A vida secreta dos intestinos
Se existe um assunto que iguala a todos os seres humanos, é este. O que se passa no intestino afeta a saúde e o comportamento. Em livro que se tornou best-seller, autora alemã descreve um órgão que é muito mais inteligente do que imaginamos.
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Giulia Enders é autora de A Vida Secreta dos Intestinos, um dos best-sellers da atualidade na Europa.
Ela é formada em Gastroenterologia pela Universidade Goethe de Frankfurt.
E desde muito cedo interessou-se por aquele que descreve como “nosso órgão mais subestimado”.
Tudo começou quando tinha 17 anos, e apareceu-lhe uma pequena ferida na perna que teimava em sarar.
Foi ao médico.
Três semanas mais tarde, o problema alastrou-se e nenhum remédio surtia efeito.
Por sorte, leu um artigo sobre um caso parecido e decidiu investigar.
Começou a achar que não tinha um problema de pele, mas sim de intestinos.
Ela mudou a sua dieta e, assim, curou-se.
Desta forma, entendeu que saber do que se passa na barriga tem relação com muitos males.
Um dos pontos mais interessantes do livro de Giulia é a relação que o chamado trato gastrointestinal inferior têm com o nosso humor.
E a influência que seu mal funcionamento pode ter, por exemplo, no estresse e na depressão.
Com palavras acessíveis, a obra explica como o intestino tem uma inteligência própria, comparado ao próprio cérebro.
“Não só os nervos do intestino existem em quantidade inimaginável como também são incrivelmente diferentes por comparação com o resto do corpo”.
A rede nervosa do intestino é, por conseguinte, também conhecida por cérebro intestinal.
“Nenhum organismo jamais criaria tamanha rede de neurônios apenas para emitir um simples flato e deve haver algo mais nisso”, escreve.
O que ignoramos é a ligação direta do intestino com o cérebro, com o primeiro a enviar ao segundo uma série de sinais.
Toda esta comunicação chega a diferentes regiões do órgão ligadas às emoções, à moral, ao medo, à memória, à motivação.
Isto não quer dizer que o nosso intestino guie os nossos pensamentos.
Mas é inegável que os influencia.
O livro cita vários estudos, entre eles um teste realizado com voluntários humanos.
Nestas pessoas, “após quatro semanas a ingerir uma determinada mistura de bactérias, algumas áreas cerebrais apresentaram alterações significativas, sobretudo as áreas responsáveis pelo processamento da dor e das emoções”.
Estes resultados são encorajadores, segundo a autora, que sublinha que “para pessoas com um intestino irritado, pode ser muito pesada a ligação que há entre intestino e cérebro”.
O estresse também tem aqui um papel determinante.
Se estivermos muito estressados, o cérebro vai precisar de energia e vai “pedi-la” ao intestino, que “solidariamente poupa energia durante a digestão”.
Assim, situações continuadas de estresse podem provocar falta de apetite, mal-estar e diarreia.
Como o campo de investigação é relativamente novo, o conhecimento sobre a complexidade do intestino e seu efeito no organismo pode estar sendo ignorado pelos médicos no dia-a-dia.
A importância do livro é iniciar este debate.
Além da linguagem simples, a obra traz ilustrações para explicar.
Por exemplo, qual é a posição ideal no vaso sanitário.
Assim sabemos que devemos estar inclinadas para a frente e com os pés apoiados em um banquinho (o mais próximo possível da posição de cócoras).
A pose alivia o esforço, evitando-se a formação de hemorróidas e divertículos.
Um capítulo inteiro é dedicado ao microbioma, ou microbiota.
Trata-se do gigantesco mundo das bactérias do intestino e sobre o qual existem ainda poucas pesquisas.
Por este ser um universo desconhecido, a tendência é nos preocuparmos excessivamente com as bactérias más.
E assim não darmos o devido valor às boas (que existem em muito maior quantidade).
No passado, a nossa alimentação tinha muito mais vegetais, por exemplo.
O que lhes dava (às bactérias do intestino) muito mais trabalho do que pão branco ou massa”.
“As bactérias tinham muito mais comida para fazer todo o tipo de coisas, como tornar o nosso sistema imunológico mais tolerante ou influenciar o nosso humor de uma forma positiva”.
O importante é contribuirmos para tornar a nossa flora intestinal mais saudável.
Exatamente através dos probióticos e prebióticos, tentando reduzir o número de vezes que temos que recorrer aos antibióticos.
Mas a industrialização “padronizou os processos de produção com bactérias individualmente escolhidas a partir do laboratório”.
E isto torna a nossa flora intestinal muito menos rica e variada, o que pode levar a um aumento de desordens metabólicas e doenças inflamatórias.
Há também ligações entre a flora intestinal e a obesidade.
“Uma pessoa pode ser obesa por comer 20 bolos por dia ou por fatores genéticos. Sabemos que as bactérias têm uma influência entre 10 e 30% no nosso peso. E através delas podemos modificar e melhorar as coisas”.
Com limites, claro.
“Tornar uma pessoa magra apenas mudando as bactérias não é possível se ela continuar a comer muito”.
O livro está disponível em língua portuguesa, pois foi lançado em Portugal.
Ainda não existe previsão de lançamento no Brasil.
A autora, Giulia Enders, especialista no assunto em que todos evitamos
Confira a seguir um vídeo de apresentação da obra – em português.
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