Podcast #069 — Cirurgia Bariátrica, Balão Intragástrico, E Alimentação, Com Dr. Eduardo Senra
A dieta low-carb não só é indicada, mas também desejada para alguém que quer ter saúde — a pessoa tendo feito bariátrica ou não.”
O convidado do nosso episódio de podcast de hoje é o Dr. Eduardo Senra.
O Dr. Senra tem uma enorme experiência clínica — e, como você vai ver, uma visão humanizada e de respeito ao paciente que se alia a sua expertise profissional.
Por tudo isso, convido você a escutar o episódio todo até o final, para assim saber exatamente:
- qual a história do Dr Eduardo Senra com a medicina,
- cirurgia bariátrica: uma boa opção para combater a obesidade?
- qual o perfil dos operados na bariátrica,
- quais cuidados alimentares você tem de ter após operar,
- os riscos de voltar a ganhar peso — anatomia contra ataca,
- riscos comportamentais do ganho de peso — compulsão por comida pode se transformar em outras formas de vício?
- a verdade sobre o reganho de peso após o emagrecimento,
- a cirurgia pode trazer benefícios de saúde? A surpreendente resposta,
- balão intragástrico — por que tantas pessoas falam sobre ele (e qual a verdade sobre essa operação),
- por que você não pode esperar resultados de longo prazo — não é um “balão mágico”,
- dieta low-carb e cetogênica para pessoas operadas,
- a importância primordial de acolher o paciente,
- o pedido que o Dr. Senra quer fazer para você,
- quais os hábitos fundamentais do Dr. Senra para uma vida saudável,
e muito, muito mais.
Você pode escutar a entrevista completa no player abaixo.
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E, ao compartilhar este episódio, o conhecimento aqui presente vai ser cada vez mais difundido. Vamos juntos mudar a saúde do Brasil!
Lembre-se de dizer ao Dr. Senra que curtiu o episódio — a melhor maneira de fazer isso é mandando uma mensagem a ele no Instagram @drsenra.
A transcrição completa do episódio está disponível abaixo.
Transcrição Completa Do Episódio Com O Dr. Eduardo Senra
Bem-vindo a mais um podcast do Senhor Tanquinho. Nós somos Guilherme e Roney, e aqui a nossa missão é deixar você no controle do seu corpo.
E, antes de começarmos a entrevista em si, gostaríamos de agradecer à Eliana, da loja Tudo low-carb, por apoiar esta iniciativa do podcast.
Ficamos felizes em ter entre nossos apoiadores marcas e empresas que nós mesmos usamos e respeitamos.
E o que é a loja Tudo Low-Carb?
É um e-commerce onde todos os produtos que estão à venda são próprios para a sua dieta baixa em carboidratos.
Então é muito legal — porque eles têm ótimos preços, todos os produtos são baixos em carboidratos e é lá que a gente encontra os nossos próprios ingredientes. Lá tem:
- castanha do Pará,
- amêndoas,
- amendoim,
- nozes,
- queijos,
- chips de parmesão,
- adoçantes como eritritol e xilitol,
- lanchinhos práticos,
- macarrão konjac,
- cacau em pó,
e muito mais.
Este podcast também é oferecido pelo nosso programa completo Guia Dieta Cetogênica — saiba mais sobre ele clicando aqui.
E, se quiser um bom companheiro para saber se está em cetose ou não, recomendamos o aparelho uaiKeto.
Agradecimentos feitos, é hora do show.
Dr. Senra E A Medicina
Guilherme: Olá tanquinho, olá tanquinha, sejam muito bem-vindos e bem-vindas a mais um episódio do nosso podcast.
E hoje temos conosco o doutor Eduardo Senra. Tudo bem, Eduardo?
Eduardo Senra: Tudo ótimo, agora melhor com esse convite. É uma honra estar aqui com vocês, então tá tudo perfeito.
Roney: Para quem não conhece, o Eduardo é médico, então a gente gostaria de começar perguntando justamente a respeito disso.
Eduardo, como você começou a se interessar por saúde? Em qual área você se especializou como médico?
E, num segundo momento, de onde veio esse interesse por uma alimentação reduzida em carboidratos — e rica em comida de verdade?
Eduardo Senra: Essa é uma pergunta bem interessante, e eu comecei a me interessar por saúde de forma real na adolescência.
Mas eu acho que o start talvez tenha começado mais cedo.
Porque o meu pai infartou muito novo, com 38 anos.
E como ele foi pai — para aquela época — um pouco mais tardiamente, eu tinha uns 4 ou 5 anos quando ele infartou, e por pouco ele não faleceu.
Porque, na verdade, eu digo até que ele faleceu, mas foi ressuscitado: porque ele teve uma parada cardíaca no infarto dele, e ele foi ressuscitado porque estava entrando no hospital naquele momento.
Ele viveu mais 30 anos, graças a Deus, né.
Foi um pai maravilhoso, então eu tive esse privilégio de crescer com ele.
Mas essa preocupação com a saúde dele sempre foi uma coisa muito marcante para mim. Uma coisa que me motivava, que eu sempre me preocupava, e eu comecei a aprender a comer um pouco melhor pensando em ajudá-lo.
E acho que consegui ajudá-lo bastante, tanto é que ele viveu bem além do que era esperado para a época.
Para você ter uma ideia, na minha faculdade, o professor era o cardiologista dele e apresentava o caso do meu pai para os alunos, inclusive para mim, porque não entendia como meu pai estava vivo, de tamanha a gravidade das obstruções que ele tinha quando ele infartou.
Então eu acho que ali eu comecei a me interessar, e por incrível que pareça, eu comecei com uma dieta que na época eu entendia como saudável, mas era extremamente high carb, que era uma dieta macrobiótica.
Não sei se vocês já ouviram falar, mas era uma dieta, basicamente, à base de arroz integral e vegetais, né, muito pouca proteína de origem animal.
Na verdade, eu só me lembro de um peixinho que eles tinham, seco, salgado, que eles usavam eventualmente para salgar algumas sopas, principalmente.
Mas enfim, naquele período, entendendo que aquilo era uma comida saudável, porque era bem natural, eu segui naquele caminho.
Mas eu fui pro integral, aquela coisa tradicional que todos passaram, para quem se interessou em alimentação antes desses novos conceitos com que a gente hoje trabalha.
Então, eu comecei ali. Depois na faculdade, sempre interessado em especial, pela parte nutricional, até que, como todos — eu acho que nós conhecemos e que passaram aí por vocês — comentam, eu tive o contato com o nome do Doutor Souto.
Na verdade, foi num jantar em que um psiquiatra, que é gaúcho, comentou sobre o Souto — e eu desconfiei né, como todo mundo desconfiou: principalmente sendo médico, um urologista: o que ele poderia me acrescentar?
(Note que o Dr. José Neto teve uma reação parecida.)
Eu trabalho com isso já há anos, tenho uma experiência muito grande.
Mas fiquei desconfiado, guardei o nome e a referência dele, e alguns meses depois, por incrível que pareça, eu resolvi entrar no blog dele, e comecei a assistir alguns poucos vídeos que existiam no YouTube, vídeos dele falando.
E aquilo, enfim, me iluminou.
Assim como iluminou tanta gente que está na low-carb até hoje.
Então eu acho que esse é um resumo dessa questão.
E você me perguntou da minha especialidade.
Durante a faculdade eu comecei a gostar, em especial, na endocrinologia, que é a especialidade que mais lidava com essa parte nutricional, com a obesidade, com diabetes.
São doenças correlacionadas, então eu acabei optando por essa especialidade.
Eu não tinha vocação para ser um cirurgião, eu nunca tive.
E, dentre as especialidades clínicas, esta foi a que mais me encantou, talvez até pela complexidade, pelo eterno desafio — e hoje eu vejo que escolhi certo, que realmente é uma especialidade que está em constante crescimento, e você tem muita coisa para estudar. É um mundo a ser explorado.
Então eu acabei optando pela endocrinologia e eu atuo nela desde 1995, na prática.
Tenho uma experiência muito longa, eu me dedico bastante ao consultório, então eu tenho um volume que realmente chama a atenção.
Porque eu não trabalho em outros locais, quase não trabalho em hospitais, e gosto do que eu faço. Então, como eu moro numa cidade um pouco menor, que é Joinville, Santa Catarina, eu consigo atender bastante gente.
Eu não fico tanto tempo no trânsito, como eu falei, eu não me desloco para outros locais, então eu tenho um volume bastante significativo.
Cirurgia Resolve Obesidade?
Guilherme: É muito interessante você mencionar, inclusive, esse aspecto clínico em oposição ao aspecto cirúrgico.
Porque a gente vê cada vez mais, hoje em dia, muitas pessoas tentando consertar problemas, que são notadamente de origem hormonal — como alguns desequilíbrios, resistência à insulina, obesidade — muitas vezes, com abordagens cirúrgicas.
Daí a gente pode colocar desde a cirurgia bariátrica, até o balão intragástrico, para emagrecer.
O que as pessoas precisam saber sobre essas estratégias?
Quais são alguns erros ou concepções erradas comuns que as pessoas têm?
Porque (só pra dar um pouco de contexto) o que a gente recebe muitas vezes como e-mail, é as pessoas dizendo algo assim.
Ah, eu vou fazer uma cirurgia e isso vai resolver meus problemas. Eu não vou ter que fazer dieta.”
O que tem de errado nesse raciocínio — e o que as pessoas que estão ouvindo a gente agora poderiam saber para se inteirar mais sobre o assunto?
Eduardo Senra: Então, eu vou falar mais especificamente da cirurgia bariátrica — e depois a gente, numa outra parte, comenta sobre o balão.
Então, a bariátrica é um procedimento cirúrgico. Ele é bastante invasivo e agressivo, reservado normalmente para as pessoas com obesidade mórbida.
Nós temos, também, outras indicações que seriam pacientes com obesidade grau 2 — e eu vou fazer um parêntese aqui.
Nós calculamos os graus de obesidade baseado no IMC.
E o IMC a gente calcula pegando peso, dividindo pela altura, e daí dividido novamente pela altura.
Então, por exemplo, se a pessoa tem 120 quilos, com 1,60m.
Pegamos o 120, dividido por 1,60 de altura, e por 1,60 novamente. Aí nós vamos ter o IMC
(No caso, o IMC daria 46.)
Quando a gente tem o IMC entre 30 e 34,9, a gente chama de obesidade grau 1.
Quando está entre 35 e 39,9, de obesidade grau 2.
E, acima de 40, a obesidade mórbida.
A cirurgia bariátrica seria indicada para esses casos de obesidade mórbida.
Nos casos entre 35 e 39,9, quando você tivesse uma série de comorbidades.
(Nota: comorbidade é o nome que se dá a doenças que tendem a acontecer simultaneamente num paciente.
Por exemplo,, temos as várias manifestações da síndrome metabólica: diabetes, hipertensão, obesidade, esteatose hepática não-alcoólica,dentre outras.)
Antigamente, eram em torno de 5 ou 6 comorbidades. E hoje tem quase 30, ou até um pouco mais de 30, indicações.
Então, se facilitou muito o acesso à cirurgia bariátrica, em casos que eu considero relativamente absurdos, tecnicamente.
, é o que a gente… recomendado pelo CFM, teríamos em mãos para poder indicar ou não a cirurgia.
Mas essa questão que você colocou é muito importante.
Assim, a pessoa opta pela bariátrica achando que não vai precisar cuidar da alimentação.
Mas, na verdade, ela será obrigada a cuidar da alimentação.
Porque primeiro, dependendo da técnica utilizada — que eu vou comentar logo em seguida — ela não vai conseguir comer um volume muito grande.
Porque um estômago que tem uma capacidade de 1,5 litro, por exemplo, fica reduzido, em uma das técnicas para 15 a 30 ml.
Então nem que a pessoa quisesse comer ela conseguiria.
Então é obrigada a fazer a restrição alimentar, e isso para algumas pessoas isso é uma coisa complicada.
No longo prazo, os resultados tendem a se manter para quem procura uma alimentação equilibrada.
Quem faz a cirurgia, mas volta aos poucos a driblar a alimentação saudável que é imposta à pessoa… acaba recuperando peso.
Então, ao contrário do que se pensa, optar pela bariátrica não é optar por deixar de se cuidar.
Você terá, como eu falei, uma obrigação e uma necessidade se quiserem manter os seus resultados.
Então essa facilidade que muita gente entende que teria numa bariátrica não é real — sem contar as inúmeras complicações que você poderá vir a ter se você não tiver um cuidado muito grande com as bariátricas.
Por exemplo, é a questão da reposição de vitaminas, que é a complicação de longo prazo mais frequente.
Então, não é a facilidade e a simplicidade que alguns imaginam.
Como, por exemplo, alguém que retire uma vesícula biliar: “ah, eu tava com pedra na vesícula, tirei. No momento incomodou um pouquinho, com um problema ali na digestão, nas gorduras, ou acelerou um pouco o meu intestino”.
Enfim, são coisas pontuais que daqui a pouco ela se acostuma e leva uma vida normal.
Não é o caso da bariátrica, né.
O cirurgião que opera, ele vai ter um paciente para o resto da vida dele.
E o paciente que opera vai ter um cirurgião ou um clínico que entenda do assunto para acompanhá-lo eternamente.
E infelizmente, como a disciplina das pessoas que chegam à obesidade nem sempre é das melhores — sem preconceito, mas a gente vê isso na prática — a maioria acaba deixando de acompanhar depois com o cirurgião ou o seu clínico.
Depois de, mais ou menos, 10 anos de cirurgia, cerca de 10 a 15% só dos pacientes permanece em acompanhamento.
Acompanhamento que teoricamente deveria ser para o resto da vida.
Eu vou até me permitir alongar um pouco na resposta, para falar um pouco das técnicas, para que a gente, quando falar de deficiência nutricional, ou coisas parecidas, restrição de quantidade de comida, as pessoas estejam mais situadas.
Então, assim, hoje nós temos, basicamente, duas grandes técnicas utilizadas no mundo inteiro.
Uma, um pouquinho mais conhecida, que a gente chama bypass gástrico, e Y de Roux. Então imagina um estômago, que parece um grande feijão e, na parte de cima ali desse feijão, eles fazem uma pequena bolsa, que será o novo estômago.
E a parte de baixo, ela só é costurada e separada, mas ela não é retirada no organismo.
E vem uma alça, do intestino delgado, e se liga nessa pequena bolsinha que está lá em cima.
E, aí, o alimento começa a passar direto desse estômago para uma parte mais baixa do intestino delgado.
Portanto, ele terá uma restrição, pelo tamanho novo do estômago muito menor, e terá uma desabsorção, porque grande parte do intestino pela qual o alimento circulava, deixará de ser acessada pela comida.
Essa parte fica no ser humano — não é retirada também. Porque ali você tem secreção biliar, você tem a secreção ácida do estômago, tudo o que vem descendo, porém não tem contato direto com o alimento.
Mas, um pouco mais abaixo, no intestino, eles se encontram.
Mas é uma cirurgia, então, basicamente restritiva, e desabsortiva.
A outra técnica que tem sido hoje em dia a técnica mais utilizada no mundo, praticamente — e, nos Estados Unidos, sem dúvida nenhuma, é a principal — é a chamada de sleeve gástrico, também chamada cirurgia em manga.
É como imaginar, também, o feijão lá (que seria o estômago, um grande feijão), e você tiraria a parte externa, a grande curvatura do estômago.
Aí essa sim é seccionada e retirada.
Existe até uma técnica nova que eles só costuram por dentro, mas essa é uma novidade, ainda não tão divulgada.
Mas o normal é isso: você retira essa grande curvatura, visando diminuir ali a produção de grelina, que é um hormônio que nos dá apetite, mas você fica com o estômago quase que como um tubo. Como se fosse, na verdade, uma parte, uma sequência do intestino.
O esôfago, estômago e intestino ficam como quase um tubo único. Não sei se ficou claro para vocês.
Cirurgia Bariátrica: Qual O Perfil De Quem Busca?
Roney: Ficou sim, Eduardo. Eu gostei muito da sua explicação, inclusive pincelando essa questão dos nutrientes — que a gente também pretende abordar aqui nessa conversa.
Inclusive tem um caso recente de uma conhecida da minha mãe que ela descobriu que eu falava, que a gente tinha um site e falava de dieta low-carb, e ela começou a se interessar, e ler um pouco.
Mas depois de um tempo ela falou “ah, uma amiga minha fez cirurgia bariátrica, deu super certo e eu quero fazer também. Vou fazer a bariátrica porque assim eu não tenho que ficar me preocupando com dieta, é só fazer e pronto”.
É interessante ver que às vezes as pessoas acham que essa cirurgia é como se fosse uma pílula mágica.
(Não tão mágica, porque ela vai ter um certo desconforto da cirurgia e um pós-operatório, mas que depois vai dar tudo certo.)
E, como você falou, não é bem assim.
Ela vai ter uma preocupação para o resto da vida.
Vai ter que continuar se preocupando com a alimentação, porque senão depois pode até voltar a engordar.
Eu gostaria de saber, pela sua experiência, qual é o perfil das pessoas que acaba buscando uma cirurgia bariátrica. Tem algum tipo de padrão?
Geralmente é quem tentou a dieta e não deu certo ou pessoas que nem querem tentar a dieta e já querem pular direto para essa intervenção mais drástica?
Eduardo Senra: Então, a gente vem percebendo uma mudança nesse padrão.
Antigamente, realmente, as pessoas tinham um pouco mais de receio, tinham alguns casos de morte com uma frequência maior, então as pessoas deixavam, realmente, como último recurso.
E hoje eu vejo pessoas optando pela bariátrica como se fosse o caminho mais simples, mais fácil, e mais rápido para a resolução de seus problemas.
Querem transferir para a cirurgia toda a sua responsabilidade diante dessa situação — responsabilidade que não acaba, como a gente acabou de falar, mas que a pessoa imagina que acabaria.
Recentemente (não deve ter quase dois meses), saiu um artigo que a Sociedade Americana de Pediatria tava aceitando a cirurgia bariátrica já em adolescentes.
Apesar de ser a Academia Americana de Pediatria, eles falam que acima dos 13 anos, mas enfim, era alguma coisa que girava em torno de seus 18 anos, em casos bem graves, e hoje já está se falando em 13 anos.
Então eu acho que, como a obesidade tem aumentado de forma absurda no mundo inteiro, eu acho que esses perfis já começaram a serem abordados, porque realmente, a gravidade da situação é muito grande.
Eu acho, como eu já disse num post que vocês mesmos já comentaram aqui que viram, que a cirurgia bariátrica não deve ser uma opção simples como fazer uma dieta ou qualquer outra medida para perda de peso.
Mas sim uma falta de opção, depois de tudo ter sido muito bem feito, porque eu vejo muita gente também fazendo dietas mal feitas, mal orientadas, absurdas e simplesmente dizendo que não tem resultado e quer uma bariátrica.
Como se fosse uma coisa simples, como eu falei, como retirar uma vesícula, como fazer, sei lá, uma cirurgia mais simples, e não é o caso.
É realmente uma situação que vale acompanhar e vale chamar a atenção para o resto de suas vidas.
O acompanhamento precisa ser, no mínimo, anual.
No primeiro ano, a gente recomenda um acompanhamento pelo menos a cada 3 meses, depois no segundo ano a gente, se tiver tudo bem, a cada 6 meses, e depois, no mínimo, anual.
Isso é para o resto das nossas vidas, entendeu, então não é uma coisa, um atalho para o bem-estar que vai resolver todos os nossos problemas de forma definitiva.
É só um primeiro passo para começar a tentar melhorar.
Mas a gente não deveria pensar nele como a primeira opção.
Eu sou totalmente contrário, mas eu respeito os pacientes que estão numa situação crítica, geralmente os obesos mórbidos, que tentaram de forma séria tudo o que podiam, aí eu acho que esses pacientes precisam ser acolhidos.
Acho que a gente não pode ter a falsa impressão de que todos conseguem já que nós conseguimos, por exemplo.
(Algo que o Dr. Rodrigo Bomeny mencionou em sua entrevista.)
A gente sabe que, por estatísticas, o obeso mórbido — eu to falando IMC acima de 40 — um em cada 1.290 homens conseguem emagrecer, e uma em cada 677 mulheres consegue emagrecer.
Essas são estatísticas mundiais, então não é fácil.
Eu acho que a gente tem que fazer de tudo para que o paciente não chegue a esse estágio, porque ele nunca é bom.
Ele pode ser menos ruim se nada mais, ninguém pode fazer por ele e nem ele mesmo.
Cuidados Alimentares Após A Cirurgia Bariátrica
Guilherme: Com certeza, com certeza, doutor.
E eu acredito que um ponto interessante que a gente levantou e tocou de passagem aqui, foi que mesmo essas pessoas após a cirurgia bariátrica, tem de ter alguns cuidados alimentares.
Até por terem inclusive um sistema gastrointestinal encurtado depois.
E, só pra gente pincelar um pouco, quais seriam alguns desses cuidados que essas pessoas tem que ter?
Porque a gente mencionou que “tem que ter cuidados alimentares para poder manter a saúde” — mas quais seriam os cuidados que essas pessoas têm de observar para a vida, mesmo após a cirurgia?
Eduardo Senra: A dieta precisa ser uma dieta saudável, por incrível que pareça.
O paciente que acha que vai comer errado como sempre, talvez, tenha comido, ele não vai conseguir viver com qualidade.
Porque, por exemplo, se ele come açúcares, principalmente no bypass gástrico, que é aquela absortiva e restritiva, ele tem uma chance muito grande de fazer hipoglicemia — a hipoglicemia reativa, já que nossos açúcares atingiriam a região no qual eles seriam absorvidos com muita rapidez.
E aí a insulina subiria em grande intensidade, rapidamente, fazendo uma hipoglicemia reativa, né.
Fazer hipoglicemia não é nada agradável, todos nós sabemos disso, o mal-estar é grande e conviver com isso diariamente seria um grande problema.
Em relação aos carboidratos, mais complexos também, se você come um grande volume, a tendência é que você faça o que a gente chama de dumping, onde a pessoa também sente um mal-estar muito grande, não necessariamente fazendo hipoglicemia.
Aliás, na maioria das vezes não seria acompanhada de uma hipoglicemia, mas é uma quantidade de comida muito grande que atinge o intestino de forma rápida.
Acontece basicamente com o consumo excessivo de carboidratos, mesmo que complexos, e também, às vezes, alimentos muito gordurosos ou pior ainda, os dois juntos, que é o mais comum.
E aí chega muito rápido e dá uma reação vagal, onde a pressão baixa, a sensação de desmaio, alguns chegam a desmaiar, e têm cólicas intestinais.
É muito desagradável.
Então, o paciente — mesmo querendo comer errado — passando por esse mal-estar, vai ter que pensar duas vezes, porque senão ele vai viver assim.
E o dia a dia deles fica complicado, essa preocupação existe.
Buscar uma alimentação saudável após a cirurgia é uma obrigação.”
Se você me perguntar qual o tipo de alimentação seria mais indicada, sem dúvidas nenhuma seria uma dieta low-carb, por tudo o que eu acabei de falar, porque você deve evitar o consumo de açúcares e de carboidratos, em grandes volumes.
E de preferência, havendo consumo de carboidratos, que sejam carboidratos de fontes não-refinadas.
A gente estaria falando de basicamente, de legumes, preferencialmente.
Ou, eventualmente, algumas raízes, mas não farinhas, bolachas, biscoitos e coisas, e congêneres, vamos dizer assim.
Os Riscos Anatômicos E Comportamentais Do Reganho De Peso
Roney: Perfeito, perfeito.
Então, no final das contas, a pessoa que fizer a cirurgia, mas for realmente comprometida com a saúde e manter o resultado da cirurgia, vai ter que acabar fazendo também essa intervenção alimentar — que, talvez, se tivesse sido adotada antes da cirurgia, já tivesse dado algum tipo de resultado.
Mas, como você disse, tem muita gente que tenta de tudo e realmente não consegue, e por isso acaba indo para a cirurgia.
Mas para as pessoas que estão pensando na cirurgia como “pílula mágica” fica aí mais uma vez o aviso de que você vai ter que tomar conta da sua alimentação depois também.
Além da alimentação, existem alguns outros cuidados para ter no pós-operatório?
E, mais do que isso, é possível voltar a engordar depois de fazer uma cirurgia bariátrica? E se é possível, quando que isso acontece?
Eduardo Senra: Após a cirurgia, a gente tem causas anatômicas que facilitam a recuperação de peso, e casos comportamentais, tá.
Do ponto de vista anatômico, é um pouco mais complexo, mas eu vou citar rapidamente, mas você pode ter uma fístula, por exemplo, onde você diminui o tamanho do estômago e deixa o outro estômago, a outra parte abaixo dele, ali pode se criar uma fístula, uma comunicação e você começa a que o alimento transite por ali novamente.
Aí passando por ali, desce pela parte do intestino que também estava excluída, porém ainda no paciente, e você começa a absorver tudo naturalmente, então essa é uma das complicações.
E onde você liga o intestino no estômago também fica um volume pequeno — para que a comida não passe diretamente.
Você tem, vamos dizer assim, uma abertura reduzida, um estreitamento para que o alimento pare um pouco no estômago.
Com o tempo, isso normalmente tende a uma dilatação.
A comida tende a passar muito rapidamente, a pessoa não se sacia, porque a saciedade da bariátrica quando se faz uma restrição do estômago acontece porque o alimento expande aquela parte superior que foi reduzida, e o paciente tem essa sensação.
Ele fica mais saciado rapidamente, mas se o alimento chega e passa rapidamente, ele acaba não obtendo esse benefício.
Então, essa é uma complicação também anatômica, vamos dizer assim.
Essa bolsa também pode se dilatar com o passar do tempo, isso aí aceitando que você consuma cada vez um pouco mais, também ajudando a recuperação de peso.
E na parte comportamental, o que você vê mais com relação à recuperação de peso, pessoas que às vezes, por incrível que pareça, ao emagrecerem bastante, ficarem com excesso de peles, podem reduzir a autoestima.
Uma diminuição da atividade física que ela talvez tenha feito logo após a cirurgia, tentando se cuidar ela acaba abandonando, e aí ajuda na recuperação.
Pessoas que deixam de se cuidar, deixam de acompanhar com seus cirurgiões, deixam de, enfim, de se auto monitorar, se abandonam, vamos dizer assim, e acabam recuperando peso.
Uma coisa interessante, também, que eu observo na minha prática, é que às vezes, a pessoa vive querendo emagrecer, e uma vez que ela tenha emagrecido, aquilo gera uma angústia, uma ansiedade muito grande.
Porque às vezes era uma pessoa que não tinha relacionamento, que era uma pessoa que se escondia atrás de sua obesidade, que tinha privilégios familiares e que acaba perdendo todos esses benefícios, começa a se expor à vida.
Veem pessoas se interessarem por ela, veem sua sexualidade sendo colocada à vista, sendo que é uma coisa que pra ela ficava…
Ou então isso às vezes gera uma angústia muito grande, e as pessoas, às vezes, pioram…
Assim, poxa, mas a vida inteira você quis emagrecer para se mostrar, mas agora eu quero reengordar, porque eu quero de novo o meu escudo protetor.
Então, são coisas bem complexas que a gente acha que não ocorrem, mas que podem, sem dúvida, acontecer em alguns casos especiais.
Outra causa comportamental, que a pessoa não consegue controlar os seus impulsos alimentares, que aliás é algo que ela já não conseguia fazer antes, e não é pela cirurgia que talvez ela vá conseguir.
Isso, com o tempo, com essas alterações que eu falei até mesmo anatômicas, de dilatação da bolsa, de uma capacidade da alimentação chegar um pouco mais rápido, ela começa a perder a capacidade de se conter e ela acaba se perdendo um pouquinho.
Outra coisa que se fala é que às vezes a pessoa tira a compulsão da comida e começar no lugar algumas outras, alguns outros vícios.
Isso não é necessariamente obrigatório, mas a gente percebe através de estudos observacionais, que existe uma tendência maior a que os pacientes tenham uma chance maior de abusar de álcool, de outras drogas, de opioides.
São basicamente esses os comportamentos que facilitam a recuperação de peso.
Taxa De Recuperação De Peso Após A Bariátrica
Guilherme: Nossa, fascinantes esses pontos. Porque parece que a pessoa justamente passou tanto tempo focada em atingir esse objetivo — voltada apenas para isso — e, quando ela chegou lá, não sabia o que fazer.
E é interessante, até para a gente pensar no aspecto comportamental, que a pessoa que tem uma determinada compulsão canaliza isso para outra compulsão.
Quando ela tá (muitas vezes) fisicamente impedida de exercitar a primeira — porque ela não tem mais a mesma capacidade estomacal que antes.
É realmente fascinante para ressaltar paras as pessoas que a obesidade, muitas vezes, é um problema multifatorial.
Não é uma coisa que você pode apontar para as pessoas e dizer
- “é falta de força de vontade”, ou
- “é algum problema hormonal”, ou
- “é genético”,
apenas. E sim todo um contexto que está envolvido nisso, excelente relembrar isso sempre.
Eduardo Senra: Uma coisa que eu queria reforçar, que você perguntou também, é o percentual de recuperação de peso.
Em cinco anos, ele gira em torno de 10%, e em dez anos, em torno de 20%.
Existem várias coortes sendo acompanhadas.
Tem algumas que falam até numa taxa de recuperação de até 35% no longo prazo, então não é uma coisa insignificante não.
Ela é mais comum nos primeiros dois anos. Também isso é uma questão interessante para se destacar.
Benefícios De Saúde De Emagrecer Com Bariátrica
Roney: Perfeito, perfeito. Eduardo, a gente vê alguns “efeitos colaterais bons” de uma alimentação bem-feita, em pessoas com problemas de saúde, como:
- reversão ou diminuição do diabetes tipo 2,
- reversão de esteatose hepática não-alcoólica,
- diminuição de triglicerídeos,
- melhora da saúde cardíaca,
Enfim, um monte de benefícios que vêm junto do emagrecimento em pessoas que estão seguindo uma dieta mais baixa em carboidratos e rica em comida de verdade.
O mesmo acontece com pessoas que fazem uma cirurgia bariátrica e acabam emagrecendo, ou já não é a mesma, o mesmo resultado final?
Eduardo Senra: Essa pergunta é bem interessante e realmente eu vou dizer para vocês: para quem consegue manter o peso e sustenta o emagrecimento, os resultados são maravilhosos e equivalem a uma dieta bem-feita.
Aliás, foi mostrado isso, que os resultados conseguidos com uma alimentação muito baixa em caloria, não era nem uma dieta low-carb.
Quer dizer, ela não deixava de ser low-carb, mas ela era low-carb, era low fat, ela era “low tudo”, porque ela era com muito baixa caloria.
E ela mostrou resultados equivalentes a uma bariátrica.
O grande problema desse trabalho — porque realmente para muitas pessoas foi uma surpresa, já que os resultados equivaliam — é a sustentação dessa estratégia.
Já que a gente estaria falando de uma dieta de muito baixa caloria.
O que mais se aproximaria disso, na minha opinião, para a sustentabilidade na vida seria alguma coisa próxima de uma dieta cetogênica.
Na qual o paciente realmente tenderia a conseguir comer melhor, em termos de ter menos, na verdade, então uma dieta low-carb cetogênica, na linha ali entre uma e outra, vamos dizer assim.
Eu acho que seria o mais próximo que a gente conseguiria desses resultados grosseiros que às vezes a bariátrica nos traz no longo prazo — já que essa dieta que eu falei que mostrou resultados maravilhosos, elas foram controladas, enfim, os pacientes estavam totalmente gerenciados.
Não era a vida real, tá.
Mas a gente sabe que, do ponto de vista metabólico, os resultados se equivalem.
O que mostra que realmente, os resultados cirúrgicos são maravilhosos, por incrível que pareça, do ponto de vista metabólico.
Sem esquecer de todos os transtornos que a gente falou: de desnutrição, que a gente pode falar um pouco mais adiante, enfim, de todos os transtornos que a gente já falou até agora.
Mas a dieta bem feita faria o equivalente a essa cirurgia, com todos os benefícios que teoricamente ela poderia nos trazer.
Mas, sim, esses resultados em termos de remissão de diabetes, é muito frequente.
Diminuição e até reversão da esteatose hepática, a gente tá falando aí em quase 70% de remissão de diabetes.
Quase 70% de remissão da hipertensão arterial — e o resto que vai junto no pacote.
Porque o paciente que come menos do que precisa, ele necessariamente entra num processo de reversão.
E a gente não pode esquecer que, quando a gente começa emagrecer, a primeira coisa que a gente perde é a gordura visceral, que é essa que você comentou da esteatose hepática.
E junto da esteatose hepática, a gente reverte a esteatose pancreática (que é uma coisa que pouca gente fala) que ajuda na reversão do diabetes.
Que você vê que células que teoricamente estariam mortas, que a medicina dizia, depois a gente precisou rever que essas células, na verdade, não estavam mortas.
Vamos dizer que é como se estivessem “adormecidas”, e que elas voltam a fabricar insulina e conseguem reverter a liberação de insulina, como de uma pessoa normal, após essa perda de gordura intrapancreática.
Essa perda de gordura — que tá dentro do pacote do emagrecimento — que favorece bastante a melhora das comorbidades, que geralmente são associadas à obesidade.
Mas um detalhe interessante também: geralmente esses benefícios de reversão de diabete, eles se dão mais em pacientes que têm a gordura visceral — essa é a parte mais importante.
Por exemplo, se você tiver um grande obeso, de obesidade mórbida severa, porém sem uma grande resistência insulínica.
Vamos dizer, se você ver que ele tem uma grande capacidade de estoque subcutâneo, esses pacientes geralmente não revertem tão bem o diabetes.
Porque a síndrome metabólica que ele tinha, que era fruto da resistência insulínica, não era principalmente por isso, era por outros motivos.
Então, a síndrome metabólica que está por trás da obesidade mórbida, ela geralmente traz mais benefícios de reversão desses problemas que a gente comentou agora: a diabete, hipertensão, esteatose.
E existe diferenças entre obesos.
A Verdade Sobre O Balão Intragástrico
Guilherme: Com certeza existe! E, falando em diferenças, a gente mencionou alguns tipos de bariátrica, né, e de cirurgias que seriam interessantes.
E outra que a gente até falou o nome, mas não entrou em detalhe, é o tal do balão intragástrico, que a gente vê bastante pessoas procurando por ele.
Como que é essa intervenção? Que que difere ele de outras espécies de intervenções? E até — não sei se existe uma resposta objetiva para isso, mas — por que ele ganhou tanto o imaginário das pessoas?
Eduardo Senra: Ele ganhou o imaginário eu acho que porque ele, realmente, no curto prazo, ele mostra resultados interessantes, e o raciocínio aqui é simples.
Eu vou detalhar e vocês acompanham comigo aqui, inclusive quem está nos ouvindo.
Quando você coloca o balão ali, você está ocupando um volume dentro do estômago, previamente, antes mesmo de comer, que teoricamente teria sido ocupado por mais comida.
E aí você sente a saciedade quando o teu estômago se dilata, a ponto de dilatar a cúpula, que é a parte superior do estômago, por isso que é essa que forma a bolsinha do bypass gástrico, tá.
Mas, em um paciente que ainda não operou, essa parte, ao se dilatar, ela promove uma sensação de saciedade.
Quando você coloca o balão, você atinge essa sensação mais rapidamente, visto que você já tem um volume ali ocupado por um balão, que não é caloria e não é alimento.
Então, esse é o benefício do balão.
Mas ele não pode ficar eternamente ali.
E os resultados, mesmo que você o recoloque, não são tão bons quanto na primeira vez.
Aí eu tenho algumas teorias, eu posso explicar porque ele não deixa de ser interessante, na minha opinião.
Mas, enfim, você deixa ele por seis meses, alguns balões podem ficar até por um ano.
Mas, uma vez retirado, o que eu entendo, veja que é uma opinião pessoal, nunca ouvi isso de um cirurgião ou de quem, de alguém que coloque o balão, até porque, obviamente, eles trabalham com isso.
Não sei se é uma informação tão interessante, mas eu entendo que uma vez que você coloque esse balão, que é um balão de silicone, cheio de um líquido, ele pesa no estômago, que é uma víscera, enfim, oca, mas distensível.
Então ele fica ali por meses forçando as paredes do estômago, que conseguem criar uma capacidade de acondicionar alimentos maior do que sem o balão.
E aí, quando você retira o balão, você será capaz, para se sentir satisfeito, de comer mais ainda do que você comia antes de colocar o balão.
Essa é a minha percepção — quero reforçar, é uma percepção pessoal, então o que eu entendo é isso, que você quando tirar o balão, você terá mais dificuldade de atingir a saciedade e, portanto, maior potencial de recuperação de peso.
Tanto é que ele não é visto como uma coisa definitiva, e eu acho que a principal indicação do balão é para doentes extremamente obesos, que têm um risco cirúrgico muito aumentado, que precisam perder peso para serem operados, por incrível que pareça, que a dificuldade de transportá-lo numa maca, de mobilizá-lo, do risco de insuficiência respiratória no pós operatório é muito alto, devido ao grande grau de obesidade.
Então, eles são emagrecidos, às vezes à fora, e o balão é uma das estratégias.
Retirando o balão, tendo perdido peso mínimo desejado, que ele entre na cirurgia, mas eu acho que como estratégia para uma pessoa que não pretende operar, eu não vejo sentido.
Alguns vão defender que, “ah, pode ser interessante para que ele se motive com a perda de peso, e dali pra frente ele se cuide”.
Na prática, eu não vejo isso.
Eu não conheço nenhum caso — não tô dizendo que não exista, eu to dizendo a minha experiência pessoal de pacientes que colocaram o balão, que fizeram e me procuraram — que conseguiram manter os resultados ao longo prazo.
Então, eu particularmente, não sou fã do balão, exceto para preparo cirúrgico.
Balão Intragástrico — Uma Solução Temporária
Roney: Certo, perfeito, Eduardo.
Então na sua visão é bem diferente colocar o balão intragástrico ou fazer a cirurgia bariátrica.
Pois, do ponto de vista de quem quer perder peso e manter o peso — o balão não pode ser usado como uma estratégia de emagrecimento.
Eduardo Senra: São coisas bem diferentes. Quem pretende conseguir alguma solução marcante e definitiva, que se pretenda se aproximar disso, essa pessoa com certeza não deveria pensar no balão.
Ela deveria estar pensando na cirurgia bariátrica.
Como eu lhe falei, o balão eu acho que pode ser usado, como eu falei, para preparar para uma cirurgia…
Mas, às vezes, a gente precisa errar para se convencer de que a gente está errado: então tem pessoas que insistem na colocação do balão, passam por essa experiência e às vezes até amadurecem para entenderem que precisam, realmente, de uma bariátrica.
Ou que tenham a opção de fazerem uma dieta bem-feita.
Mas que dessa forma, ela certamente não vai resolver no longo prazo. Eu não conheço nenhum caso.
Já Fiz A Cirurgia, E Agora? Posso Fazer Low-Carb?
Roney: Agora, eu gostaria de fazer para você a pergunta que foi, talvez, a grande motivadora desse tema de podcast — que é uma pergunta que a gente recebe sempre dos nossos leitores.
É a seguinte, eu tenho o balão intragástrico ou eu já fiz a cirurgia bariátrica, e eu gostaria de saber se eu posso fazer uma dieta low-carb ou uma dieta cetogênica.
Bom, é engraçado alguém pensar que seria melhor comer um monte de pão, farinha e açúcar para algum cenário de saúde do que evitar esse tipo de comida.
Mas tudo bem: para essas pessoas, é recomendado ou elas podem fazer uma alimentação baixa em carboidratos e rica em comida de verdade?
Eduardo Senra: Ótima pergunta.
Bem, é o seguinte.
Eu tive uma vez o privilégio de palestrar em Joinville num evento em que o Souto participou, e a palestra que eu fiz levava o título de: ” A verdadeira dieta humana”.
E ali a gente mostrava por A mais B, que o ser humano comia de forma low-carb, ao longo da sua evolução.
Então, teoricamente, essa é a dieta mais adequada à espécie humana, assim como cada espécie tem a sua dieta específica.
O leão é um carnívoro estrito, assim como o gato.
Alguns animais são herbívoros exclusivos, e por aí vai.
A dieta humana é onívora, porém ela tendia a ser low-carb na África, que foi onde a espécie se desenvolveu.
Então, isso é importante entender, porque do ponto de vista evolutivo, nós saímos da África prontos, não houve nenhuma mudança genética significativa na nossa fisiologia que nos permitisse alterar os nossos genes, para dizer que a dieta mudou completamente.
Não, a dieta com a qual nós evoluímos é a low-carb, então se ela é boa para uma pessoa normal, por que não seria para alguém que fez uma bariátrica?
Eu parto desse princípio. A dieta cetogênica, eu diria que eu recomendaria mais para o bariátrico, por exemplo, que está recuperando peso, e que tem uma necessidade de perder peso ainda maior.
Ou se está em processo de perda de peso e ele se adapta bem à dieta, isso facilita que ele controle seu apetite.
Não vejo nenhum problema.
Mas, se ele quer uma dieta que não seja tão mais complexa, ou tão mais difícil, eu acho que uma dieta low-carb se prestaria à maioria dos pacientes com segurança e tranquilidade.
Não vejo nenhuma preocupação nesse sentido.
Até porque a gente estaria falando, mesmo que quando houvesse consumo de carboidratos, não refinados, enfim, o que a gente chama de carboidratos corretos ou bons carboidratos.
Enfim, e comendo de forma comedida, como a própria cirurgia normalmente exige, eu acho que isso não traria nenhuma consequência negativa.
Eu acho que ela não só é indicada, mas ela é desejada para alguém que quer ter saúde, tendo feito bariátrica ou não.
Acima De Tudo, Acolher O Paciente
Guilherme: Perfeito!
Assim ficou bem claro para todo mundo — é o que a gente já pensava também, mas agora este recurso, este podcast, vai ser para onde a gente vai indicar todo mundo que fizer essa pergunta para a gente.
Porque ficou bem completa a resposta, e dá uma visão geral de toda essa questão de cirurgia para emagrecer, do balão para emagrecer.
E é bom abrir os olhos das pessoas para elas verem que não é tão simples quanto parece: não é só fazer uma operação que tudo vai se ajustar depois.
Eduardo, você teria mais alguma coisa para complementar sobre esse assunto de cirurgia bariátrica, balão intragástrico, dieta low-carb?
Eduardo Senra: Olha, assim de cabeça agora eu não teria nada mais a acrescentar, eu continuo à disposição, se vocês tiverem mais alguma dúvida.
Mas de cabeça não teria nada no momento para acrescentar não.
E penso que a gente realmente tem que acolher as pessoas que realmente estão numa situação complicada, ao mesmo tempo que eu acho que as pessoas tem que ter a noção de todas as estratégias que podem evitar que ela evolua para uma bariátrica.
Eu sou um adepto e um entusiasta da low-carb, então eu acho que o paciente não é obrigado a fazer a cirurgia.
Infelizmente não são todas as pessoas que conseguem, porém eu acho que as pessoas tem que ter, pelo menos, a oportunidade de conhecer a estratégia, se possível, testá-la, e se ainda assim, tentando de forma correta, não tiverem os seus resultados e estiverem com sua saúde abalada, que elas sejam compreendidas, acolhidas e ajudadas a sair dessa situação.
Porque, infelizmente, não são todas as pessoas que têm essa disciplina, essa força de vontade, essa vontade de ter saúde, de ter tudo isso.
A vida de algumas pessoas às vezes é muito complexa, e às vezes não cabe à gente fazer esse tipo de julgamento.
Mas nunca deixar de dar a ela um caminho para que ela tente.
Se ela realmente não quiser, é uma opção.
E eu digo, às vezes para alguns pacientes: eu estou lá sempre para ajudá-los — para tentar (a quem tiver vontade de melhorar) de ter os caminhos que eu entendo que sejam os mais saudáveis e adequados.
Mas eu não estou lá para impor a ninguém as minhas verdade ou os meus valores, e eu respeito até os pacientes que não querem se cuidar.
Eu já tive, para minha surpresa, pacientes que estando diante de um controle tão ruim, às vezes de um diabetes, eu falei assim:
Poxa, você não tem amor à vida?”
Eu estava indignado com a situação.
E o paciente virou pra mim e falou assim: “eu quero, eu quero morrer, eu não tenho nenhuma vontade de continuar vivo”.
Enfim, foi uma situação bem complexa, e ele me explicou tudo o que aconteceu na vida dele, e realmente eu baixei a bola.
Eu baixei a bola porque, enfim, existem casos e casos, e a gente tem que saber respeitar os limites de cada um.
E quando, realmente, o paciente se convence, depois de todas as cartas na mesa, que a bariátrica é a melhor opção, eu tenho que realmente apoiá-lo.
Eu entendo dessa forma, eu não desejaria para mim e nem para ninguém, mas essa decisão ela tem que ser compartilhada, tem que ser dividida e a gente tem que respeitar os valores e preferências de todo mundo.
Mas a gente não pode deixar passar essa questão, de que optar pela bariátrica é uma decisão complexa para o resto das nossas vidas, para quem se submete a ela, e que ela não é mais fácil do que fazer dieta não.
Ela é tão complexa quanto fazer dieta.
Nela, você vai a um extremo de mutilar parte de seu corpo para que você obtenha um resultado que, teoricamente, poderia ser conseguido sem essa cirurgia.
Isso é uma questão que tem que ficar clara para o paciente.
Mas que, se ele realmente se vê impossibilitado, e tem sua saúde muito abalada pela obesidade, eu acho que acaba sendo uma opção a ser respeitada.
Essas seriam as minhas palavras finais — eu acredito que você me pediria as palavras finais (costumamos fazer isso nos podcasts), mas eu terminaria com essa mensagem.
Guilherme: Com certeza, foi uma bela mensagem.
Pois ela enfatiza também a importância de duas vias: tanto da sua obrigação, como médico, de mostrar as opções e explicar os prós e contras de cada uma.
Como também de respeitar o direito de escolha de cada paciente, que muitas vezes, talvez, vai contra as suas próprias crenças pessoais.
Porém como profissional você, justamente, tem que respeitar esse livre arbítrio das pessoas que entram no seu consultório.
Então, a suas palavras foram muito claras, nesse sentido. E esta é uma mensagem bonita tanto para médicos quanto para pacientes que estão nos ouvindo: para entender esse respeito, tanto a uma obrigação, um senso de dever, de mostrar fatos, quanto a um senso de dever de respeitar o desejo do outro, mesmo quando ele difere do seu. É muito bonito isso.
O Pedido Do Dr. Senra Para Você
Eduardo Senra: Legal, legal, que bom. Espero que possa ser útil para ajudar as pessoas a tomarem as decisões, nesse sentido.
Mas, se eu pudesse pedir a cada um dos pacientes que estão em vias de fazerem a bariátrica, sempre pediria para que tentassem, de forma dedicada e real, não evoluir para a bariátrica.
Essa ainda é a mensagem principal: eu não estou, de maneira nenhuma, defendendo que é uma coisa simples, que é “Ah, vamos respeitar todo mundo”.
Não: eu acho que a gente em que realmente lutar junto com o paciente para que ele reverta essa tendência.
Mas, em casos especiais, que nós possamos orientá-lo da melhor forma possível.
Os Hábitos Saudáveis Do Eduardo Senra
Guilherme: Perfeito, Eduardo, perfeito. Na minha opinião, ficou bastante claro para todo mundo esse posicionamento.
E, pessoalmente, também é algo que eu tendo a concordar: que a gente opte por deixar as medidas “de última instância” — aquelas que, por exemplo, são irreversíveis — para última instância.
Para o caso de quando a gente tentou as outras medidas antes, mas elas não deram certo.
E nesse aspecto, a gente sabe que tem alguns hábitos, algumas atitudes que a gente consegue implementar no dia a dia, que melhoram enormemente nossa qualidade de vida.
E os nossos ouvintes sempre gostam de escutar quais são os hábitos saudáveis dos entrevistados.
Se você tivesse de escolher alguns hábitos saudáveis, apontar algumas atitudes que você toma no seu dia a dia, que você sente que enriquecem a sua qualidade de vida, quais seriam eles?
Eduardo Senra: Eu já naquela minha época de adolescente, o que ficou pra mim foi a busca pelo consumo de comida de verdade, mesmo que fossem, na época, alimentos ricos em carboidratos, eram só alimentos naturais.
Já naquela época eu já não consumia alimentos com corantes, com aromatizantes, industrializados, ultraprocessados, e isso sempre ficou pra mim.
Eu ainda não entendia o conceito de low-carb, nem me preocupava com os macronutrientes, mas eu já desde a adolescência, evolui para essa ideia da comida de verdade, que antes não tinha esse nome.
Antes chamava de “comida natural”, que é o que vinha na época dos hippies, para quem sabem quem foram, para quem se lembra disso, que nem todo mundo sabe.
Mas, enfim: comida de verdade sempre, é uma dica que eu acho que deve ser a nossa busca diária, as atividades físicas, eu diria que, é minha vida, assim, eu sempre fui um apaixonado por esportes, continuo apaixonado por esportes, e hoje pratico squash, que é o esporte que eu aprendi a amar e até hoje participo de campeonatos e jogo com pessoas, às vezes, dez, quinze, vinte anos mais novas que eu e que me trazem muita alegria.
Recomendo os exercícios de força, como obrigatórios depois dos 50 anos, uma excelente opção antes disso, sempre com o acompanhamento de qualquer outro esporte que você possa vir a fazer, porque é uma forma de reforço muscular que te previne de ter outras lesões, então, se eu pudesse hoje indicar atividades físicas a alguém, eu indicaria alguma atividade que você goste, pode ser aeróbica, anaeróbica, pode ser caminhar, pode ser uma corrida leve, que eu não sou muito fã da corrida de longas distâncias, né.
Mas, enfim, corridas básicas, são de menos de 10 km, na minha opinião, nem todos os dias, de preferência, obviamente.
Então, eu sou mais adepto de corridas curtas, eu não sou muito favorável a corridas de longa distância, que eu acho que a gente passa um pouco da cota do saudável, mas é uma opinião muito polêmica.
Entenda como uma dica pessoal, e não uma dica cientificamente comprovada, e eu não quero entrar em atritos com ninguém, isso é uma dica pessoal.
Então, caminhadas, natação para quem gosta, dança para quem gosta, vôlei, futebol, enfim, cada um pratica o seu esporte tendo a musculação como o grande complemento.
Então, de atividades físicas seria isso, mas nunca deixando de lado a questão da qualidade do sono, que é uma coisa muito negligenciada, e que é muito importante para a nossa qualidade de vida, nosso controle alimentar, para a nossa imunidade, enfim, para a nossa disposição, para a nossa mente.
Esse é um aspecto também que eu valorizo bastante e que acho que as pessoas deveriam dar a atenção devida.
Esses são os grandes pilares, alimentação, sono, atividade física moderada, e claro, a atenção especial ao nosso intelecto, à nossa parte emocional, aos nossos relacionamentos, tudo isso contribui para que a gente tenha uma saúde, uma qualidade de vida, uma disposição, uma alegria de viver que nos faça cada vez melhor.
Roney: Acho que assim a gente encerra muito bem o nosso episódio de hoje, você já tinha deixado também a sua mensagem final, anteriormente.
Então, agora eu gostaria muito de agradecer você pelo seu tempo, pela sua atenção, sua disponibilidade em vir aqui falar com a gente, dar essa verdadeira aula sobre o assunto que a gente tratou hoje.
Muito obrigado, mesmo, Eduardo.
Eduardo Senra: Eu que agradeço. Eu acompanho vocês já há um bom tempo.
Recomendo muito o site de vocês, sigo e aprendo com vocês, então, parabéns pela iniciativa.
O bem que vocês promovem às pessoas, levantar essas questões tão relevantes para a saúde da população, então, é uma honra enorme estar aqui com vocês, e não deixa de ser a realização de um sonho.
Obrigado pelo convite e sempre que precisarem de mim, podem ter certeza que eu estarei à disposição, tá bom? Muito obrigado.
Siga O Eduardo Para Mais Dicas
Guilherme: Ah, muito obrigado por suas palavras gentis.
A gente fica honrado de poder ser reconhecido, inclusive por profissionais que a gente tanto acompanha e segue e admira o trabalho.
Obrigado pelo seu tempo de ter vindo aqui, e também pelas palavras gentis, por saber que a gente com a nossa iniciativa, com o nosso esforço, está conseguindo alcançar mais pessoas e difundir essa mensagem.
E é claro, quando isso é reconhecido por pessoas que a gente admira, é duplamente gratificante.
Então obrigado Eduardo, tanto pelo seu tempo, quanto por você ajudar também a espalhar essa mensagem, a espalhar o bem-estar e a saúde para as pessoas que nos escutam, que nos seguem…
E que seguem você — inclusive no Instagram, não é isso?
Não é essa a sua mídia mais ativa? Conta pro pessoal como que eles podem acompanhar o seu trabalho mais de perto. Por favor.
Eduardo Senra: Exato, é minha mídia mais ativa, realmente, a que eu me dedico mais. Geralmente eu reposto o que eu trabalho no Instagram no meu Facebook.
Mas o que realmente eu recomendo e onde eu sou mais ativo, e não sou mais ativo porque, como eu disse, eu tenho um volume de atendimento muito alto.
Então eu não consigo me dedicar tanto quanto eu gostaria, espero que com o passar dos anos isso se torne mais possível, quem sabe, que eu consiga me dedicar cada vez mais.
Mas o meu Instagram é @drsenra, e é basicamente ali que a gente se mostra um pouquinho, mostra o que a gente acredita tentando sempre, obviamente, ajudar o maior número de pessoas.
Roney: Perfeito, Eduardo, muito obrigado mais uma vez.
E eu também queria aproveitar para agradecer todos os tanquinhos e tanquinhas que ouviram esse episódio até aqui, que nos acompanharam ou que estão lendo esse episódio no site.
Muito obrigado para você que nos acompanha.
E se você gosta dos nossos conteúdos, então não deixe de se inscrever no seu reprodutor de podcast favorito, a gente tá por todos eles — Deezer, Spotify, SoundCloud, enfim, todas as plataformas que você puder imaginar.
É só digitar “senhor tanquinho”, você vai nos encontrar lá.
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Lembrando que a gente solta episódios todas as segundas-feiras, intercalando episódios curtinhos, que é só a gente falando, com episódios nos quais a gente traz entrevistados, que nem o Dr. Eduardo Senra, verdadeiras autoridades no assunto.
E a gente se vê no próximo episódio.
Um forte abraço do senhor tanquinho.
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