porque eu vejo mais na prática — que têm muita facilidade em não tomar café da manhã.
Então para essa pessoa, sugerir o jejum intermitente é algo muito justo e que vai trazer um resultado muito bom e a adesão vai ser muito boa. Então eu invisto no jejum intermitente.
Já, por exemplo, o público mais feminino tem certa dificuldade em fazer o jejum intermitente.
Então eu vejo ali e vou testando o que melhor se adequa àquele paciente.
Alguns pacientes, por exemplo, têm uma dificuldade muito grande em restringir carboidratos e talvez uma dieta cetogênica não se enquadre melhor para ele.
Mas partindo do entendimento de onde ele está, eu digo em uma dieta hoje, talvez com 300 gramas de carboidrato líquido por dia.
Se você coloca ele em uma dieta low-carb com 100 gramas de carbo por dia, não é o ideal. Não é o que a literatura fala que existe de melhor.
Porém, esses 200 gramas de déficit diário já farão diferença ao final de um mês, ao final de seis meses.
Relacionado: quanto carboidrato você deve comer por dia para emagrecer?
E aí nós vamos discutindo com o paciente a melhor estratégia para adequá-lo em um plano que vai trazer resultados a curto, a médio e a longo prazo… porque eu vejo muita ansiedade sobre o resultado.
O paciente quer chegar a fazer aeróbico quatro vezes por dia, treino de academia três vezes por dia, jejum intermitente com cetogênica e perder 10 quilos no primeiro mês.
E talvez isso até funcione — mas não se mantém a longo prazo.
E a gente sabe que em termos de longevidade, não tem nenhuma medida a curto prazo que vá impactar a longo prazo.
Nós sempre temos que ter um plano que essa pessoa consiga manter, mesmo que ela mantenha uma nota 7/10 na adesão, mas esse 7/10 vai ser o que vai garantir para ela um excelente resultado a longo prazo.
Porque talvez ela faça um 10/10 no primeiro mês e no segundo mês ela não consiga mais suportar aquela mudança tão brusca na rotina e ela abandona o processo e volta para o 2/10, e aí no final de um ano ela vai ter uma média muito baixa, talvez um 3/10.
Então o grande desafio é entender quem é a pessoa, de onde ela veio e para onde ela quer chegar.
E aí na conversa nós vemos quais as melhores ferramentas se adequam para aquele paciente, naquele momento.
Como Equilibrar Os Gostos Do Paciente Com O Que Precisa Ser Feito
Guilherme: Ah, perfeito!
E com certeza esse ponto da adesão que você mencionou é muito bacana.
Você mencionou também o fato de que, por exemplo, para alguns homens tende a ser mais fácil pular o café da manhã e talvez para algumas mulheres não tanto.
Eu queria entender mais, por curiosidade mesmo, que tipo de outras perguntas você verifica para, digamos assim, determinar qual é a adesão da pessoa, se tem a ver com as preferências dela?
Porque eu entendo que existe um jogo sutil entre o que ela gosta de fazer, que tem muitas vezes finalidade com o que ela faz agora; e o que é ideal para ela, e tem que haver o equilíbrio aí.
Então eu gostaria de entender um pouco mais sobre como você encara esse processo.
Dr. Victor Miranda: Legal! Isso é outro pulo do gato, exatamente.
Hoje em dia eu busco entender o que a pessoa tem feito atualmente.
Então, se ela já tem o hábito de três refeições por dia, eu vou tentar não mudar esse hábito, porque é um estresse a menos.
Mas dentro desse padrão alimentar — estou dizendo aqui em termos de alimentação — eu vou orientá-la as mudanças que vão trazer melhor resultado para ela. É Lei de Pareto: 80/20.
[Nesse contexto, a Lei de Pareto diz, resumidamente, que 20% das ações são responsáveis por 80% dos resultados.]
Por exemplo, às vezes a pessoa tem fixa na ideia de que a pizza que ela come no final de semana foi o que fez ela engordar.
E aí ela se pune todas as vezes que ela come essa pizza.
Só que ela não sabe que às vezes a tapioca matinal dela com suco de fruta e, sei lá, o iogurte natural com granola que ela toma todas as manhãs, repetido todos os dias, tem o impacto muito mais forte do que a pizza do final de semana.
Então esse jogo entre o que ela precisa mudar e o que ela mudar, eu abro o jogo bem na hora: “Olha, esse aqui é o ponto crítico e nós vamos ter que trabalhar sobre isso”.
Quando eu identifico que existe o ponto crítico, eu vou em cima dele e comento: “Olha, tudo bem que você faz isso há dez anos, mas aqui a gente tem que mudar”.
Agora, eu tento entender o que ela já tem feito e mudar o mínimo necessário da estrutura dela para gerar menos estresse.
Mas, se existe um ponto crítico, por exemplo, igual esse café da manhã, com certeza eu vou em cima desse ponto para tentar corrigi-lo.
E aí eu deixo que a pessoa gaste energia naquele ponto crítico e não em outros pontos — eu dei o exemplo um pouco absurdo da pizza do final de semana — porque se ela fizer muito bem a semana inteira, uma pizza no final de semana, talvez dois pedaços, não vai ser o que vai impactar no resultado da semana inteira.
Mas, se ela fizer a semana inteira errada e comer essas duas pizzas, aí sim teremos problema — não pela pizza, mas sim pela semana inteira.
Então eu busco entender isso.
O treino é a mesma coisa. Por exemplo, a gente sabe que um treino aeróbio é muito bom para o controle de hipertensão arterial, a gente sabe que um treino aeróbio também é muito bom para o controle de um diabetes.
E essa pessoa não gosta de fazer um treino aeróbio, mas a gente tem que reforçar para ela quão importante é e o quão bom seria se ela entendesse esse processo e começasse a investir seu tempo em um treino aeróbio moderado ali, três ou quatro vezes por semana.
Então eu entro em um ambiente de negociação com o paciente.
Por isso que eu respeito muito aquele ponto que eu disse: aonde ele quer chegar.
Porque algumas coisas não estão ao meu alcance.
Eu tenho as ferramentas para oferecer para aquele paciente.
Mas às vezes ele não quer ou às vezes não é o momento.
Então eu já peguei, por exemplo, pacientes com uma situação de saúde não tão boa, que naquele momento ele tinha acabado de ter o divórcio e, três semanas depois, a mãe faleceu.
Então ele vinha de dois meses de muita coisa conturbada e não era o momento de intervir tão diretamente.
Então eu entendi o momento que a pessoa estava, sugeri algumas mudanças, teoricamente, leves na rotina, mas que já trariam algum resultado; e no retorno, depois de um mês, dois meses, nós fomos dando outros passos rumo ao objetivo de acordo com a adaptação que ela teve desse luto e desse divórcio.
E assim nós vamos consolidando o resultado a longo prazo.
Então assim, é difícil às vezes: porque eu tento não me intrometer na vida da pessoa de maneira desrespeitosa, mas eu tenho que dar opiniões em alguns pontos que incomodam.
Então por isso que eu gosto de desenvolver muito bem a relação médico-paciente para ter liberdade para falar: “Olha, tudo bem, você gosta disso aqui, mas isso aqui não te ajuda, então a gente vai ter que mudar. Beleza?”
E aí a gente entrar nesse âmbito aí da negociação. Algumas vezes é bem interessante, bem engraçado isso aí.
A Dificuldade Da Mudança
Roney: Ah, com certeza! Imagino! Ainda mais quem já vem com certas ideias fixas.
Tanto porque fez isso por muito tempo e é difícil mudar; quanto porque sempre ouviu falar que era de um jeito e agora você fala que não é o jeito certo, que talvez seja melhor uma outra abordagem.
Deve ser complicado no primeiro momento, um susto para o paciente… foi para mim também, anos atrás, e acho que acontece com muita gente também.
Dr. Victor Miranda: Esse é um grande ponto!
Às vezes a pessoa, principalmente o diabético, que é o meu público-alvo, eles já vêm tratando diabetes há 10 anos, há 15 anos, com as orientações-padrões, com as orientações que são de senso comum, teoricamente.
E aí eu desenvolvo o raciocínio em cima dessa doença e dessa proposta a ponto de deixá-lo pronto para experimentar e aí eu condiciono e seguimento a longo prazo, baseado no resultado.
Eu falo o seguinte: “Tudo bem, você está há 10 anos fazendo desse jeito e esse é o seu resultado hoje. Me dê dois meses fazendo diferente e a gente compara os resultados. Se não for satisfatório, tudo bem, você pode estar livre e voltar a fazer o que você fazia antes; mas eu tenho certeza que você vai ter uma boa surpresa aqui”. Entendeu?
E aí é o que acontece muitas vezes porque o paciente quando entende o processo do controle do diabetes por meio do exercício, da alimentação, ele tem resultados que o remédio não traz.
Além de economizar, porque ele percebe que precisará de menos remédios — e remédios aí que às vezes custam R$300, R$400 por mês — e ele começa a negociar isso aí, coloca na balança e acaba aderindo essa nova proposta de mudança de hábitos ao invés de depender exclusivamente da medicação.
Diabetes: O Que Causa E Como Evitar
Roney: Ótimo! E que bom que você já abordou o diabetes porque esse era o próximo tópico que nós queríamos falar.
Então você pode falar rapidinho quais são alguns dos hábitos ruins que levam uma pessoa a desenvolver o diabetes?
E também qual é a sua abordagem, em termos gerais, quando esses pacientes chegam até você no consultório?
Dr. Victor Miranda: Bom, eu gosto de raciocinar em cima do diabetes dessa seguinte maneira: cada um de nós tolera o açúcar de uma maneira.
Existem pessoas que são muito tolerantes ao açúcar — açúcar que eu digo carboidrato em geral, não só açúcar refinado, incluindo frutas e tubérculos — podem comer todos os dias, a vida toda, que não terão problema. Essa é uma pessoa.
Agora, a maioria das pessoas, hoje em dia, consome mais carboidratos do que ela pode tolerar e é aí que mora o perigo.
Então você me pergunta: existe um número X de carboidratos para cada pessoa? Não. Isso é muito individual.
E aí nós temos que ir testando por meio de resultados laboratoriais, perda de peso e adaptação, o que seria a média para aquela pessoa.
Mas de maneira geral, hoje as pessoas… um ponto crítico: elas não sabem o que comem.
Então às vezes a pessoa come, por exemplo, uma banana e acha que não tem açúcar e ela não toma um café com açúcar porque café com açúcar tem açúcar.
Mas às vezes a banana tem cinco vezes mais açúcar do que o café com açúcar.
E ela se perde nisso porque ela não toma mais café com açúcar, ela põe adoçante, que às vezes dá na mesma, e ela come três, quatro bananas por dia.
Então o primeiro ponto é: a falta de autonomia, a falta de conhecimento sobre a alimentação.
O segundo ponto é o próprio excesso.
As pessoas comem, realmente, mais do que precisam hoje em dia.
E muitas vezes elas comem o carboidrato, que é o macronutriente mais disponível, mais barato e, teoricamente, mais gostoso de todos os três.
Onde você vai você acha (ou te oferecem) carboidratos, e as pessoas acabam passando do limite.
Então vamos supor que a própria pessoa, o que ela tolera, seria algo em torno de 200 gramas de carboidrato e ela está consumindo 300 gramas de carboidrato.
Isso, um dia da semana, não faz mal.
Isso, todos os dias da semana, todos os meses do ano, por cinco, seis, dez anos, é o que constrói um terreno propício para o surgimento de um diabetes, ou de um pré-diabetes, ou de uma obesidade.
E o terceiro ponto do diabetes é a tolerância.
Existem alguns itens dos nossos hábitos que fazem com que nós toleremos mais o açúcar.
O treino é um desses itens.
Então os atletas podem consumir mais açúcar porque eles têm uma maior demanda. Eles toleram melhor esse açúcar porque eles treinam.
Pessoas que dormem melhor, pessoas que dormem muito bem têm um melhor controle dos hormônios, especialmente o cortisol, e elas toleram um pouco mais o açúcar.
Pessoas que têm um baixo nível de estresse também toleram melhor o açúcar.
Então se as pessoas entendessem o que elas comem, se elas comessem menos do que elas comem hoje em termos de carboidrato e se elas aumentassem a reserva por meio da tolerância — o exercício, sono e manejo do estresse — elas se protegeriam muito do diabetes.
Porque o diabetes nada mais é, resumindo, do que o estado onde o seu corpo, por muitos anos, recebeu uma carga maior de açúcar do que ele conseguia gerir.
E esse açúcar começou a sobrar, esse açúcar começou a ser estocado no seu corpo, começou a glicar vários tecidos — ou seja, o açúcar gruda nas células, nas proteínas de vários tecidos, e esse açúcar começa a ter um efeito tóxico no seu organismo, causando as complicações a longo prazo.
Então o diabetes nada mais é do que um erro nutricional a longo prazo, principalmente baseado no excesso de açúcares.
Por Que As Pessoas Erram Tanto?
Guilherme: Nossa, ótima explicação, Victor.
E é bacana perceber como você mostrou essas três frentes em que o erro pode estar acontecendo e, é claro, uma vai agravando a outra.
Se você tem uma alimentação ruim, não dorme e vive estressado, é muito pior do que só ter a alimentação ruim.
Se você não se exercita também, você também tem piorada a sua capacidade de lidar com o açúcar.
Mas o que eu achei mais fascinante é o fato de ser justamente um erro que tem que ser repetido por muito tempo.
Não é uma doença que acontece com um dia ou com uma semana de erros, e sim por tempo prolongado.
Por que, na sua opinião, as pessoas caem nesse tipo de erro?
E como elas podem fazer para se prevenirem?
A gente tocou aqui nessas três frentes, mas eu queria saber um pouco mais sobre como a pessoa que está ouvindo a gente agora faz para saber se ela está no caminho certo de se prevenir do diabetes — ou onde ela está errando?
Dr. Victor Miranda: De maneira bem simples: olhar para os nossos ascendentes — nossos pais, tios e avós — é uma maneira muito fiel de se entender qual seria o ponto fraco da nossa saúde.
Por exemplo, na minha família existem casos de hipertensão, de diabetes e de complicações cardiovasculares, como o infarto.
Então eu sei que, se eu não me cuidar, o meu ponto fraco vai para o lado do risco cardiovascular. Por quê? Não tem câncer na família; não tem, por exemplo, episódios de depressão grave na família…
Então talvez a minha genética me proteja desses dois itens, mas me exponha ao item cardiovascular. É só um exemplo.
A gente sabe que a genética não determina o nosso estado de saúde atual.
Ela somente predispõe no seguinte sentido: bom, você nasceu com a genética ruim para o diabetes.
Se você se cuidar, show de bola: você não vai ter problemas com diabetes. Agora, se você se descuidar, o problema vai repercutir no diabetes.
Então, de maneira bem simples, alguns sinais sutis de que você talvez esteja consumindo mais carboidrato do que deve, e como você pode buscar se cuidar um pouco melhor: existem alguns sinais indiretos, bem sutis, no dia-a-dia.
Um deles é: se você fez uma refeição e saiu dessa refeição com o nível de energia mais baixo do que você estava antes de comer, ou você comeu demais, ou você estimulou muito a insulina. Isso aí é a consequência do abuso.
Então, bom, eu estou no horário de almoço, eu estou ligado aqui, estou trabalhando bem.
Eu faço o almoço e volto do almoço morrendo de sono, ou você comeu mal, ou você comeu demais. Essa é uma coisa para você já prestar atenção na próxima refeição.
Outro sinal indireto: a pessoa que não consegue se manter no peso ideal. Nós sabemos que quando nós comemos carboidrato nós estimulamos a insulina.
E a insulina é um hormônio anabólico, um hormônio que tende a estocar.
E se você, às vezes, não come para ganhar peso, mas tem ganhado peso lentamente ao longo dos anos — eu digo, meio quilo, um quilo por ano, nos últimos cinco, dez anos e isso te coloca em uma margem de obesidade em dez anos.
Isso talvez já seja um sinal de que você está se alimentando mal do ponto de vista da divisão de macronutrientes; tendo talvez um excesso de carboidratos e uma falta de proteína.
E o terceiro ponto é, no caso, o exame laboratorial… ah, tem outra parte do exame físico!
O diabetes traz alguns sinais de resistência insulínica antes de os exames laboratoriais se mostrarem errados.
Por exemplo, a gente sabe que aquelas linhas que chamam acantose nigricans, que tem no pescoço ou na virilha, ou na axila — são linhas mais escurecidas — que parecem que está sujo ali na região; na verdade não está sujo.
É só um sinal de resistência insulínica. E isso é um sinal precoce para você se cuidar quanto ao diabetes.
Aquelas verruguinhas que surgem na axila ou às vezes no pescoço — verruguinhas da cor da pele mesmo, que não têm nada demais — também têm relação com resistência insulínica, chamadas de skin tags.
E, por fim, o exame laboratorial.
E aí no exame laboratorial eu quero chamar a atenção para vocês: uma foto não diz nada sobre um filme.
Por que eu estou falando isso? Se você dosa somente a sua glicemia de jejum, isso não diz nada sobre todo o seu metabolismo de açúcar. Por quê?
O corpo faz de tudo para manter a glicemia de jejum adequada, porque quando ela sobe ele já está sofrendo.
Então nós temos que entender que existe um hormônio, que é a insulina, que regula a glicemia de jejum ou a glicemia do dia todo.
Então, vamos supor que eu faça o meu exame de glicose e você faça o seu de glicose. Os dois vêm 80. Os dois estão bons. Eu doso a minha glicemia de jejum e a minha insulina de jejum está em 2, ou seja, está baixa — o valor de 2 até 25.
Agora você dosa a sua insulina de jejum e ela vem 30, opa, significa que você está pagando um preço aí mais de 15 vezes maior do que eu estou pagando para manter a glicemia no mesmo valor, ou seja, para não dar problema. Então esse é um sinal precoce.
Baseando a nossa glicemia e a nossa insulina… existe um índice, o índice homa, esse índice calcula essa resistência insulínica.
Então é legal pedir para o seu médico calcular isso para você, tá bom?
Outro sinal indireto: triglicérides tendendo ao limite superior no exame e o HDL em queda. Então um homem com um HDL de 40 e um triglicérides de 160 pode ter a glicemia normal, mas já é sinal de que ele está consumindo mais carboidratos do que ele tolera, porque o triglicérides é fruto de uma conversão de açúcar em gordura quando os estoques do carro no nosso corpo já estão cheios.
O tanque do carro está cheio, entra mais gasolina do que precisa e a gente guarda isso em outro lugar. A gente guarda isso em forma de triglicérides.
Então às vezes o triglicérides está alto não porque está comendo muita gordura, e sim porque está comendo mais açúcar do que deve.
Então, de maneira bem resumida: olhar para a sua família, ver a questão genética; olhar para o seu peso, como você lida com ele, se você tem dificuldade ou facilidade de mantê-lo; olhar os sinais de pele, que é acantose nigricans e esses skin tags, as verruguinhas; e olhar os seus exames laboratoriais um pouco mais detalhados do que usualmente a gente tem feito.
Então, esses são os quatro passos para a pessoa se ligar para um possível diabetes.
Roney: Ah, legal, Victor! Perfeito!
É aquele negócio, se depois… quando aparecer nos exames, depois de 12 horas em jejum, que você está com problemas de ainda ter açúcar no sangue, é porque aí já está bem avançado o problema, né?
Dr. Victor Miranda: Exatamente.
Lembrando que o exame laboratorial às vezes demora anos para se alterar e esperar chegar a ponto de o exame alterar é já estar no prejuízo, talvez há mais de dez anos.
Então eu vejo que o pessoal gosta muito de números: “Ah, como está meu exame? Como está minha glicose?”, mas a gente poderia, teoricamente, sem eles; só observando o exame físico da pessoa e os hábitos já nos dariam substratos para fazer vários diagnósticos.
Mas, como nós precisamos de algumas métricas, nós vamos no exame — mas o exame já é muito tardio. Concordo com você.
Diabetes E Obesidade — Qual A Relação?
Roney: Perfeito, Victor. Muito legal esse alerta para o pessoal.
E, Victor, nós sabemos que você também fala sobre obesidade e quem te acompanha nas mídias sociais já deve ter visto isso, e como essas duas condições — diabetes e obesidade — se relacionam?
Dr. Victor Miranda: Bom, na grande maioria dos casos, nós temos um mal em comum, que é a resistência insulínica.
E ela se manifesta em algumas pessoas de maneiras diferentes.
Por exemplo, existem homens que quando ganham peso, ganham apenas gordura abdominal.
Existem mulheres que, quando ganham peso — e até outros homens quando ganham peso — estocam muita gordura não somente no abdômen, mas também no subcutâneo.
Então assim, às vezes o problema da obesidade tem a mesma raiz, que é a resistência insulínica.
E a qualidade, a diferença de deposição de gordura é muito individual.
Tem gente que vai engordar só barriga e tem gente que vai engordar o corpo inteiro. Por que eu estou falando isso? Porque além de ter essa possível mesma origem na resistência insulínica, no excesso de carboidratos, é lógico e inegável que o excesso de calorias também causa ganho de peso.
É inegável que o sedentarismo também causa ganho de peso, que as compulsões que a ansiedade traz também causam ganho de peso.
Mas o que eu vejo é: se as pessoas enxergassem melhor a alimentação em termos de qualidade e não somente quantidade, elas teriam uma maior facilidade de manter o seu peso adequado.
Por exemplo, eu hoje não conto calorias. Não tenho esse hábito e não acho que seja necessário.
Por quê? Porque eu tenho um nível educacional muito alto de nutrição e eu sei ali, mais ou menos, o que eu estou comendo.
Eu digo muito alto em relação à população geral, que às vezes desconhece tudo sobre nutrição.
Então, quando você foca muito na qualidade do que se come, a quantidade vira um item secundário.
E o que eu vejo hoje na grande maioria das dietas, na grande maioria das pessoas que estão pensando em obesidade?
Elas focam na quantidade do que se come: “Olha, você vai comer X calorias porque X calorias + 10 vai te engordar”.
E às vezes elas não dão foco tão intenso na qualidade, limpando um pouco aí a dieta do excesso de carboidratos; aumentando a quantidade de proteínas, porque nós, usualmente, consumimos menos proteínas do que devemos; e elas evitam gordura a qualquer preço.
Então se as pessoas entendessem um pouco isso na obesidade, focando na qualidade alimentar, na prática regular de atividades físicas — não como um fator para te emagrecer, mas como um fator que melhora o seu metabolismo e te permite lidar melhor com os “excessos”, ou seja, aumenta a sua tolerância…
Se as pessoas entendessem esses dois pontos básicos, elas, com certeza, controlariam o seu peso.
Eu falo isso porque é o que eu vejo no consultório no dia-a-dia, é o que nós vemos na literatura, é o que eu vejo em mim mesmo todos os dias… então assim, a obesidade, lógico, existem outros fatores que influenciam muito — questões hormonais, como o hipotireoidismo, pessoas que trabalham à noite e que não dormem muito bem, transtornos de humor (depressão), uso de medicações — tudo bem, isso influencia sobre a obesidade, porém, a grande maioria dos obesos não está inclusa nesse grupo de pessoas.
A grande maioria dos obesos está inclusa no grupo de pessoas que não entendem o que estão comendo, que não entendem o papel da atividade física — acha que o exercício é para emagrecer.
E as pessoas que não têm um apoio profissional para traçar uma meta razoável, uma meta com bom senso e o cuidado a longo prazo para a reversão desse problema.
Porque às vezes a pessoa demora 15 anos para ganhar o peso que ela ganhou e, infelizmente, ela compra propostas de correção desse problema em três meses.
E não é bem assim que funciona.
Talvez a gente precise de um ano, talvez a gente precise de dois anos, três anos para se reverter o problema.
Então eu sempre jogo o tempo para mais, justamente para deixar claro que eu não estou prometendo um projeto verão ou alguma coisa assim.
Esses projetos verões talvez sirvam até como um start, como um ponto de partida, porém, a longo prazo eles não tendem a se manter.
Então esse é o panorama da obesidade que eu vejo: é um somatório de resistência insulínica, ou seja, um excesso de ingestão de carboidrato; e a falta da atividade física regular.
Guilherme: Certamente essas duas coisas estão na gênese dessa epidemia de obesidade.
E, é claro, nós vivemos em um ambiente, porque como você mencionou muito bem anteriormente, se você for para qualquer lugar alguém vai te oferecer um carboidrato, se você for para qualquer reunião de quatro horas vai ter uma pausa no meio para as pessoas comerem.
Então as pessoas estão comendo o tempo todo comidas que são ricas em calorias, que são fáceis de ingerir, que não as deixam realmente saciadas.
Senão elas não iam comer a cada duas horas, em um ambiente que precisa cada vez de menos dinheiro para comprar um monte de calorias, e em que elas precisam fazer cada vez menos esforço físico.
Então tudo isso junto vai fazendo uma tempestade de causas nesse ambiente obesogênico.
Concordo com você, acho que a principal causa é essa desinformação na alimentação…
Dr. Victor Miranda: Com certeza .
Guilherme: Quer dizer, não sei nem se é desinformação — porque as pessoas sabem, intuitivamente, algumas informações (do tipo: pizza e sorvete ajudam a ganhar peso).
Mas em outro casos, como você deu um ótimo exemplo (da pizza ocasional contra a tapioca diária), acho que nesse caso realmente a informação falta.
Dr. Victor Miranda: Informação falta e existe uma pressão para que essa informação errada chegue até as pessoas, né?
Teoricamente tem alguém ganhando com isso. E esse é um ponto meio nebuloso do assunto, mas não quero entrar muito nisso.
Mas eu queria comentar uma coisa muito legal, que faz muito sentido, e que se as pessoas entendessem isso, talvez bastaria para a correção de vários problemas.
Densidade Nutricional
Eu trabalho muito com um item que chama densidade nutricional.
As pessoas hoje, e até eu mesmo… eu comia para matar a minha fome.
Então eu estou com fome e vou lá e como o que tiver até eu sentir que não precisa mais.
Só que o nosso corpo não está muito preocupado com isso.
Ele está preocupado com qual é a quantidade de nutrientes que você está me dando frente à quantidade de calorias que você está me entregando.
Então nesse ambiente obesogênico, nesse ambiente de diabetes, o que nós encontramos?
São refeições que trazem um excesso de energia, ou seja, muitas calorias; e uma deficiência de nutrientes.
Vou te dar um exemplo: se você comer, por exemplo, um pão na chapa, com manteiga ou margarina — tomara que seja manteiga, pelo menos é menos mal — você tem uma caloria muito alta e zero, praticamente, de nutrientes; zero de proteína ali, entendeu?
Agora, se você faz uma omelete com queijo, você tem talvez a quantidade de calorias semelhante ou um pouco mais alta — você pode ter um pouco mais de calorias — mas a quantidade de nutrientes e absurdamente maior e a quantidade de proteínas é muito maior.
Isso te permite não sentir fome daqui duas horas, daqui três horas e aí é totalmente possível fazer um café da manhã, um almoço e um jantar e não ficar beliscando e irritado, com fome a cada três horas durante o seu dia.
E aí não precisa interromper a reunião para comer, se a reunião dura quatro horas.
A gente consegue ficar mais do que isso sem comer! Porque se nós não conseguíssemos, o que seríamos de nós alguns anos atrás quando não tinha geladeira, por exemplo?
Quando não tinha forma de estocar o alimento? A gente não estaria aqui hoje, basicamente.
Então as pessoas têm que entender isso.
Esse alimento que está na minha mão agora, ou que eu acabei de comer antes do podcast ou que eu estava pensando em comer depois do podcast, tem nutriente ou ele tem só calorias?
Porque eu atendo pacientes que são obesos, mas que são anêmicos ao mesmo tempo.
E, excluindo causas hemorrágicas para essas anemias, às vezes o paciente está anêmico porque ele está desnutrido funcionalmente. Ele é obeso, porém desnutrido.
Olha que paradoxo, que contrassenso! Isso nada mais é do que uma pessoa que come muita energia e pouco nutriente.
Então, prestar atenção na densidade do alimento, na densidade nutricional, faz muito sentido.
A Perspectiva Evolutiva Pode Te Ajudar
Roney: Perfeito, Victor.
É por isso que muitas vezes vale bastante a pena pensar nessa perspectiva evolutiva, do que os nossos antepassados comiam, um pouco na forma como eles se alimentavam.
E nós percebemos que eles não comiam a cada três horas; às vezes passavam um, dois dias, quem sabe, sem comer; não ficavam fracos com isso porque eles tinham que caçar — ou subir em uma árvore para pegar um fruto.
E nós chegamos até aqui apesar disso tudo.
Então é sempre bom ter essa perspectiva e prestar atenção na comida, como você falou.
Provavelmente, se é um alimento novo, recente, criado em laboratório, que vem em uma embalagem, cheio de ingredientes, ele tem grandes chances de cair nisso que você disse, de ter muitas calorias — às vezes muitas gorduras e carboidratos juntos — com muitos poucos nutrientes e pouca proteína.
E são justamente esses alimentos que são os principais vilões.
Dr. Victor Miranda: Sem dúvida! Sem dúvida nenhuma!
Esses alimentos são tão ruins que às vezes, se você for pouco malicioso na leitura das embalagens, você vai entender algumas coisas.
A maioria desses alimentos são enriquecidos com alguma coisa: com vitamina, com mineral, com ferro… e você só enriquece quem é pobre, não é?
Então se está escrito “alimento enriquecido com isso”, cara, entenda o seguinte: “olha, isso aqui é tão ruim que nós estamos colocando um pouco de vitamina para ver se vale a pena comprar”. Essa é a minha leitura.
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Agora, uma carne, um ovo, uma verdura, um legume, um fruto do mar, alguma coisa assim nem precisam ser enriquecidos com nada porque eles são abundantes em tudo o que oferecem. Então esse é o grande ponto.
Eu era aquele cara que comia de três em três horas; que não comia gordura; que jejum era contra a evolução, catabolizava.
Eu gostava muito de treinar, então eu comia de três em três horas certinho, comia às 22h00 e às 06h00… aquela coisa assim.
E não era sustentável isso para o meu estilo de vida.
Hoje eu já tive momentos em que eu fiz jejum de dois dias, somente para testar o quão possível isso é.
Então não é que eu recomende dois dias para todo mundo, mas se eu consegui ficar dois dias sem comer, eu consigo ficar um dia 16 horas, eu consigo melhorar o meu intervalo de refeições e não comer a cada três horas, eu consigo fazer café, almoço e janta sem problemas.
Então existem os extremos, que também estão errados, mas a gente pode chegar aqui mais perto do bom senso e trabalhar algo que sem mantém a longo prazo e que traga resultados continuamente.
Guilherme: Com certeza.
E acho que uma outra ideia interessante, inclusive nesse mesmo espírito que você mencionou das embalagens que não sei o que lá é enriquecido, ou você vai ver um cereal matinal que tem vitamina… ninguém faz propaganda do brócolis.
Não precisa. Não precisa falar dos benefícios de saúde do brócolis, ou da carne, ou do ovo; mas sim do cereal matinal, justamente porque ele não tem.
Dr. Victor Miranda: Exatamente.
Os Hábitos Saudáveis Do Victor
Guilherme: E mudando um pouquinho aqui de assunto, você falou um pouco dos seus hábitos saudáveis, por exemplo, de alguns hábitos que você já tem, como treinar, e mencionou até o jejum um pouco mais comprido que você fez.
Quais são outros hábitos saudáveis que você adota no seu dia-a-dia para poder a sua saúde e a longevidade em foco?
Dr. Victor Miranda: Isso é legal porque tudo o que eu oriento hoje para os meus pacientes eu fiz em mim algum dia.
Então nenhuma das ferramentas que eu ofereço eu fiz sem antes testar em mim, entendeu?
Então, o que você pensar de hábito saudável e de mudança, eu já fiz.
Então, por exemplo, no meu primeiro ano em São Paulo na residência médica, onde eu tinha uma rotina muito estressante e uma carga horária de talvez 100 horas por semana, quando colocavam alguns plantões extras eu fazia até mais; eu me adaptei muito à dieta cetogênica porque era uma dieta que eu tinha que comer talvez duas vezes por dia, uma vez por dia, uma refeição bem abundante e eu consegui me ver livre o resto do dia para fazer o que eu tinha que fazer.
Então eu fiz um ano de cetogênica, em torno de 20 gramas de carboidrato por dia e aí depois eu entrei em uma fase um pouco melhor, mais tranquila, comecei a voltar a treinar, adicionei um pouco de carboidrato e fiquei na low-carb, bem tranquilo; intercalando com o jejum intermitente e tudo mais.
São Paulo é um lugar muito estressante.
Eu digo… é muita oportunidade, as coisas são muito rápidas, isso te puxa muito para cima e te estressa às vezes.
Então, técnicas de gestão de estresse eu sempre tento colocar no meu dia-a-dia.
Então, uma boa leitura ou meditação — meditação eu tenho certa dificuldade, confesso, eu tento encaixar melhor, mas às vezes não é uma coisa diária, fica às vezes três vezes na semana.
Eu tento sempre aumentar as minhas horas de sono quando eu posso, mas devido à rotina do médico às vezes essa questão do sono fica prejudicada.
Eu valorizo muito o meu tempo em família, o meu tempo em amigos, porque isso também gere o estresse.
Eu tenho objetivos claros na minha vida, então se a semana está sendo “infernal” de trabalho é porque eu tenho um objetivo e isso traz um senso de presença, um senso de “bom, eu não estou perdido no que eu estou fazendo, isso aqui vai me gerar um resultado lá na frente”. Isso te acalma, isso te desestressa.
Eu pratico muito esporte.
Ano passado eu fiz uma prova de triatlo, eu fiz um Iron Man 70.3 e eu fiz questão de fazê-la em low-carb, justamente para testar e provar para mim mesmo que isso era possível e tive um resultado que foi dentro do que eu desenhei para ser, então foi bem legal.
Então, a questão do jejum, eu faço geralmente 16 horas por dia, mas já fiz 24, já fiz 48… eu sempre busco aí entender um pouco mais sobre isso.
Sempre tento comer bem, sempre tento ter controle sobre as minhas refeições, entendendo o que eu estou comendo ali.
Então assim, eu estou sempre de olho porque eu sei que isso é o que me mantém muito produtivo.
A minha produtividade só é alta porque eu me esforço muito e invisto muito no meu maior ativo, que sou eu mesmo, entendeu?
Então se eu não durmo bem, se eu não como bem, se eu não treino bem e se eu me estresso, eu vou produzir metade do que eu produzo hoje ou menos.
Então assim, em questão de hábitos, depende muito da fase que eu estou.
Hoje eu estou em uma fase de muito trabalho — porque implementar uma clínica em São Paulo, uma clínica em Minas, outros projetos paralelos de curso online e tudo mais; me toma muito tempo.
Então a minha carga de treinos diminuiu para três vezes por semana, meia hora, mas a minha qualidade nutricional manteve; o meu sono diminuiu um pouco mais; mas enfim, eu sei o porquê disso e isso me deixa tranquilo.
Então esses hábitos fazem com que eu sempre tenha uma boa saúde porque eu entendo o que está acontecendo e sei a hora que tem que apertar na alimentação, a hora que tem que aliviar no exercício, apertar no trabalho… e assim a gente vai.
Roney: Perfeito, Victor.
Você tocou em muitos pontos que a gente concorda e também presta atenção no nosso dia-a-dia, como ter esse controle da alimentação, saber fazer um ajuste quando necessário, se preocupar um pouco com o sono, se preocupar em se sentir presente nos momentos, seja no trabalho, seja nos amigos, com os familiares.
Tudo isso é muito importante para construir uma vida melhor, uma saúde melhor. Com certeza não podemos negligenciar.
Victor, aproveitando isso, qual seria a mensagem final que você poderia deixar para o pessoal que nos escutou até aqui? Pode ser sobre saúde, pode não ser… pode ser a mensagem que você quiser.
A Mensagem Final Do Victor Para Você
Dr. Victor Miranda: Bom, isso é muito… pô, que honra poder fazer isso aqui porque assim, eu acredito no seguinte: a vida é muito boa, a vida é muito abundante.
A vida foi feita para que a gente seja feliz, para que a gente tenha proveito, para que a gente tenha alegria, para que a gente tenha saúde, disposição, todos os dias.”
Eu vejo as pessoas chegando no envelhecimento com a concepção de adoecimento acoplada, que não é verdade. Envelhecer não significa adoecer.
E não existe nenhum remédio, não existe nenhuma cirurgia, não existe nenhum tratamento que vá cuidar tão bem da sua saúde quanto você se cuidar todo dia em casa — com alimentação, com exercício, com bons relacionamentos, evitando se expor a toxinas como cigarro, excesso de álcool, tendo uma questão espiritual bem construída, uma espiritualidade bem construída…
Nada vai te trazer mais saúde, mais presença, mais felicidade e prazer nessa vida do que isso.
Porque assim, gente, se tudo der certo ou se tudo der errado, é com você mesmo que você sobra.
Então se você não investir no seu corpo, se você não investir na sua cabeça, na sua mentalidade, na sua saúde; independente do seu futuro, você vai ter problemas com isso.
Cuidar da saúde não te exclui da possibilidade de ter problemas com doenças lá na frente, mas elas eliminam a grande maioria delas.
E as que se mantém, elas vão se manter com pouca chance de surgirem.
Então assim, eu como médico, que já trabalhei, já passei em CTI, em enfermaria de clínica médica, já tive pessoas próximas da minha família que já sofreram muitos danos graves de saúde, eu te digo: não deixe para valorizar a sua saúde somente quando você a perder, tá bom?
Valorize a sua saúde hoje, invista em sua saúde hoje gaste com a sua saúde hoje, gente, porque o investimento em saúde retorna, sei lá, 20 vezes mais no futuro, entendeu?
Então assim, eu sei que é difícil, a rotina é pesada, o trabalho é estressante, às vezes o dia-a-dia não é o ideal, a condição financeira não está das mais favoráveis, mas você consegue dar um pequeno passo, você consegue dar um pequeno passo hoje, você consegue dar o segundo passo amanhã, você consegue consolidar pequenas mudanças a cada novo dia.
E é esse mindset, e é essa postura que lá na frente, quando você tiver seus 60 anos, você não vai se ver tomando cinco, seis remédios; com quatro ou cinco diagnósticos médicos; indo no consultório do médico a cada dois, três meses; fazendo cinco, seis exames; com medo de ter um infarto; com medo de ter um AVC; com medo de não ver os seus netos crescerem ou de não ter força, de não ter uma coluna saudável para cuidar do seu netinho ou até mesmo de um parente que necessite da sua força física ali, entendeu?
A gente tem que se cuidar. O nosso corpo humano é muito perfeito.
A engenharia divina foi absurdamente, e sempre é absurdamente perfeita nesse sentido. É a gente que está bagunçando a “parada”.
Então assim, dê as informações corretas ao seu corpo, que o resto ele faz.
Informação correta é: uma boa nutrição, um bom treino, uma boa gestão de sono, uma boa gestão do estresse e bons relacionamentos.
Entregue essas informações para o seu corpo diariamente, que o resto ele constrói e ele constrói saúde, tá bom?
Então assim, essa é a minha mensagem, de coração, eu falo isso muito para os meus pacientes diabéticos, porque o diabético sofre muito com a doença; mas eu digo isso para todos os pacientes hoje que têm ou não têm, ou não quer ter nenhum tipo de doença.
Guilherme: Show, Victor!
Gostei muito da sua mensagem e realmente é importante a gente “não bagunçar a parada”. Eu achei muito legal!
Dr. Victor Miranda: Deixei o médico de lado e fui um pouquinho mais “presente” aqui.
Guilherme: Mas está certo! A gente acaba falando de coisas técnicas (fica falando de glicação dos tecidos, etc) mas na verdade o que nós queremos no final — tanto nós que trazemos os profissionais, quanto você e outros bons profissionais que nós trazemos aqui no show — é ajudar as pessoas.
Então, essas coisas são apenas meios de ajudar as pessoas a viverem melhor!
Dr. Victor Miranda: Exatamente.
Guilherme: Victor, eu tenho certeza que quem nos ouviu até aqui gostou tanto quanto eu dessa entrevista, e eu gostaria de pedir, então, para você falar um pouquinho sobre como essas pessoas que ouviram podem acompanhar o seu trabalho.
Eu sei que você tem o Instagram, tem um site… fala um pouco para a gente como nós podemos continuar seguindo você.
Siga O Doutor Victor Miranda
Dr. Victor Miranda: Bom, legal!
Eu estou muito presente no Instagram hoje. O meu Instagram é @drvictormiranda, tem meu site também, que é o mesmo, é www.drvictormiranda.com.br. Essas são as minhas duas principais frentes.
Eu tenho um consultório em São Paulo, fica na Zona Sul, no Campo Belo, atualmente.
E também tenho um consultório na minha cidade natal, que é Patos de Minas, uma cidade que eu amo de coração.
E eu concilio a agenda entre Patos (fico uma semana do mês aqui) e São Paulo.
Então esses são os meios de me encontrar.
Também se quiser marcar uma corrida comigo no Ibirapuera, nós estamos ali do lado, vai ser um prazer participar aí!
Roney: Show, Victor!
Então, muito obrigado pela entrevista, muito obrigado por ter disponibilizado esse tempo para falar com a gente.
Nós sabemos que você está na correria aí, então realmente nós queríamos agradecer, de coração, por você ter participado do nosso podcast.
Dr. Victor Miranda: Bom, eu que agradeço!
Fiquei muito feliz pelo convite, muito honrado em participar disso — porque eu acredito muito no poder da informação e podcast é uma ferramenta que eu, particularmente, utilizo diariamente para aprender várias coisas: aprendo sobre saúde, aprendo sobre finanças, aprendo sobre gestão de estresse, aprendo sobre o mundo… tudo via podcast, dentro do Uber, fazendo uma caminhada; eu estou sempre aproveitando melhor meu tempo.
Então o pessoal que está aqui hoje ouvindo esse podcast já é um pessoal diferenciado porque entendeu isso.
Então eu fico muito honrado em participar dessa revolução que o podcast está trazendo aí para a gente.
Guilherme: Com certeza, Victor.
A gente está super feliz de poder oferecer esse podcast e de poder contar com você nele.
E também queremos agradecer, além de agradecer novamente a você, a quem ouve a gente todas as semanas.
Nós soltamos podcasts novos toda segunda, alternando entrevistas com profissionais excelentes, como o Victor; com episódios mais curtinhos, com dicas rápidas para você melhorar a sua vida.
Então siga o nosso podcast e se inscreva lá para receber episódio novo toda segunda-feira.
A gente se fala na segunda-feira que vem. Combinado?
Um forte abraço:
Guilherme e Roney: do Senhor Tanquinho.
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